segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Um dia, talvez, eu venha a desabitar-me, e então me reconhecerei" (BAR)







Mudança


Gosto da noite sem lua
Nebulosa e fria
Da noite invernal
Que me lança sobre a alma
Uma alegria fina,
Que me cai bem
Como uma veste branca de seda

Gosto da noite com sereno
Que embala e faz dormir
Um sono denso, inconsolável
Gosto da noite silenciosa
Fúnebre como um corvo
Gosto da noite desbotada
Com suas horas murchas

Gosto da noite vazia
Com seu espesso véu

[que se oculta

Com finas gotas de lágrimas
Caídas das pálpebras do céu
Gosto da noite que dorme tranquila
Enquanto sonho e me perco
[numa rua e caminho

Por uma estrada sombria
                         
                               (BAR)

Quem sou eu?
Uma lembrança
Que ainda não nasceu.
(BAR)

canal Viva da tv fechada está reprisando a novela Vamp, exibida pela Rede Globo, em 1991. Gosto de rever essa novela, porque, entre outras coisas, faz-me recordar-me de um tempo tão gostoso de minha infância. Lembro-me de que colecionei, junto de meus primos, o álbum de figurinhas com as personagens da trama. E posso hoje me divertir novamente com a atuação de Ney Latorraca no cômico papel do Conde Vladymir Polanski. A trilha sonora da novela também era ótima.
Lembro-me de que brincava com meus primos de vampiros. Colocávamos aqueles dentes de plástico, que comprávamos em lojas de artigos para festas. Em 1991, contava eu nove anos. E não posso evitar esse sentimento nostálgico.
A lembrança do passado infantil traz-me à consciência o homem que me tornei. Tenho procurado não me confrontar comigo mesmo. Esse confronto legou-me muitas páginas tristes durante anos. Percebo que meus poemas atuais não trazem presa às suas notas a melancolia. Eles têm mais leveza, inspiram ânimo; são mais sutis, delicados, ternos.
Outrora, meus versos serviam à expressão das cicatrizes de minha alma, que então estivera desgastada. Por mais belos que possam ser, eles hoje me cansam. Não consigo lê-los.
De fato, eu mudei; ligeiramente, mas mudei. Minha atitude diante da vida não é a mesma; o pessimismo que, dantes, caminhava pelas largas avenidas enevoadas de minha alma, sucumbiu ao meu brio.
No entanto, ainda acho que preciso mudar mais um pouco. Talvez, mude o coração de lugar. Faça alguma arrumação no seu interior. Talvez, faça ainda uma faxina na alma. Varra para fora alguns sentimentos despedaçados; e arraste algumas saudades pesadas, como quem arrasta móveis de um lugar para outro.
Começarei fazendo uma viagem, assim que puder. Chamarei um amigo para me fazer companhia, pois que a solidão ainda me assusta. Quero estar num lugar onde possa olhar o horizonte e deixar meus olhos perdidos; um lugar onde, à noite, possa sentir invadindo-me a alma toda a força da vida – aquela mesma força intensa, avassaladora, inebriante, vibrante que sentimos quando amamos.
Quero saborear o simples, o frágil, o delicado, o sereno da vida. Por alguns momentos, quero desafogar-me das incumbências, das obrigações, dos horários que martelam. Quero olhar o futuro e ignorá-lo. O futuro? É a não-consciência, eu não existo ainda. O meu “eu” de hoje ainda não foi apresentado ao meu “eu” do futuro. Que é o futuro senão o presente adiado?
Há tantas coisas que gostaria de fazer, de ter feito... E muitas coisas deixei de fazer, mas sempre consciente de que assim escolhi... Acho que há uma idade em que temos de fazer escolhas e uma idade em que podemos determinar nossas escolhas... Acho que cheguei a esta idade...
Então, decidi escolher-me. Decidi escolher o meu presente, um presente que me escapa a cada nova manhã. O tempo gosta de jogar dados, mas eu há muito abandonei o jogo. Eu sou o meu tempo. E sinto atravessar um tempo precioso: o do amadurecimento do coração.
Ainda farei aquela viagem, quem sabe para visitar amigos distantes. Quem sabe lá reencontro a criança que brincava feliz e que dorme em mim esquecida?

2 comentários:

  1. que poesia embriagante! =)

    que feliz pelas mudanças internas! =))

    que pena que não fazem mais novelas como antigamente... =(
    rs

    beijo, querideza

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  2. Oi Bruno, ás vezes é preciso a gente se perder para poder se reencontrar novamente. Toda mudança é díficil, mas importante. Na verdade eu tenho dúvidas se a essência do coração a gente muda ou isso é impossível. O importante é como você disse, encontrar a criança feliz que fomos um dia e não deixar ela partir nunca mais, ás vezes nem precisamos ir muito longe, ela pode estar apenas dormindo em algum cantinho escondida...

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