segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação" (Fernando Pessoa - Livro do Desassossego)



                                                         
                                      A compra


A vida está lá fora, exigindo tanto de nós, de todos que vão e vêm apressados; alguns confinados em escritórios, numa ante-sala atendendo aos que chegam. E eu, em meu quarto, com dois livros diante de mim: O Livro do desassossego, de Fernando Pessoa e a mais famosa e principal obra do filósofo francês Jean Paul Sartre, O Ser e o Nada – ensaio de Ontologia e Fenomenologia. Li algumas linhas de Pessoa e me deparei com esta que já me descentrou:

"No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação" (p. 44)

Contenho-me para não analisá-la, assim conservo seu encanto, sua beleza, seu angustiante significado. E o livro de Sartre, ainda não o li, evidentemente. Mas corri os olhos por algumas páginas, como se estivesse a namorá-lo... não me demorei, mas fitei uma ou outra linha... E o que experimentei? Senti-me seduzido... sim, atraído para aquelas páginas que me revelarão tanta coisa... e o que espero? Espero delas nada apreender... e é possível que eu não compreenda mesmo nada do que lerei nelas...E não me importo com isso... Os especialistas ensinam que o discurso de Sartre nesta obra é obscuro, e impenetrável aos não-especialistas... Tanto faz... Ter este livro em minhas mãos dá-me um poder (não de opressão, não de soberba, mas de espírito, de vida, uma vontade de potência, diria Nietzsche), um prazer diante do qual as palavras se rendem.
E meu espírito se alarga, se esgarça e o mundo todo parece tão distante e pequeno (eu diria insignificante)... E, assim, absorto, permaneço, anestesiado com estes livros sobre o peito... pensativo... distante... “Diante de mim, um mundo a se desvendar, um universo a ser desbravado”... palavras que me saltam  e que se abrem com sede de sentido, cheias de significação... e eu diante delas, sedento de saber, e saber para ser, e ser para saber e ser mais, e saber mais e mais... e depois volto apenas a ser.

Um comentário:

  1. Quanto mais alta a sensibilidade, e mais sutil a capacidade de sentir..."
    Fico imaginando as inquietações e desassossego que esse livro provocará em ti. Simplesmente maravilhoso!
    Bjusss

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