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sexta-feira, 22 de março de 2013

Memórias 3



                       Diante de mim: reexperienciando-me

"Pensei aqui me definir, mas toda definição, de certo modo, é uma tentativa de capturar o sentido; acontece que me defino pela própria indefinição; definir-me seria pretender enquadrar-me em alguma categoria de homens; não creio ser possível categorizar-me, pois o fundo de minha alma é o reverso da superfície rala do mundo". (BAR)

Experimento a inexpressividade concomitantemente com o ato de lançar sobre esta página estas tenras palavras. As inúmeras experiências de leitura de que me ocupo na maior parte do tempo de meu cotidiano, normalmente, fertilizam muitas ideias em minha alma; se não me apresso em imprimi-las por escrito, elas se perdem nas longínquas nebulosas de sentimentos de que aquela é feita.
Em meus textos, especialmente em poemas, está clara a minha inclinação romântica. O que significa, entretanto, ser romântico? Essa é a pergunta que me faço agora. Alfredo Bosi nos ensinará que o Romantismo, como movimento estético-literário que veio à cena nos fins do século XVIII, era a expressão dos sentimentos dos descontentes. Descontentes, no caso, eram aqueles que não estavam satisfeitos com as novas estruturas sociais de então.
Não é de Romantismo que tratarei aqui, evidentemente. A lição de Bosi foi trazida à cena, a fim de mostrar um aspecto do ser romântico que transcende o sentimento idealista que lhe é peculiar. O romântico é caracterizado, tradicionalmente, pelo sentimentalismo exagerado, pela efusão lírica, pela desmesura. Parece-me equivocado, no entanto, limitar o ser romântico a atitudes idealistas, à propensão ao imaginário utópico. Acredito que ser romântico é uma forma de projeção espiritual que abre caminhos imprevistos, que resiste ao status quo. Insatisfação é o ventre dos ideias românticos. O romântico não é piegas; não se identifica com alguém ingênuo que foge para seus universos imaginários em face da consciência da impermeabilidade das estruturas sociais a mudanças ( não nego as mudanças; elas existem em maior ou menor grau, dependendo do regime político de uma sociedade, é claro (sociedades totalitárias são engessadas, refratárias à mudança, por exemplo); na verdade, o que há, em vários momentos da história de sociedades (particularmente, as democráticas), é uma tensão dialética entre forças que tendem à transformação e forças que tendem à conservação). Pode-se ser um romântico engajado; aliás, esta me parece ser a condição do romântico pós-moderno: ser um romântico comprometido com os movimentos sociais de resistência.
Os caminhos que trilhei até aqui devem apontar para a ideia de que minha inclinação romântica impregna a totalidade dos meus atos existenciais. No magistério, ela é fundamental. Inicio cada período na faculdade onde leciono patenteando aos meus alunos o meu amor ao magistério. Se eu não amasse lecionar, não haveria motivação outra que me estimulasse a ser professor. Portanto, eu romantizo minhas experiências docentes. Disso não se segue que não reconheça os obstáculos que inviabilizam uma prática pedagógica orientada para uma finalidade emancipadora.
Vários de meus textos versam sobre temas bem variados; os mais marcantes são os de linguagem e de filosofia. É claro que, como minha formação acadêmica até o presente momento, em que faço doutorado, é na área dos Estudos da Linguagem, tecnicamente falando, na área de Linguística, evito fazer incursões densas nesse campo do conhecimento humano, visto que, se assim procedesse, acabaria por exigir uma classe de leitores especializados; na ausência destes, meus textos tornar-se-iam desinteressantes.
Como eu me considere um leitor híbrido, ou seja, um leitor que aprecia a leitura diversificada, conquanto cerceada pelos limites do engrandecimento intelectual, o que me faz excluir de meu escopo de interesses certos gêneros da literatura, acabo atrevendo-me a discutir sobre temas que não constituem alvo de estudos formais, isto é, acadêmicos. Não sou especializado em sociologia, em filosofia e em tantos outros domínios do saber humano em cujo interior meu espírito atrevido se aventura. Sinto-me, sinceramente, seguro nos estudos da linguagem. Isso, contudo, não me impede de alçar vôos sobre aqueles outros campos do saber, em cuja abundância posso colher flores.
Eu execro a vaidade acadêmica, comum a certos professores e pesquisadores de universidades. A titulação só importa em termos de aproveitamento do processo de ensino-aprendizagem. Na relação com os alunos, não importa se somos mestres ou doutores, ou se gozamos de prestígio na área de pesquisa científica; o que importa é o modo como conduziremos a prática pedagógica de modo a fomentar experiências de afetividade e de autonomia de pensamento tão caras ao sucesso do processo de ensino-aprendizagem.
A par de Paulo Freire, Rubem Alves é, para mim, o educador mais insigne de nosso país. Gostaria de convidar o leitor a ler o livro A alegria de ensinar (2008) deste grande educador, filósofo e intelectual de vanguarda que é Rubem Alves.  Neste livrinho, eu aprecio, especialmente, o capítulo intitulado de O Sapo. Entretanto, quero lançar algumas reflexões sobre um capítulo cujo conteúdo é pertinente ao desenvolvimento deste texto, a saber, Tudo o que é pesado flutua no ar.
Espero que o leitor apreenda a sensibilidade com que Rubem Alves propõe suas ideias. É esta sensibilidade que torna o elenco de textos de que se compõe este livro minas de conhecimento e de reconhecimento do papel do amor/alegria na atividade docente. Atentemos para o texto – Tudo o que é pesado flutua no ar.

