quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"Ser romântico é um movimento do espírito para a negação do mundo" (BAR)




Precisava compartilhar com meus leitores o que acredito ser a melhor descrição dos românticos. Abaixo, um poema que compus num tempo em que me deleitava erigindo versos sobre a melancolia e  as frustrações. Tempos felizes de legítimo pesar romântico!



O Homem medíocre - José Ingenieros

“Os idealistas românticos são exagerados porque são insaciáveis. Sonham o máximo para realizar o mínimo, compreendem que todos os ideias contêm uma partícula de utopia e perdem algo ao se realizar: em raças ou em indivíduos, nunca se integram como pensam. Em poucas coisas, o homem consegue chegar ao ideal que a imaginação assinala: sua glória consiste em avançar em sua direção, sempre inatingível.”

“[os idealistas românticos] são dionisíacos. Suas aspirações se traduzem por esforços ativos sobre o meio social ou por uma hostilidade contra tudo o que se opõe a seus palpites e sonhos. Constroem seus ideais sem conceder nada à realidade, recusando-se a ser tolhidos pela experiência, agredindo-a se ela os contrariar. São ingênuos e sensíveis, fáceis de se comoverem, acessíveis ao entusiasmo e à ternura; com essa ingenuidade sem falsidade que os homens práticos ignoram. Basta um minuto para se decidirem para toda a vida. Seu ideal cristaliza em firmeza inequívoca quando a realidade os fere duramente”.

(p. 26)

“Todo romântico prefere a flor ao fruto, pressentindo que este jamais poderia existir sem aquela. Os temperamentos que se acomodam sabem que a vida guiada pelo interesse brinda proveitos materiais; os românticos acham que a suprema dignidade está no sonho e na paixão. Para eles um beijo de uma mulher vale mais do que cem tesouros de Golconda [cidade da Índia onde sultões acumulavam inúmeros tesouros]”

(pp.26-27)

“O homem incapaz de cultivar paixões nobres evita o amor como se fosse um abismo; ignora que este purifica todas as virtudes e é o mais eficaz dos moralistas. Vive e morre sem ter aprendido a amar. Caricaturiza esse sentimento guiando-se pelas sugestões de sórdidas conveniências.”

(p. 27)



  

Ao coração que inda chora

Oh! Flébil coração, por que inda choras
Pelas Dafnes em cuja alma não existe
O amor virtuoso a que te devotas?
E dela colhes tua grinalda triste...

Vês que te fogem ao viso da ternura?
E como a viúva a teia do acasalamento
Teus versos tecem tua desventura
Dando ao zelo a face do sofrimento

Cessa o teu pulsar terrível, o canto erótico
À Solidão te rendas, por convencido
De que a esperança é insensata, o sonhar muito altivo!

E co’ a mesma efervescência de teu amor
Pesaroso, deixa de bater nesse peito inóspito
Que por te amar demais te desgraçou.

(BAR)

Um comentário:

  1. "Oh! Flébil coração, por que inda choras
    Pelas Dafnes em cuja alma não existe
    O amor virtuoso a que te devotas?
    E dela colhes tua grinalda triste..."

    Lembro-me desse tempo, do romantismo exacerbado de BAR, poetizava cada possível romance... rsrs, sempre fugindo das relações efêmeras e pueris... De repente percebeu, que os amores clássicos tais como de Aberlado e Heloísa, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, são histórias lindas, mas sem final feliz. Descobre que bom mesmo é estar com que se gosta pelo simples prazer de estar. Não interessa se a pessoa não leia Bachelard, desde que tenha docilidade e sensibilidade intelectual suficiente para falar sobre as coisas simples.
    Desculpe a ousadia é que às vezes me sinto tão cúmplice dos teus textos e poesias, talvez pelo muito que já li aqui, e hoje esse texto me trouxe um pouco de lembranças e nostalgia.

    Bjusss fagueiros! :)

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