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quinta-feira, 29 de março de 2012

"Não sei viver sem conviver com o meu coração" (BAR)


                         

                                  Experimentando-me

Agrada-me o retorno à sala de aula. Um teste que procura traçar o perfil psicológico de um candidato ao cargo de docência apontou como dois dos traços mais marcantes de minha personalidade a propensão aos relacionamentos interpessoais e a valorização do conhecimento. Fiquei feliz, porque o teste expressou, em parte, o que penso a meu respeito, ou melhor, porque expressou o que me revelam meus textos a respeito de mim. Ele confirmou serem o amor e o conhecimento os valores mais importantes para mim.
O teste consiste na avaliação pelo candidato de um elenco de frases que dizem respeito a modos de comportamento e valores do indivíduo enquanto pessoa e profissional. Na verdade, o teste busca traçar o perfil psicológico da pessoa, não sem apreciar sua postura profissional. Para cada enunciado elencado, são apresentadas frases valorativas do tipo “Isso é sempre verdade para mim”, “Isso é ocasionalmente verdade para mim”, etc. Para as frases modalizadas, atribuem-se dois valores numéricos em sequência, como “3” e “4”,  “4” e “5”, a fim de que o candidato possa graduar sua avaliação (para mais ou para menos).
A certa altura, a psicóloga perguntou-me se eu estou engajado em alguma causa social, isso porque ficou clara minha disposição para o favorecimento da coletividade. Disse-lhe que não estou afiliado a nenhum grupo preocupado com os interesses sociais, mas lhe revelei minha preocupação com o combate a toda forma de preconceito, mormente com o preconceito linguístico, por tocar à minha formação enquanto educador. Ela cuidou nobre e justa minha preocupação, acrescentando comentários pertinentes sobre o valor da linguagem para a vida social.
Eu prefiro não me afiliar a grupos com interesses sociais em comum, para não perder a visão da totalidade, cuja preservação só me parece possível quando contemplamos espiritualmente de fora. Por exemplo, se faço militância em favor da causa dos homossexuais, posso concentrar-me tanto nos interesses desse grupo que esqueço os interesses de outros segmentos cuja reivindicação também merece atenção, tais como a dos portadores de deficiência física, das mulheres vítimas de violência doméstica, dos segmentos menos favorecidos das comunidades carentes, etc. Assim é que, posicionando-me como quem vê panoramicamente uma cidade, posso olhar para a dimensão humana e nela reconhecer-lhe os interesses, segundo as formas como ela se estrutura nos diversos níveis e categorias sociais. A militância não me agrada muito, porque lhe falta o embasamento espiritual, que só é possível pela reflexão crítica prévia. Prefiro a práxis, que é ação social respaldada na teoria. Práxis significa “atividade”, “prática”, mas não de modo geral. Trata-se de um conjunto de práticas voltadas para a existência humana, que é existência social. Todos os problemas essenciais e concretos da vida humana tocam à práxis. Importam a ela os problemas práticos da vida, os problemas imediatos. A práxis tem um propósito transformador; é ação (social) transformadora. No entanto, a práxis sem teoria é cega. Penso realizá-la quando, em sala de aula, ensino sobre a complexa relação entre língua e sociedade, e sobre o preconceito linguístico.
Também lhe falei de minha dedicação à leitura filosófica, de meu interesse em conhecer mais sobre filosofia, e  de quanto o conhecimento provindo dessa área do saber humano ajudou-me a alargar minha compreensão da realidade.
E deixei o consultório satisfeito por ter podido reconhecer-me mediante uma experimentação psicológica e por ter sido revelada a mim a confirmação das conclusões a que chego a meu respeito. Assim, sinto-me conciliado comigo mesmo. E sigo (re)escrevendo-me...