“A mesa onde trabalho tem onze gavetas: cinco de cada lado e uma no meio. Nas gavetas laterais eu coloco as ideias que me aparecem, rabiscadas em pedaços de papel, cada uma delas no lugar que lhe pertence. Tem a gaveta da poesia, da psicanálise, das estórias infantis, da educação. Havendo tempo e desejo a gente vai lá, põe tudo em ordem, e a bagunça vira um livro. A gaveta do meio é diferente. Nela eu não arquivo ideias. Guardo objetos, os mais estranhos e inesperados. Por exemplo, um saquinho de bolinhas de gude. Para quê? Não sei. Faz tempo que não jogo bolinhas de gude.
Acho que eu as guardei lá pela mesma razão que os namorados de outros tempos colocavam uma flor entre as páginas de um livro: para preservar um momento de felicidade, perdido”.
(p. 71)

As gavetas de que nos fala o autor representam, em síntese, duas personas: a do intelectual-escritor, do homem habituado às letras e aos pensamentos; portanto, a do adulto que acumulou inúmeras experiências de vida; e a do “menino que só existe como saudade” (p. 72), ou seja, a da criança adormecida em sua alma. É na gaveta localizada na parte central da mesa que estão as bolinhas de gude, um brinquedo que remete aos tempos de infância. Ao se referir a essa gaveta, escreve o autor:

“De todas as gavetas, acho que essa é a que mais se parece com a nossa cabeça, baú entulhado com memórias de felicidade que tivemos. No mais das vezes tudo fica esquecido, na gaveta e no baú, pois as pressões da realidade deixam pouco tempo para o devaneio”.
(p. 72)

Note-se que ele nos convida ao rememorar nossos tempos de infância, tempos em que ele (e possivelmente muitos de nós, meninos) brincava com as bolinhas de gude. Entretido com as bolinhas, o autor-criança conhecia o mundo e este lhe aparecia como “um grande brinquedo”.

“E a culpada foi a Mariana. Acontece que ela começou a descobrir o mundo, e dentre todas as infinitas formas que a natureza esbanja, foi das bolinhas que ela se enamorou. Via bolinhas em tudo: ervilhas, moedas, brincos, botões, cerejas, lua, estrelas. Com o seu dedinho ia apontando enquanto a boca repetia a palavra mágica. Foi então que me lembrei das minhas bolinhas de gude. Escarafunchei a gaveta da saudade e fiz-lhe esta espantosa revelação: também eu brincava com bolinhas. Uma menininha e três bolinhas de gude. Ela brinca. Seus olhos e seus gestos revelam uma enorme alegria”.
(pp. 72-73)
Destacarei algumas ideias fundamentais do texto que o leitor, caso venha a lê-lo, poderá constatar por si mesmo. O autor entenderá o mundo como um grande brinquedo, donde se conclui que aprender deve ser uma atividade prazerosa, como uma brincadeira. A criança descobre o mundo e essa descoberta é feita de modo entretido. Para o autor, os professores devem ser como as bolinhas de gude: deve propiciar a criança o acesso ao mundo, não mediante esquemas pré-fabricados que engessam a sua criatividade, mas por meio de uma prática que estimule sua propensão ao lúdico e ao criativo. As disciplinas escolares não devem levar a uma finalidade prática, porque, segundo o autor,

“Brinquedo não serve para nada. Terminado, guarda-se as bolinhas de gude no saquinho e o mundo continua como era. Nada se produziu, nenhuma mercadoria que pudesse ser vendida, não se ganhou dinheiro, não se ficou mais rico. Pelo contrário: perdeu-se. Perdeu-se tempo, perdeu-se energia. Por isso que os adultos práticos e sérios não gostam de brincar. O brinquedo é uma atividade inútil”.
(p.72)

Apesar de sua inutilidade inerente, o brinquedo sempre nos é atraente; e isso se deve ao fato de ele propiciar alegria. Assim escreve o autor “felicidade é brincar (...) porque no brinquedo o corpo faz amor com objetos do seu desejo” (p. 74). A metáfora do ensino como brinquedo leva-nos a pensar sobre a prática pedagógica não como uma exigência do exercício do magistério, mas como uma experiência de alegria, já que

