A minha tragédia
Tenho ódio à luz e raiva à
claridade
Do sol, alegre, quente, na
subida
Parece que a minh’alma é
perseguida
Por um carrasco cheio de
maldade
Ó minha vã, inútil
mocidade
Traze-me embriagada,
entontecida!...
Duns beijos que me deste
noutra vida,
Trago em meus lábios
roxos, a saudade!
Eu não gosto do sol, eu
tenho medo
Que me leiam nos olhos o
segredo
De não amar ninguém, de
ser assim!
Gosto da Noite imensa,
triste, preta
Como esta estranha e doida
borboleta
Que eu sinto sempre a
voltejar em mim!...
(Florbela Espanca – Sonetos)
Rua Solidão
A noite alfombra sombra
que se aflora
e, passo a passo, junto a
mim cultua
degredos e segredos de uma
rua
que foi festiva e é silêncio
agora
Sombra que alenta o tempo
e rememora
o debruar do amor que me
insinua
a rua que, em meus sonhos,
continua
tendo aquela que nela já não
mora.
Paramos, sombra e eu, em
seu portão,
a sombra a me lembrar
nosso passado
e eu para vê-la, e lhe
pedir perdão.
Mas a casa é silêncio e
negridão...
E sombra e eu, volvemos,
lado a lado,
Dos degredos da rua solidão.
(Ronaldo Cunha Lima, As flores na janela de ninguém)
Tardes
Repousado.
As tardes de um cinzento nu.
Entre
as mãos, um livro de ânsia vã.
Penso
não há tão lindos olhos de um azul
Que
da alma afugenta a tristeza anciã.
Sou
o que ama a tempestade.
Sou
o sensível, que se esquece, e vaga...
Sou
talvez uma simples tarde...
De
outono: uma folha seca e mais nada.
Penso
num motivo que me esqueceu,
Nas
rosas ásperas de meu afã,
Nas
noites, no amor que não é o meu.
Perdoa-me,
Ò Adorada, o que não sou
Sensível!
Soturno, jazido no divã
Aquele
que não mente que nunca amou.
(BAR)
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