domingo, 25 de novembro de 2012

"A leitura aquece o espírito" (BAR)



                   
                      Aos que não gostam de ler

Tenho pena das pessoas que não gostam de ler. E o afirmo mesmo que, aos meus leitores, lhes pareça haver camuflada nesta confissão uma robusta presunção minha. Não obstante, não tenho eu qualquer pretensão de sustentar alguma verdade. E me permito enunciar alguma idiotice aqui ou ali neste texto.
Tenho pena das pessoas que não gostam de ler e que não leem, porque, por alguma razão para cuja exposição, talvez se congreguem fatores socio-culturais e genéticos, estão privadas do alargamento de sua percepção e compreensão das ocorrências do mundo, uma compreensão que envolve o aperfeiçoamento do pensamento que pensa sobre aquilo que é capaz de produzir. Refletir é pensar o já pensado. Tenho pena das pessoas que não leem, porque dizem simplesmente não gostar, porque se privam de (re)pensar suas próprias ideias, crenças, opiniões, convicções e supostas verdades inquestionáveis. Tenho pena delas porque elas tenderão a viver a vida inteira orientando seus comportamentos e pensamentos pelo senso-comum. Tenho pena delas também porque serão mais facilmente ludibriadas.
Tenho pena delas muito porque não descobriram o valor dos livros num tempo chuvoso como este em que escrevo, tempo em que o tédio costuma aninhar-se na alma. A leitura é um remédio muito eficaz contra o tédio e o desalento em dias em que o céu parece conspirar contra nossa necessidade neurótica de felicidade - felicidade que aceitamos como um fato, como experiência sempre possível e inquestionável, a despeito da condição humana. Minha saudosa avó paterna já me dizia antes mesmo de eu ter tomado conhecimento de que dissera a mesma coisa Rubem Alves: “a felicidade não existe; o que existem são momentos de alegria”. Eu acrescentaria, ratificando esta lição da sabedoria e da lucidez que minha avó compartilhava com Rubem Alves, sem o saber: “felicidade não existe, o que existe é a alternância entre estados de alegria e estados de tristeza, estados de bem-estar e estados de sofrimento, entre entusiasmo e tédio”. Também estou convencido de que a felicidade é um dentre os ideais acalentados pelo espírito humano. As alegrias me parecem mais factíveis, porque concretas, mas não menos frágeis em face do sofrimento que pode, a qualquer momento, se abater sobre nós.
Mas só chegarão a refletir sobre isso os que gostam de ler e o fazem assumindo a possibilidade do prazer. Tenho pena dos que não gostam de ler e que vivem a se queixar do tédio que lhes abate a alma, porque lhes custa aceitar que a leitura possa entreter.

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