“Dizem que o trabalho enobrece. Poucos se dão conta de que ele embota, cansa e emburrece”.
(p. 74)

É claro que o autor não está sugerindo que deixemos de trabalhar para brincar; ensina-nos, na verdade, que devemos colher alegria em nosso trabalho e, como se dirige, particularmente, aos professores, reconhece que o trabalho destes é de ordem diferente do trabalho de outro profissional, digamos, de um funcionário público. Não estou depreciando o papel do funcionário público, evidentemente; estou apenas sugerindo que ensinar é um processo de formação de subjetividades que se abrem para o mundo e que nisto consiste a diferença entre o trabalho do professor e o trabalho de qualquer outro profissional. Não é possível ensinar se não cultivarmos alegria em nosso interior. Ensinar é doar-se, sem doação não há ensino. Para além de métodos, estratégias de ensino e conteúdos, deve haver a doação de humanidade a humanidades em qualquer ato de ensino.
Gostaria de destacar um momento do texto que me parece muito importante para a compreensão da proposta do autor, a saber, o momento em que Mariana passa a dominar a “varinha mágica” (palavra), graças à qual ela, enquanto indivíduo da espécie humana, levará extremas vantagens sobre espécies de animais que também brincam.

“O mundinho de Mariana é muito pequeno. Não vai muito além dos seus braços e da suas perninhas que mal aprenderam a andar. Ela brinca com coisas: bolinhas de gude, bonecas, panelinhas. Nisso ela se parece muito com os gatinhos, cães, potros, que também gostam de brincar. Mas ela já tem uma coisa que eles não têm – uma varinha mágica de condão que fará toda a diferença: ela está aprendendo a falar. A alegria não está só quando ela tem as bolinhas em suas mãos. Ela ri ao falar o nome, mesmo que não haja bolinha alguma por perto: ela brinca com as palavras”.
(p. 75)

O autor nos dá a saber, com muita sensibilidade, o que eu entendo como poder fascinante da linguagem, ou seja, a sua função de simbolização, pela qual tornamos o ‘ausente’ presente. A função do signo (palavra) é, justamente, esta: estar no lugar da coisa referida. O universo de Marina é, então, organizado conceitualmente graças ao poder das palavras; não viverá mais numa relação imediata com o meio; este será apreendido sob formas de simbolização. O mundo entrará em sua consciência pela força simbólica das palavras (em formas de “conteúdos”). Por isso, o autor nos ensinará que “pelo poder da palavra ela é capaz de brincar com coisas ausentes” e acrescentará “as palavras são brinquedos”.
Já tive a oportunidade de desenvolver este pensamento: as palavras são brinquedos. Alhures, externei quão entretido fico com as palavras. Escrever é, para mim, uma atividade lúdica, decerto. Brincar com as palavras é exercitar a prática do pensamento. O autor parece sugerir que é graças às palavras que podemos pensar, o que corrobora a ideia de que não há possibilidade de pensamento conceitual  fora dos quadros da linguagem.

“Pois é: ela aprendeu a pensar. E ao falar aprendeu a brincar com as palavras, ela aprendeu a brincar com coisas que não existem. E ao aprender a brincar com coisas que não existem aprendeu a pensar! Lembre-se do que disse Valéry: “O pensamento é, em resumo, o trabalho que faz viver aquilo que não existe”.
(p. 76)

Embora não seja possível fazer divagação neste terreno agora, a concepção segundo a qual pelo estudo da linguagem é possível compreender o modo como a mente humana se estrutura, enfim, como nós pensamos constitui uma tese a que me sinto decididamente inclinado. O psicólogo Steven Pinker, em seu livro Do que é feito o pensamento, mostrará como a língua fundamenta as nossas conceptualizações de mundo; as formas de pensá-lo, de compreendê-los são codificadas nas categorias que a nossa língua nos fornece. A linguagem é, certamente, um fenômeno sui generis, que perpassa todas as esferas de atividade humana.

Ensinar e ler

Ao longo desses quase dez anos de dedicação continuada aos estudos, conheci muitas teorias, li sobre muitos estudiosos da linguagem, muito embora ignore o pensamento de outros tantos. Atualmente, ensino algumas teorias, com vistas a contribuir para a formação teoricamente mais sólida dos futuros professores de português. Todavia, não abandonei a ideia de que o papel de todo professor de língua materna é desenvolver nos aprendizes as competências comunicativa e textual. Para tanto, ele deve promover uma prática pedagógica que contemple o ensino da língua em uso e que não se limite ao ensino da gramática tradicional orientado taxionomicamente. Este ou deve ser redimensionado, ou abandonado. Ainda que eu me sinta tentado a desenvolver essa proposição aqui, não o farei, porque ela implicará problemas que são de interesse de profissionais da educação, particularmente de professores de língua materna.
Sucede que, quando se dá aula a graduandos de Letras, está-se realizando uma atividade que visa à formação de professores que devem ser, antes de tudo, leitores e escritores (no sentido lato) atuantes. As aulas de português devem ser ministradas por leitores a futuros leitores. Ora, como ensinar a ler e a escrever, se quem o faz não está habituado a ler e a escrever? E no caso dos professores universitários, que ministram aulas de língua, como ensinar a ensinar a ler e escrever, se não se lê e escreve continuamente?
Em seu artigo Escrita, experiência e formação – múltiplas possibilidades de criação da escrita, que se acha no livro A experiência de leitura (2003), a professora Sonia Kramer, da PUC-Rio nos dá a saber

