Precisava compartilhar com meus leitores o que acredito ser a melhor descrição dos românticos. Abaixo, um poema que compus num tempo em que me deleitava erigindo versos sobre a melancolia e as frustrações. Tempos felizes de legítimo pesar romântico!
O Homem medíocre - José Ingenieros
“Os idealistas românticos são
exagerados porque são insaciáveis. Sonham o máximo para realizar o mínimo,
compreendem que todos os ideias contêm uma partícula de utopia e perdem algo ao
se realizar: em raças ou em indivíduos, nunca se integram como pensam. Em
poucas coisas, o homem consegue chegar ao ideal que a imaginação assinala: sua
glória consiste em avançar em sua direção, sempre inatingível.”
“[os idealistas românticos] são
dionisíacos. Suas aspirações se traduzem por esforços ativos sobre o meio social
ou por uma hostilidade contra tudo o que se opõe a seus palpites e sonhos.
Constroem seus ideais sem conceder nada à realidade, recusando-se a ser
tolhidos pela experiência, agredindo-a se ela os contrariar. São ingênuos e
sensíveis, fáceis de se comoverem, acessíveis ao entusiasmo e à ternura; com
essa ingenuidade sem falsidade que os homens práticos ignoram. Basta um minuto
para se decidirem para toda a vida. Seu ideal cristaliza em firmeza inequívoca
quando a realidade os fere duramente”.
(p. 26)
“Todo romântico prefere a flor ao
fruto, pressentindo que este jamais poderia existir sem aquela. Os
temperamentos que se acomodam sabem que a vida guiada pelo interesse brinda
proveitos materiais; os românticos acham que a suprema dignidade está no sonho
e na paixão. Para eles um beijo de uma mulher vale mais do que cem tesouros de
Golconda [cidade da Índia onde sultões acumulavam inúmeros tesouros]”
(pp.26-27)
“O homem incapaz de cultivar
paixões nobres evita o amor como se fosse um abismo; ignora que este purifica
todas as virtudes e é o mais eficaz dos moralistas. Vive e morre sem ter
aprendido a amar. Caricaturiza esse sentimento guiando-se pelas sugestões de
sórdidas conveniências.”
(p. 27)
Ao coração que inda chora
Oh! Flébil coração, por que inda
choras
Pelas Dafnes em cuja alma não
existe
O amor virtuoso a que te devotas?
E dela colhes tua grinalda
triste...
Vês que te fogem ao viso da
ternura?
E como a viúva a teia do
acasalamento
Teus versos tecem tua desventura
Dando ao zelo a face do
sofrimento
Cessa o teu pulsar terrível, o
canto erótico
À Solidão te rendas, por
convencido
De que a esperança é insensata, o
sonhar muito altivo!
E co’ a mesma efervescência de
teu amor
Pesaroso, deixa de bater nesse
peito inóspito
Que por te amar demais te
desgraçou.
(BAR)
"Oh! Flébil coração, por que inda choras
ResponderExcluirPelas Dafnes em cuja alma não existe
O amor virtuoso a que te devotas?
E dela colhes tua grinalda triste..."
Lembro-me desse tempo, do romantismo exacerbado de BAR, poetizava cada possível romance... rsrs, sempre fugindo das relações efêmeras e pueris... De repente percebeu, que os amores clássicos tais como de Aberlado e Heloísa, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, são histórias lindas, mas sem final feliz. Descobre que bom mesmo é estar com que se gosta pelo simples prazer de estar. Não interessa se a pessoa não leia Bachelard, desde que tenha docilidade e sensibilidade intelectual suficiente para falar sobre as coisas simples.
Desculpe a ousadia é que às vezes me sinto tão cúmplice dos teus textos e poesias, talvez pelo muito que já li aqui, e hoje esse texto me trouxe um pouco de lembranças e nostalgia.
Bjusss fagueiros! :)