Ao meu amor,
Assim se expressou Sponville, em seu Bom dia, angústia! (1997):
“As cartas de amor durarão mais tempo, muito amiúde,
do que o amor. Elas sobreviverão a ele. Estarão ainda aqui, se se quiser,
quando o amor estiver morto: atestarão o que tiver acontecido, o que
eternamente continuará verdadeiro, mas que talvez, sem a escrita, teríamos
esquecido ou perdido”.
(p. 39)
Perdi a
conta das cartas que já compus, das que duraram mais que o amor. Cartas em que
derramei minha alma, desnudei a emoção terna e fecunda do amor. Do amor
primaveril, que se doa sem grandes consequências. Crescemos e desistimos de
escrever cartas de amor. Elas testemunham uma ingenuidade que devemos superar,
porque é parte de nosso crescimento. O amor da maturidade não se insufla de
sonhos, mas ancora-se na solidez dos projetos. Todo amor aspira à eternidade,
escrevi eu, certa vez; mas é necessário morrer. E nosso esforço é fazer com que
a eternidade do amor caiba na finitude de nossa existência. Todo EU TE AMO,
produzido na verdade de nosso coração, é um sopro de eternidade. Dizer EU TE
AMO é a forma que encontramos para silenciar a angústia. Porque nada é eterno,
nem mesmo o amor. Que se amem intensamente na brevidade da vida é o que
desejam os amantes. Não nos cansamos de ouvir e dizer EU TE AMO; os apaixonados
sabem disso. Querem ouvir todos os dias essa frase; querem pronunciá-la. Ao
pronunciá-la, todos os dias, lembramos ao outro o compromisso; selamos nosso
acordo. Por vezes, me esforcei por formular metáforas que captassem bem a
densidade do amor que dediquei. Não careço mais delas, quando descubro que
posso dizer alegremente EU TE AMO. Amor e reciprocidade são sinônimos; isso
deveria ser evidente. Amor recíproco é redundância. Redundância do coração, que
se doa, que se entrega, que se derrama. EU TE AMO, é o silêncio do amor que se
impõe aos nossos corações. Isso é bastante, porque o amor é bastante.