“A escrita do texto remete à escrita da história. Porém, muitos de nós, alunos e professores, não somos sequer leitores dos textos que escrevemos; outros, ao contrário, têm podido descobrir que reescrever o texto é reescrever a história das ideias que o geraram, registrando, transcrevendo, marcando o papel com esses traços, pontos, riscos. Ser leitor do próprio texto vincula-se à compreensão do que foi escrito em nós. Vemos, assim, que a escrita desempenha um papel central na constituição do sujeito.”
(p. 64)
(grifo meu)

Indagará, ao cabo desse parágrafo,

“Podemos tornar nossos alunos pessoas que lêem e escrevem, se não lemos e se temos medo de escrever?”

Entender a leitura e a escrita como experiências é permitir que se lance um olhar que as apreenda como formas de conhecimento constitutivo do que somos. Por isso, insisti, em alguns de meus textos, que a prática, ou melhor, a experiência de escrita deve ser uma forma de redescoberta de si mesmo, de autoconhecimento. Pensar a leitura e a escrita como experiências é compreender sua implicação no modo como nos relacionamos com o mundo, é inseri-las nas formas de nossas vivências. Ler e escrever deixa de ser um mero ato, uma atividade com finalidades pedagógico-burocráticas, para tornar-se espaços de reinterpretação de si mesmo e de nossas percepções de mundo. Ler e escrever são experiências constitutivas da sociabilidade.
A leitura silenciosa, feita individualmente, quando o espírito está recluso, permite-nos abstrair-nos do mundo e retornar a nós mesmos. Ler é, assim, permitir um encontro consigo mesmo e esse encontro é tão mais enriquecedor quanto mais perplexos ficamos em face das ideias e das percepções que nos são alargadas pelo texto. A leitura solitária exige-nos que coloquemos o mundo entre parênteses. É inegável que a escolha pelos livros seja um parâmetro de diferenciação (distinção) social. Formar leitores e indivíduos capazes de dominar a modalidade escrita da língua é um compromisso político ao qual não pode se furtar o professor. Isso se torna imperioso na medida em que reconhecemos a experiência de leitura como proclamadora da abertura do sujeito para o mundo. Ler é uma atividade telescópica, já que nos permite ver o que não nos é perceptível quando das vivências da cotidianidade. Vemos melhor quando estamos imersos em nossa solidão: a abstração de nosso espírito é fundamental para a compreensão mais aguçada e penetrante da realidade.
Sou um leitor-mosaico, visito e revisito o pensamento de autores bem variados. Figuram em minha agenda de leituras os pensamentos de Mx Weber, Émile Durkheim, Karl Marx, Sartre, Chomsky, Saussure, Rubem Alves, Leonardo Boff, entre outros muitos. Compreender a leitura e a escrita como experiências de vida que nos singularizam em meio à massa impessoal que compõe as sociedades modernas é o convite que faço ao leitor. Minha singularidade não está tanto no que sei ou no que penso saber, mas nas questões que suscito e no modo como as conduzo de modo a formar leitores cada vez mais experientes, perspicazes e capazes de reconhecer o valor desta faculdade que nos torna criaturas especiais: a faculdade da linguagem.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"Ser romântico é um movimento do espírito para a negação do mundo" (BAR)




Precisava compartilhar com meus leitores o que acredito ser a melhor descrição dos românticos. Abaixo, um poema que compus num tempo em que me deleitava erigindo versos sobre a melancolia e  as frustrações. Tempos felizes de legítimo pesar romântico!



O Homem medíocre - José Ingenieros

“Os idealistas românticos são exagerados porque são insaciáveis. Sonham o máximo para realizar o mínimo, compreendem que todos os ideias contêm uma partícula de utopia e perdem algo ao se realizar: em raças ou em indivíduos, nunca se integram como pensam. Em poucas coisas, o homem consegue chegar ao ideal que a imaginação assinala: sua glória consiste em avançar em sua direção, sempre inatingível.”

