Um sobrevôo do espírito
Estive na PUC para dar uma palestra esta semana. Participei de um congresso de PLE (Português língua estrangeira). Convinha aproveitar a oportunidade para não só divulgar o tema de minha tese de doutoramento, mas também enriquecer um pouco mais o currículo. Lá encontrei alguns colegas com os quais compartilhei bons momentos no curso de especialização e nas aulas presenciais do doutorado. Bons tempos! Aproveitei para comprar dois livros, com preços promocionais. Essa é outra vantagem de ir a congressos. Senti-me contente e minha alma imbuiu-se de um espírito acadêmico que me agrada, se bem que eu dispense a vaidade peculiar aos indivíduos desse meio.
Bem, mas não é à minha satisfação acadêmica que reservo estas palavras. Quero escrever sobre o texto de Arnaldo Jabor, intitulado de relacionamentos – texto a mim oferecido pela dileta amiga Cláudia, a quem agradeço. Não se trata de uma análise, mas apenas de uma ligeira reflexão. Nada densa. Será um sobrevôo tênue e superficial de meu espírito.
Há tanta verdade nas palavras dele, que me assusto. Digo, fico perplexo, emudecido. Confesso que me custa escrever este texto. Que tenho eu a acrescentar em face de “Não fique com alguém (...) por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós”?
Acho que a significação das crônicas de Jabor é o seu poder de dizer o essencial. Esse essencial é, muita vez, expresso na sua forma nua e crua, sem mais colorido, sem contornos românticos. O prova a passagem “Na vida e no amor, não temos garantias”.
Agrada-me também a passagem:
“Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele”.
E o que dizer desta outra?
“E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.”
Não a completude, pois que somos pessoas inteiras, mas sim o acréscimo. Um relacionamento amoroso, para mim, hoje, deve acrescentar, e não subtrair, tampouco completar; pois que solidão não é falta, nem ausência; é presença plena de si mesmo.
Outra mais:
“Existe gente que precisa da ausência para querer a presença”
O que nos ensina Jabor? Muita coisa, é claro. Que o amor é prática, é convívio, é carne, é desejo, que o amor não é uma aritmética e que, assim como a vida, é imprevisível. Que o amor deve ser vivido no tempo e não projetado para além do tempo, para um vazio de um tempo que ainda não somos. Que não se preenche a ausência de uma experiência amorosa com outra experiência amorosa imediata. O amor acontece, não se procura. Namoro é envolvimento. Amor é sexo e pouco importa a posição. Amor é reciprocidade de duas individualidades que se acrescentam e não se completam.
Amor não deve preencher um vazio, deve inundar nossa alma de graça.
Em suma, que o amor, na fase adulta, deixa as regiões imaginárias do espírito juvenil encantado e sonhador, para habitar o concreto da realidade com suas flutuações, intempestividades, inconstâncias e desacordos. Eis o amor maduro, aquele que não nos vem empacotado, embrulhado e pronto para caber na simetria de nosso coração. Na fase adulta, o amor é um projeto, cujo valor, para alguns de nós, se medirá pelo quanto nos permitimos nos envolver, a despeito de suas deformidades.
Boa noite poeta!
ResponderExcluirTá explicado o seu sumiço do blog.... Já estava fazendo falta as leituras daqui... Sublinho todos os fragmentos e adorei a releitura que fizestes deles. Como sempre perfeito! Bjusss
Essa frase veio na hora certa pra mim: “Não fique com alguém (...) por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós”? Essa é uma verdade da vida.
ResponderExcluirEsse trecho também é verdadeiro: "Existe gente que precisa da ausência para querer a presença” tem pessoas que só querem o que não tem mais, muito triste, infelizmente meu ex marido era assim, quando estava comigo queria o passado dos tempos de faculdade, quando ele pensava que eu estava começando a me relacionar com alguém me procurava fazendo juras de amor.O bom que a gente aprende com os erros dos outros, e como eu tinha percebido isso há tempos, fiz da minha vida diferente: quero amar a presença e quando vier a ausência quero estar em paz.
Beijos, boa noite!!!
Bruno,
ResponderExcluirMais um texto perfeito...suas palavras dão ainda mais valor, credibilidade, maior ênfase ao tema proposto por Jabor...obrigada..pelas preciosas pérolas...aprendizados da vida - impermanência constante de tudo...nada está sob nosso controle e a nossa missão aqui nesse plano é aprendermos a AMAR!
Beijo carinhoso
Rose
"Que o amor deve ser vivido no tempo e não projetado para além do tempo, para um vazio de um tempo que ainda não somos. Que não se preenche a ausência de uma experiência amorosa com outra experiência amorosa imediata. O amor acontece, não se procura. Namoro é envolvimento. Amor é sexo e pouco importa a posição. Amor é reciprocidade de duas individualidades que se acrescentam e não se completam.
Amor não deve preencher um vazio, deve inundar nossa alma de graça. BAR
" quero amar a presença e quando vier a ausência quero estar em paz". Cláudia