sábado, 16 de julho de 2011

Como refletir menos...

                                  
                                        Para que refletir tanto?


Tédio: fastio, aborrecimento, desgosto.  Está lá no dicionário. Este sábado está entalado em minha alma. Ontem, insinuava-me uma intenção verbalmente entusiasmada em meu espírito. Hesitei em escrever sobre alguns temas que, agora, estão suspensos na lembrança. É possível que eu venha a esquecê-los. Talvez, seja melhor registrá-los aqui. Passearam-me algumas ideias sobre a origem das religiões, sobre a crença em deuses e demônios, sobre a relação visceral entre os humanos e os deuses. Também me pareceram atraentes os pensamentos sobre otimismo e pessimismo, que encontrariam alicerce numa pesquisa feita por uma psicóloga sobre o otimismo generalizante entre os homens e mulheres pós-modernos. A reportagem on-line foi viabilizada por uma amiga. Talvez, fosse interessante refletir sobre o que é ser otimista, pessimista e realista e que consequências acarretam essas atitudes nas relações interpessoais.
Aconteceu, contudo, que a intenção não fecundou. E, após visitar algumas comunidades de Orkut, em que passeiam livremente e sem suspeita os clichês de toda sorte, fiquei, sinceramente, desanimado. Às vezes, busco um retorno intelectual, um sinal mais ou menos interessante do espírito humano, nesses espaços (e já o encontrei certa vez); mas, hoje, o que li foi uma série de torneios verbais cansativos e agastados.
Então, uma amiga fez um comentário em uma de minhas últimas postagens, neste blog: “ultimamente, tenho refletido sobre como não refletir tanto”. Houve um tempo em que eu me incomodava com o excesso de reflexões que jorrava de minha alma; especialmente, quando elas não encontravam repercussão em outros espíritos.
Acho que devemos nos acautelar quando nos damos conta do fastio em face dessa capacidade tão desigualmente distribuída entre os homens. É que, muita vez, nós incorremos no equívoco de pensar que reflexões precisam ter finalidade prática. Algumas pessoas carecem de exercitar o pensamento reflexivo, como quem carece de beber água, de se alimentar, de dormir. Para muitos de nós, refletir é uma necessidade tão vital quanto essas necessidades biológicas. Pode parecer uma comparação equivocada – porque é claro que nossa vida depende mais destas do que daquela; no entanto, para muitos, refletir é fazer-se existir. A reflexão toca primeiro e intimamente a existência. Viver e existir são coisas diferentes.
No entanto, é claro que reflexões em demasia podem acarretar-nos aquela sensação de profundo desencanto, desgosto, aborrecimento, desilusão, simplesmente porque os espíritos que pensam e problematizam são mais lúcidos, esclarecidos. Quem reflete sofre mais, sente mais, porque se depara com a verdade, com a crueza do real.
É sempre melhor pensar em conjunto, compartilhar reflexões. Mas elas, em geral, são fecundadas na intimidade de nossos espíritos, resultam de um trabalho espiritual individual, se bem que nunca original. As minhas reflexões se esteiam nos terrenos das reflexões dos outros.
Quem não se inquieta não reflete. Quem não se incomoda e, portanto, vive comodamente no mundo e com o mundo não precisa dar-se ao trabalho de produzir reflexões.
Queria poder refletir mais sobre isso, amiga, mas a melhor forma de refletir sobre o como não refletir tanto é deixar que o silêncio preencha o espaço que seria destinado às reflexões. Deixemos que ele reflita por nós. O silêncio diz mais quando damos voz a ele.
Que ele povoe nosso espírito para que novas reflexões floresçam!

7 comentários:

  1. amigo,
    eu concordo contigo!
    e fico feliz pelo texto, refletido a partir de uma [minha] anti-reflexão! :s rs
    é q, como Descartes e vc dizem, e eu concordo: pensar é existir.
    só q a existência, às vezes, dói...

    beijo

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  2. é... eu diria, a existência quase sempre dói e dói mais naqueles que se preocupam em pensá-la...

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  3. A partir de um comentário seu no meu blog, refleti sobre você, seus posts e seus anseios e confesso que me peguntei em que contexto vc vive que as "possíveis candidatas " ao seu coração ainda não "descobriram" você.

    Surpreendente. Defeitos, todos temos, mesmo porque a perfeição é chatíssima,mas uma alma sensível e amorosa é para poucos.

    Bom domingo, querido Bruno.Que um alguém especial, que deve estar algures, chegue a tempo de ganhar seu coração.

    beijos e bom domingo.

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  4. A euforia e o desassossego é a inspiração dos escritores e poetas... É muito fácil acreditar na ideia já pré-estabelecida. Para algumas pessoas refletir ficou pra espelho, não se vê nada além da imagem que se apresenta através dele... Acreditam em sombras e ilusões, são eternas habitantes da caverna de Platão. Conheço várias assim... Enfim... Crise existencial Bruno ficou para pessoas excepcionais que não apenas “estão” nesse mundo. Refletir ficou para as mentes inquietas, inteligíveis e sensíveis que mergulham fundo e agilizam os pensares e propõem descobertas... Gostei do texto ele só mostra o quanto você “é” e como desempenha com maestria o seu papel nesse mundo.
    Bjusss
    Ps. A existência dói. Mas o sofrimento não é bíblico? rsrs

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  5. Caramba, o que é que posso dizer? Apaixonei-me pelo seu texto. E, de tanto tentar refletir sobre ele, acho que escorrego e tropeço na torrente de pensamentos que me vêm.
    Como diz, talvez seja mais sensato deixar que o silêncio fale por mim.
    Bem, posso convidar-te a ler minhas tumultuadas reflexões? são das mais simples e singelas, mas são a nutrição de minha alma.
    Deixo o link, caso queira.
    Parabéns pelo blog, gostei de ler.
    Até mais,
    Ana Pontes

    http://asoleneanapontes.blogspot.com/

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  6. Bruno,
    Sempre me encontro dentro de suas palavras. Sou uma pessoa extremamente reflexiva em tudo, meu mental se entrega, minha alma se alimenta das reflexões, não sei viver de outra forma e nem quero e sou também muito do silêncio que de certa forma para mim é a resposta de muitas reflexões. Obrigada sempre por seus preciosos textos! Um abraço carinhoso e fraterno pra vc!

    "Quem reflete sofre mais, sente mais, porque se depara com a verdade, com a crueza do real.

    Quem não se inquieta não reflete. Quem não se incomoda e, portanto, vive comodamente no mundo e com o mundo não precisa dar-se ao trabalho de produzir reflexões". BAR

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