“[os idealistas românticos] são dionisíacos. Suas aspirações se traduzem por esforços ativos sobre o meio social ou por uma hostilidade contra tudo o que se opõe a seus palpites e sonhos. Constroem seus ideais sem conceder nada à realidade, recusando-se a ser tolhidos pela experiência, agredindo-a se ela os contrariar. São ingênuos e sensíveis, fáceis de se comoverem, acessíveis ao entusiasmo e à ternura; com essa ingenuidade sem falsidade que os homens práticos ignoram. Basta um minuto para se decidirem para toda a vida. Seu ideal cristaliza em firmeza inequívoca quando a realidade os fere duramente”.

(p. 26)

“Todo romântico prefere a flor ao fruto, pressentindo que este jamais poderia existir sem aquela. Os temperamentos que se acomodam sabem que a vida guiada pelo interesse brinda proveitos materiais; os românticos acham que a suprema dignidade está no sonho e na paixão. Para eles um beijo de uma mulher vale mais do que cem tesouros de Golconda [cidade da Índia onde sultões acumulavam inúmeros tesouros]”

(pp.26-27)

“O homem incapaz de cultivar paixões nobres evita o amor como se fosse um abismo; ignora que este purifica todas as virtudes e é o mais eficaz dos moralistas. Vive e morre sem ter aprendido a amar. Caricaturiza esse sentimento guiando-se pelas sugestões de sórdidas conveniências.”

(p. 27)



  

Ao coração que inda chora

Oh! Flébil coração, por que inda choras
Pelas Dafnes em cuja alma não existe
O amor virtuoso a que te devotas?
E dela colhes tua grinalda triste...

Vês que te fogem ao viso da ternura?
E como a viúva a teia do acasalamento
Teus versos tecem tua desventura
Dando ao zelo a face do sofrimento

Cessa o teu pulsar terrível, o canto erótico
À Solidão te rendas, por convencido
De que a esperança é insensata, o sonhar muito altivo!

E co’ a mesma efervescência de teu amor
Pesaroso, deixa de bater nesse peito inóspito
Que por te amar demais te desgraçou.

(BAR)

sábado, 12 de novembro de 2011

"Ser romântico é estar grávido de um amor que o mundo quer ver abortado" (BAR)

                                 

                                        Da poesia ao ser romântico

 
Dos livros colho saberes que lançam luz sobre questões que me ocorrem na vida cotidiana, porque meu espírito não se contenta com a vida: a condição humana sempre será desconfortante a quem deseja ter o mínimo de entendimento sobre ela. Quando escrevo um poema, após lê-lo várias vezes e concluir que exprime bem a dimensão de meu sentir, cuido que fiz vir ao mundo um pedaço de mim capaz de transcender. Normalmente, o poema acaba por unir-me as duas pontas da existência: a solidão que me fecunda o espírito, desdobrando-o em versos (estado necessário à labuta do coração, pois que ele silencia o mundo, dando asas à voz do eu-lírico); e o mundo, ou a vida exterior ao “eu”, que é, a despeito de dissimulações do espírito lírico, o fim a que se destina o poema. Todavia, sempre que escrevo um poema, nego, em alguma medida, o mundo: trata-se de uma condição necessária para escrever liricamente. A poesia lírica e mundo não se toleram. Sucede diferente com a poesia de cunho social; mas mesmo aí é preciso certo grau de abstração do sujeito: o eu-lírico se distancia do mundo, para tomá-lo como objeto de reflexão poética. Assim também o eu-lírico, que pretende dar vazão a seus estados de alma, a seus sentimentos, que pretende invadir-se a si mesmo, precisa, a priori, distanciar-se, para contemplar a si mesmo. Fazer poesia é ter encontro íntimo consigo mesmo. É no movimento antonímico, a saber, de “abstrair-se” e “expandir-se”, que o eu-lírico consegue alcançar certo estado de expurgação psíquico-emocional.

Durante alguns anos – e ainda hoje, decerto, se bem que com menos intensidade -, preocupei-me com duas questões que estão inextricavelmente relacionadas, qual seja, os relacionamentos e o ser romântico. A pergunta que me fazia, no que toca a este último tema, era: O que é ser romântico na sociedade contemporânea hedonista e individualista? Vejamos. Basta que liguemos a televisão, para assistir, em algum programa de auditório, que visa a promover relacionamentos amorosos, ao apresentador perguntar a algum dos espectadores ou participantes de um quadro como Vai dar namoro, por exemplo, se ele é romântico. Em geral, a resposta é, indubitavelmente, “sim” – e não poderia deixar de sê-lo, sob pena de ele ser desprestigiado pelo público feminino (em geral, esta questão dirige-se a um homem e aqui há um aspecto interessante: a mulher é, tacitamente, tomada como um ser romântico por definição, por isso não cabe a pergunta em relação a ela; o homem (pelo menos, o da sociedade moderna), ao contrário, é estereotipado como um ser não dado a sensibilidade exacerbada; portanto, como um não-romântico). Entretanto, é uma forma ideológica de compreensão, visto que mascara o fato de, por um lado, nem todas as mulheres serem românticas; por outro lado, de haver ainda homens românticos (ou, pelo menos, que encarnem vestígios de um ser romântico).

