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sábado, 22 de maio de 2021

"O homem trágico afirma ainda o mais acerbo sofrer: ele é forte, pleno, divinizante o bastante para isso". (Nietzsche)

                                                                


                                             Viver de verdade

 

 

A certa altura, depois que tematizou a questão da tirania, Schöpke assevera: “o que se deve temer, mais do que tudo, é não viver de verdade”. É neste instante que ao leitor se lhe apresenta a questão, que lhe perturba o silêncio: o que significa “viver de verdade”? Como sujeito de leitura, sou instado, pois, a significar. Viver de verdade significa, em primeiro lugar e antes de tudo, viver de modo verdadeiramente livre. Viver de verdade, ou seja, viver verdadeiramente livre, é viver sem temer vida, é viver liberto da angústia provocada pelos medos imaginários, que nos tiranizam e nos despotencializam. Viver de verdade é também afirmar continuamente nossa potência de viver, nossa alegria de viver, nosso querer viver incondicional e inapelavelmente. O viver de verdade é um viver potencializado, é o modo mesmo como nossa vontade se efetiva como potência, isto é, como alegria inquebrantável, alegria que renuncia às seduções da concessão, às tentações da apelação em face das intempéries, dos sofrimentos que sobre nós recaem. Viver de verdade é aprovar a vida incondicional e integralmente, é dizer sim a ela com a firmeza da vontade que quer seu eterno retorno, que, em face de uma dor atroz, da impermanência de todas as coisas, não recua em seu amor fati, em seu querer o real tal como é, em toda sua crueldade - nos dois sentidos em que por crueldade entende Rosset. Viver de verdade é renunciar a valer-se dos disfarces metafísicos, que nos prometendo o consolo da felicidade num além-mundo, tornam a vida suportável, sem torná-la amável e desejável. Nesse sentido, viver de verdade é recusar-se a viver no autoengano, tiranizado pelos embustes metafísicos e/ou religiosos. Em suma, viver de verdade é suportar “um “sim” sem mais senões ou meias vontades, sem mais trapaças e covardias”.  (Schöpke)