terça-feira, 7 de junho de 2011

Amor é prosa, sexo é poesia (Arnaldo Jabor)

                          



A pedofilia na Igreja
é consequência do celibato
                                           Arnaldo Jabor

Aprecio os escritores de excelência intelectual e que põem a nu seus pensamentos sem excessivos cuidados. Um desses escritores admiráveis é o colunista, comentarista e cineasta Arnaldo Jabor. Aprecio as crônicas de Jabor; aliás, tudo que expõe no ar no Jornal Nacional, exceto quando seus comentários se referem a questões sociolinguísticas. Nesse tocante, ele acaba por reproduzir os lugares-comuns e toda sorte de crenças, ideologicamente sustentadas, típicas do senso-comum. Mas, salvo isso, ele é um intelectual insigne.
Vou-me ocupar com a exposição de sua crônica A pedofilia na Igreja é consequência do celibato, que se topa no livro Amor é prosa, sexo é poesia. Quem não leu ainda este livro leia-o, pois é muito bom! Comecemos pelo título.
O título é já a sua tese: o celibato imposto aos padres acarreta a pedofilia. Jabor iniciará seu texto com as seguintes palavras:

“NO VELHO COLÉGIO de padres onde estudei, a entrada dos alunos já era um desfile de velada pedofilia. O padre-reitor – ahh... tempos antigos de batina negras, rosários nas mãos, panos roxos nos ombros, tristeza infinita nas clausuras – postava-se imóvel, na porta do colégio, numa pose severa, com os braços erguidos e as mãos de dezenas de meninos, beijando servilmente suas mãos abençoadas. Havia algo de viadagem naquilo, aquela negra batina imóvel, divina, como um manequim, as mãos beijadas com chilreios e devoção por mais de 500 meninos de calças curtas”
(p. 115)

E prossegue:

“Só se pensava em sexo naquele colégio. Eu via as mães dos alunos, lindas, com seus penteados e decotes imitando a Jane Russel ou a Ava Gardner, fazendo charme para os padres na força de seus verdes anos, enlouquecidos pela castidade obrigatória. E eu me perguntava: “Meu Deus... por que padre não pode casar?”
(pp. 115-116)
(grifo meu)

É uma boa pergunta esta que Jabor nos faz, não? Mas não sei se vale dar uma resposta sensata. À medida que nos permitimos entender o universo religioso, nos seus âmbitos ideológico, ritualístico, dogmático e ficcional, mais nos apavoramos com a sua indecência e fragilidade, para não dizer absurdo. A religião é um atentado contra a razão humana. Como bem diz o jornalista Christopher Hitchens, em seu best-seller deus não é Grande, a religião contamina tudo. Sugiro a leitura deste livro.
Mas, prossigamos. Escreve Jabor:

“Tudo era sexo no colégio, essa palavra terrível estava em toda parte, como uma ameaça vermelha; o diabo nos espreitava até detrás das estátuas de Santa Teresa em êxtase, nas coxas dos anjinhos nus, nos seios fervorosos das beatas acendendo velas. A pedofilia na Igreja é consequência direta do celibato. É óbvio que se a força máxima da vida é esmagada, a Igreja vira uma máquina de perversões. Claro. E de homossexualismo, visível em qualquer internato religioso. Outro dia, o Contardo Calligaris escreveu com paixão que a pedofilia não está só na carne do jovem assediado; a pedofilia é mais geral, abstrata, no prazer do domínio sobre os mais fracos, na pedagogia infantilizante das jovens ovelhas – como nos chamam os pastores de Deus – imoladas em sua inocência. Eu vi o diabo naquele colégio: rostos angustiados, berros severos e excessivos nas aulas, castigos sádicos, perseguições a uns e carinhos protetores a outros.”
(pp. 116-117)
(grifo meu)

Que força máxima da vida é esmagada? Ora, está claro: a libido. Não é ela a energia da vida? Lembra a lição de Freud? Reprimi-la explica as perversões, as doenças neuróticas. É um atentado contra a natureza! Um atentado cometido pela estupidez, pela ignorância!
Leiam a seguir sobre os traumas psíquicos causados pelas sandices religiosas numa criança. Aliás, Richard Dawkins, em seu Deus: um delírio, destina um capítulo para discutir os malefícios das histórias assustadoras que incluem o demônio e o inferno contadas, tradicionalmente, às crianças que se comportam mal.

“E esses mesmos padres nos diziam: “Cada vez que você se masturba, morrem milhões de pessoas que iam nascer. É um genocídio!” E, nós, além do pecado, sofríamos a vergonha de ser pequenos “hitlers” de banheiro”.
(p. 115)

Agora, Jabor vai direto ao que interessa.

“O problema da Igreja com o sexo leva-a a uma compreensão quebrada da vida, leva-a a aceitar a Aids, a condenar o aborto, o controle social da natalidade e a outros erros maiores”.
(p. 117)

E conclui:

“Uma das grandes desvantagens da Igreja Católica diante de outras religiões é o celibato. Daí, em cascata, surgem problemas que justificam a queda do prestígio da Igreja na era do espetáculo e da desconstrução de certezas. Rabinos casam, pastores protestantes casam. Budistas do it, xintoístas do it, hindus do it, mesmo muçulmanos do it; Let’s do it., pobres padres trêmulos de desejo, no meu remoto passado jesuíta e no presente do sexo massificado”.
(p. 119)

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