Após o “sim” do rapaz, então, desejoso de “desencalhar” (como se costuma dizer, porque “estar “encalhado”” é motivo de vergonha, tanto para homens, quanto para mulheres, em nossa sociedade), segue um coro de interjeições e aplausos que são sinais de que os valores românticos são ainda desejados e acolhidos, em que pese ao fato de que se tenha diluído a consciência de tais valores. Aqueles sinais, de qualquer modo, representam a aprovação da platéia, mais propriamente, das mulheres, é claro. Escusando-me de fazer uma avaliação preconceituosa (no sentido de que posso fazer juízos prévios que entram em conflito com os fatos), acredito em que, apesar de toda retórica favorável ao romantismo, de que se sabe apenas nos livros de literatura (e ainda aqui é um conhecimento restrito a uma classe social privilegiada), e que aprendemos na escola, parece haver certo esvaecimento desses valores nas experiências afetivas em nossa sociedade. Refiro-me especificamente às relações entre homens e mulheres com finalidade sexual. Então, afirmo novamente: nesta esfera, o sentido de ser romântico ou foi totalmente esvaziado, ou está ralo, carece de uma profundidade. É certo que ser romântico não é assumir uma atitude; não é, definitivamente, um estado de alma. De uma pessoa não se pode dizer romântica, porque, em certas circunstâncias, dá buquês de rosas, ou registra em papéis os rabiscos de uma paixão ou de um amor. Em algum momento de nossa vida, escrevemos cartas de amor, até que a maturidade nos convença de que foi um esforço inútil do coração, decorrente de um estado primaveril de nossa existência. No entanto, agrado-me de saber que existem pessoas que, após longos anos de casamento, ainda dedicam cartas de amor ao seu cônjuge; sinal de que, pelo menos, entre aqueles que pertencem a gerações anteriores, os valores românticos ainda sobrevivem; atualmente, os casamentos sequer chegam a um mês.

Ser romântico é um movimento do espírito para a negação do mundo. É um sentir e perceber a realidade segundo os ideais sublimados na alma. É interiorizar-se e descobrir na intimidade da alma o desejo pela fuga. É sentir que o mundo incomoda e que se é estranho em si mesmo. É sublimar a beleza da alma e do corpo. É prostrar-se ao ideal de fusão, de unidade e desejá-lo ardorosamente. É nutrir um amor dirigido, primariamente, para a alma, pois que a relação sexual, para o amor romântico, significa o arrefecimento do desejo. Porque o amor romântico é, necessariamente, o amor da carência, da impossibilidade; amor que, ao desejar, preenche seu vazio e nutre, e sustenta sua fragilidade. Ser romântico é ser enamorado da solidão anímica e fazer disso uma graça sobrenatural e inefável. É buscar nos ideais sublimados o único meio de se vincular a um mundo que veio antes e ao qual, pelo nascimento, se é condenado, porque, afinal, não se nasce membro de uma sociedade, nasce-se com a predisposição à sociabilidade. O romântico autêntico é ser sociável, embora inconformado; mas é, acima de tudo, um eleitor: pois seu coração elege, no meio da multidão, a alma cuja beleza e significância preencherão o vazio, ou antes, o sopro doloroso de sua existência.

