domingo, 11 de novembro de 2012

"A fragilidade da vida pesa na quantidade de lágrimas que derramamos por ela" (BAR)

   

                        




                                                  Lágrimas saudosas

Enquanto cantava Nana Caymmi, lágrimas escorriam dos olhos de meu avô. A canção que embalava sua saudade era “Lembra de mim”. Belíssima música! A memória de minha avó, recentemente fenecida, ocupava totalmente sua alma e coração. Compadecido de sua dor, beijei-lhe uma das mãos e sussurrei: ‘vocês um dia vão se reencontrar’, ao que se seguiu um abafado ‘Se Deus quiser’. Foi quando lamentei que seu desejo estivesse projetado numa ilusão.
Quão forte e arraigado é este desejo! O desejo de reencontrar as pessoas que amamos e que já não estão mais entre nós! Tamanha a sua força, que reprimimos a ideia de que pode não haver uma vida além-túmulo. Quantos levam em conta a possibilidade de que a morte seja realmente o fim da única vida que nos foi possível? Num sentido metafísico, misteriosamente possível. Para muitos, a ideia de que todos os laços de amor que foram formados na vida serão completamente dissolvidos quando morrermos, sem ter chance de reatá-los numa existência outra é, deveras, angustiante.
Sinceramente, não posso descartar aquela ideia, tampouco posso calar o desejo de inesgotabilidade da vida. O sentido está em viver, seja na condição de seres autoconscientes e conscientes de sua própria finitude, seja em condições supra-sensíveis que eu simplesmente ignoro. Vivamos sem demasiada ilusão. Tenho-me esforçado por desiludir-me. A morte chega para todos; mas a vida continua para muitos. Vida-morte-vida-morte-morte-vida – assim se insinua à nossa experiência o Mistério – um Vazio impreenchível, imperscrutável, impenetrável, pelo menos enquanto há vida plena de consciência e lágrimas para suportá-la.

Um comentário:

  1. Vou lendo essas notas e me deixando levar, ela desce profundamente em minha mente e me convida a um debate. A verdade é que o ser humano na certeza da finitude desenvolve o mecanismo de defesa na crença da vida após a morte. Pensar que poderemos rever as pessoas que amamos nessa vida, é um elemento “compensador” diante da perda.

    Vida pós-morte... Morte pós-vida... Concordo que a única certeza que temos é a fragilidade da vida, e a possibilidade de aproveitá-la ao máximo é tudo que há. Independente de crença, religião, o melhor mesmo é mergulharmos no cotidiano, e viver a vida em sua plenitude, como diz o poeta “como se não houvesse o amanhã.”

    Sinto muito por sua avó!
    Bjusss

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