sábado, 18 de junho de 2011

Um leitura de Jabor

    Relacionamentos
          Um sobrevôo do espírito

Estive na PUC para dar uma palestra esta semana. Participei de um congresso de PLE (Português língua estrangeira). Convinha aproveitar a oportunidade para não só divulgar o tema de minha tese de doutoramento, mas também enriquecer um pouco mais o currículo. Lá encontrei alguns colegas com os quais compartilhei bons momentos no curso de especialização e nas aulas presenciais do doutorado. Bons tempos! Aproveitei para comprar dois livros, com preços promocionais. Essa é outra vantagem de ir a congressos. Senti-me contente e minha alma imbuiu-se de um espírito acadêmico que me agrada, se bem que eu dispense a vaidade peculiar aos indivíduos desse meio.
Bem, mas não é à minha satisfação acadêmica que reservo estas palavras. Quero escrever sobre o texto de Arnaldo Jabor, intitulado de relacionamentos – texto a mim oferecido pela dileta amiga Cláudia, a quem agradeço. Não se trata de uma análise, mas apenas de uma ligeira reflexão. Nada densa. Será um sobrevôo tênue e superficial de meu espírito.
Há tanta verdade nas palavras dele, que me assusto. Digo, fico perplexo, emudecido. Confesso que me custa escrever este texto. Que tenho eu a acrescentar em face de “Não fique com alguém (...) por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós”?
Acho que a significação das crônicas de Jabor é o seu poder de dizer o essencial. Esse essencial é, muita vez, expresso na sua forma nua e crua, sem mais colorido, sem contornos românticos. O prova a passagem “Na vida e no amor, não temos garantias”.
Agrada-me também a passagem:
“Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele”.

E o que dizer desta outra?
“E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.”

Não a completude, pois que somos pessoas inteiras, mas sim o acréscimo. Um relacionamento amoroso, para mim, hoje, deve acrescentar, e não subtrair, tampouco completar; pois que solidão não é falta, nem ausência; é presença plena de si mesmo.
Outra mais:

“Existe gente que precisa da ausência para querer a presença”

O que nos ensina Jabor? Muita coisa, é claro. Que o amor é prática, é convívio, é carne, é desejo, que o amor não é uma aritmética e que, assim como a vida, é imprevisível. Que o amor deve ser vivido no tempo e não projetado para além do tempo, para um vazio de um tempo que ainda não somos. Que não se preenche a ausência de uma experiência amorosa com outra experiência amorosa imediata. O amor acontece, não se procura. Namoro é envolvimento. Amor é sexo e pouco importa a posição. Amor é reciprocidade de duas individualidades que se acrescentam e não se completam.
Amor não deve preencher um vazio, deve inundar nossa alma de graça.
Em suma, que o amor, na fase adulta, deixa as regiões imaginárias do espírito juvenil encantado e sonhador, para habitar o concreto da realidade com suas flutuações, intempestividades, inconstâncias e desacordos. Eis o amor maduro, aquele que não nos vem empacotado, embrulhado e pronto para caber na simetria de nosso coração. Na fase adulta, o amor é um projeto, cujo valor, para alguns de nós, se medirá pelo quanto nos permitimos nos envolver, a despeito de suas deformidades.



3 comentários:

  1. Boa noite poeta!
    Tá explicado o seu sumiço do blog.... Já estava fazendo falta as leituras daqui... Sublinho todos os fragmentos e adorei a releitura que fizestes deles. Como sempre perfeito! Bjusss

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  2. Essa frase veio na hora certa pra mim: “Não fique com alguém (...) por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós”? Essa é uma verdade da vida.
    Esse trecho também é verdadeiro: "Existe gente que precisa da ausência para querer a presença” tem pessoas que só querem o que não tem mais, muito triste, infelizmente meu ex marido era assim, quando estava comigo queria o passado dos tempos de faculdade, quando ele pensava que eu estava começando a me relacionar com alguém me procurava fazendo juras de amor.O bom que a gente aprende com os erros dos outros, e como eu tinha percebido isso há tempos, fiz da minha vida diferente: quero amar a presença e quando vier a ausência quero estar em paz.
    Beijos, boa noite!!!

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  3. Bruno,

    Mais um texto perfeito...suas palavras dão ainda mais valor, credibilidade, maior ênfase ao tema proposto por Jabor...obrigada..pelas preciosas pérolas...aprendizados da vida - impermanência constante de tudo...nada está sob nosso controle e a nossa missão aqui nesse plano é aprendermos a AMAR!

    Beijo carinhoso
    Rose

    "Que o amor deve ser vivido no tempo e não projetado para além do tempo, para um vazio de um tempo que ainda não somos. Que não se preenche a ausência de uma experiência amorosa com outra experiência amorosa imediata. O amor acontece, não se procura. Namoro é envolvimento. Amor é sexo e pouco importa a posição. Amor é reciprocidade de duas individualidades que se acrescentam e não se completam.
    Amor não deve preencher um vazio, deve inundar nossa alma de graça. BAR

    " quero amar a presença e quando vier a ausência quero estar em paz". Cláudia

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