Não vou elencar, como se poderia supor, as características famigeradas do romantismo, enquanto movimento estético-literário. Não me refiro ao romantismo como escola literária particular. Refiro-me à condição de existência do romântico típico ou autêntico. Não se trata, definitivamente, como se poderia concluir, tendo em conta uma visão utilitarista, de um estilo. Ser romântico não é um estilo de vida, porque os estilos podem ser escolhidos e duram enquanto durarem certas tendências valorizadas; e, como tudo na sociedade líquida, é efêmero, líquido, muda numa velocidade espantosa, também os estilos serão tão descartáveis quanto os celulares ou qualquer outra mercadoria de consumo. Talvez, venham-me acusar de conservador, já que pareço assumir uma visão antiga do romântico, que remonta à segunda metade do século XVIII. É provável que se possa falar em “românticos modernos”, que não precisam viver e sentir como Álvares de Azevedo, Byron, por exemplo; mas devem conservar, em sua alma, pelo menos três características: idealização-sublimação, escapismo (negação do mundo) e exagero (cantado e vivido por Cazuza). Portanto, um indivíduo não é propriamente um romântico se não se define por esses três aspectos; poderá ser até cortês, galanteador e educado; mas, para ser romântico, ele terá de haver-se consigo mesmo. Se, nesse confronto, admite ser o mundo aprazível, então não é romântico; se supervaloriza os obstáculos que turvam os anseios do coração, então não é romântico; se não bebe dos aromas que há na alma da pessoa a que seu coração se inclina e se não se embriaga na beleza dela; e se ama tão só carnalmente, se é escravo da tentação do corpo; se tão-só a ele destina seu desejo, se o prazer carnal é a finalidade última de sua astúcia, então não é romântico. Se o mundo lhe é bastante, se a vida é o limite de suas potencialidades, o ventre de seus desejos, então não é romântico; porque, para o romântico, o mundo não é o bastante e a vida é apenas o berço de seus ideais de amor sublime, que se torna, não raro, o cárcere (e há que transcendê-la, de algum modo). Se suas paixões não namoram a demência, a loucura; se seus amores não lhe provocam um terremoto de emoções e sensações imperiosas; se não impregna sua alma de impetuosidade lírica; se não se arremessa ao outro, desejando a unidade sobre-humana; se não busca com o outro a unidade transcendente; se a ideia de morte não lhe acarinha a alma; se não sofre com lágrimas que afogam todo seu sentir excelso, que lhe fincam no coração caminhos de tristeza abismal; se não se deleita com a beleza que se aninha sob a complexidade da matéria lasciva; se não “enxerga numa gotícula de água toda a complexidade do oceano” (BAR), então não é romântico. Se não é uma voz sufocada num tropel, um grito ofegante num mundo que lhe é tão estranho quanto medonho, se não sucumbe a lágrimas pesadas e lancinantes derramadas por amores esmeradamente nutridos pelo coração endoidecido, não é romântico. Pois o romântico, em síntese, se define pela busca máxima e apaixonada pela unidade transcendente através da negação da imanência de sua mundaneidade (imanência no sentido de ‘situação dada e não escolhida’).

O nascimento de um romântico é sempre um sopro sofrível, já que, ao descobrir-se vivo, iniciará sua busca insana e desenfreada pelo deleite amoroso que justifique sua vida e que torne afável a morte inevitável. Como a vida lhe seja um acidente que lhe obsta a fruição dos prazeres de seus ideais sublimados, a morte, ao termo do movimento impetuoso e funesto da alma sonhadora, se lhe torna a condição mais desejada graças à qual não só poderá livrar-se das dores que lhe pungiam a alma, quando esta estava imersa na corporeidade, como também graças à qual retornará a uma essência, que está predestinada a ser obscurecida pela luz da vida.

Para o romântico, que ama com a alma e para a alma encerrada no corpo, viver neste mundo é, deveras, uma condição de angústia. Não se é romântico, em suma, se não se vê às voltas com a angústia da existência.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Ser romântico é estar grávido de um amor que o mundo quer ver abortado" (BAR)

                            




Sobre o romântico


Na entrevista concedida a Jô Soares, em 1994, Renato Russo se diz romântico, após ter sido perguntado pelo apresentador se ele era um lírico. Jô aprecia a distinção entre ser lírico e ser romântico e esclarece: “o romantismo tem uma conotação de tragédia que o lirismo não tem”.
Uma pessoa razoavelmente instruída em Literatura, provavelmente, será capaz de reconhecer que temas como amor e morte, como fuga à ilusão amorosa, ao desencanto do real são constantes na literatura romântica. O Romantismo, como movimento estético-literário, é, tradicionalmente, estudado considerando-se três gerações através das quais se construiu a obra e o ideário romântico: 1ª geração se caracterizava pelo lirismo, subjetivismo, sonho, exagero, nacionalismo, idealização da mulher, do amor, da pátria. Nessa fase, a mulher era alçada à condição de anjo, sublimada, era considerada a virgem intocável, pura; era objeto de admiração, de veneração. O amor era o bem maior, sublime. A 2ª geração se caracterizava por um profundo sentimento de pessimismo e pelo gosto pela morte. Também a religiosidade e o naturalismo eram temas recorrentes. Embora fosse uma figura, então, alcançável, a mulher ainda era, nessa fase, pensada como fonte de uma felicidade inatingível. É sempre bom enfatizar que o amor romântico alimenta-se da alma e não do corpo. É à alma que ele se destina. "Páginas felizes são páginas em branco na história do amor romântico". O sofrimento é inevitável, já que a essência do amor romântico inclui o sofrimento. A segunda geração ficou conhecida como a geração do mal do século, visto que seus representantes derramavam sobre o papel denso sentimento de pessimismo, desilusão e melancolia. 
A 3ª geração é uma geração mais atenta aos problemas sociais, embora a crítica contemplasse uma grande dose de ironia e sátira. Nessa fase, a mulher ainda era idealizada, embora acessível.
Comuns às três fases do romantismo são a idealização, o egocentrismo, o subjetivismo, a exacerbação do sentimento ou o exagero lírico e o sublime. Convém insistir que o amor romântico é amor de desmedida, do exagero –  exagero tão bem cantado por Cazuza.
Anterior ao movimento conhecido como Romantismo (séc. XVIII), o Trovadorismo (séc. XII) serviu de modelo para o ideário romântico. Trovadores eram homens que compunham poesias melodiosas; as poesias, que eram cantadas, chamavam-se cantigas.
Uma cantiga merece destaque, para os fins que persigo neste texto: a cantiga de amor. Ela instaura uma relação de vassalagem entre o cavalheiro e a dama cujo amor aquele requestava. Essa dama era uma figura idealizada, sublimada e, portanto, inatingível. A ela se atribuía o título de senhora e o poeta trovadoresco punha seu coração a serviço dela. O poeta conservava o medo no coração e a dama rejeitava sua cantiga. Instaurava-se nessa relação a impossibilidade de realização do amor. Novamente aqui vê-se o amor como um ideal, como um desejo cuja satisfação estava fadada à impossibilidade.
Alguns estudiosos afirmam que a estética romântica se destaca pelo seu caráter atemporal, ou seja, foi um movimento que perdurou por séculos e que, ainda hoje, encontra raízes na literatura. Mas devemos lembrar que, talvez, o poema mais emblemático da rejeição dos valores românticos, com o surgimento de um movimento cultural, de caráter político, ideológico e literário, chamado de modernismo, na primeira metade do século XX, seja o poema-pílula de Oswald de Andrade, um dos grandes representantes do movimento modernista. O poema intitula-se de “Humor”:

Amor
Humor
(Oswald de Andrade)

Devemos ter em conta que o Romantismo aspirou à aliança entre amor e casamento. Melhor será dizer que o amor romântico foi, desde a sua origem, o amor-modelo para o casamento. Vejamos o que nos ensina a esse respeito a professora Isabel Osório, em seu livro O amor em palavras, o discurso amoroso em questão:

“O amor romântico, que surgiu a partir do final do século XVIII, (...) procurou unir amor e casamento. O início do amor romântico coincidiu mais ou menos com a emergência da novela, uma forma de narrativa recém-descoberta. Os ideais do amor romântico inseriram-se diretamente no pensamento que começava a surgir e vinculavam a liberdade e auto-realização. O amor sublime ainda predomina sobre o amor sexual. Embora o amor romântico abra um certo espaço à sexualidade, essa abertura não é tão grande ainda. Os ideias da virtude ainda são valorizados, só que agora virtude significa pureza somada às qualidades de caráter necessárias à mulher para o casamento”
(p. 67)
(grifo meu)

Em sendo um amor voltado para a alma, o amor romântico não encontrará na experiência sexual sua fonte de inspiração. De certo modo, parece haver um consenso entre os estudiosos que as aspirações românticas, o ardor que as anima, o ímpeto lírico tendem a arrefecer uma vez consumada a relação sexual. Uma vez correspondido, o amor romântico alcançará outra forma de ser: o amor philia (o da amizade). A euforia romântica dá lugar à afeição amistosa que, não deixando de basear-se no desejo sexual, encontrará no ser do outro um refúgio. Segundo Spinoza, essa forma de amor é “uma alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior”. Trata-se do amor como regozijo pela própria existência do outro.
No Banquete, uma das formas como se representa o amor é o amor-eros, ou seja, o amor da falta, da carência. Eros era filho de Penúria, a Pobreza. O amante busca no objeto de amor o que lhe falta. Segundo Alain, “amar é encontrar sua riqueza fora de si”. Nesse sentido, o amor identifica-se à paixão.
Se considerarmos o fato de que a representação do amor romântico encontra na alma sua fonte de inspiração e se considerarmos o fato de que essa forma de amor busca enaltecer as virtudes do ser amado, não nos será custoso admitir que, na modernidade líquida (em nossa era), o amor romântico é lançado por terra em face da ideologia que separa sexo de amor. Este último é encarado como uma experiência confusa, indiscernível e pouco tangível. Donde se segue a insistência em que “homens fazem sexo” e “mulheres fazem amor”.
Acontece que a história nos mostra que o amor, como um bem maior, como a virtude sublime, sempre aspirou à eternidade, à superação da morte. E, quando vivenciado, levava o espírito dos amantes ao arrebatamento, ao delírio, aos eflúvios da imaginação, do sonho. Por isso, numa época em que impera o efêmero e a supervalorização dos corpos, como forma de capital, é pouco provável que uma forma de amor, inspirada nas sutilezas do espírito, no gênio lírico, resista.
Com Bauman, em seu Amor líquido, ponho fim a este texto. Atente para as preciosas palavras do autor:

“O homo sexualis não é uma condição, muito menos uma condição permanente e imutável, mas um processo, cheio de tentativas e erros, viagens explanatórias arriscadas e descobertas ocasionais, intercaladas por numerosos tropeços, arrependimentos por oportunidades perdidas e alegrias por prazeres ilusórios”.
(p. 75)

O romântico é, por definição, a encarnação da negação do mundo; filho do exagero, encontra no amor o alento para a vida que caminha para a morte inevitável.