Trata-se de um poema antigo, que remonta a um
tempo em que eu ainda não havia descoberto meu espírito ateu. Mas ele
estava lá adormecido. Note nos versos. Note a voz de Nietzsche, um
filósofo que sempre me acompanhou, desde que li o "Anticristo".... a
minha fé sempre foi muito quebradiça, como uma folha seca. Expeirmente-a pegá-la sem a devida leveza e verá o que lhe acontece... ela se quebra.
De mim um pouco
Existe um pouco de mim que se perde
nas entranhas das palavras...
... um pouco de mim que se dilui
nas vísceras do tempo
Um pouco de mim que se derrama
sobre o Céu ao encalço das estrelas
Aqueles diamantes que reluzem no
breu ultrajante de minha ignorância
Existem resíduos de mim no coração
de algumas moças...
Imagens translúcidas de um coração
acostumado a fugas
Existe uma dose de mim no olhar
dessas ilusões encarnadas
Uma dose entorpecente que as faz
indiferentes ao meu sacrifício
Existem pedaços de mim espalhados
no santuário feminil lascivo e cândido
Onde alguns homens se concentram...
Existem sombras de mim na
existência intrigante de Deus...
E uma cruz em meu caminho, ao pé da
qual dormem meus sonhos...
Sonhos crucificados, por altivos e imensos...
Existe uma voz em mim que não cala,
uma voz enlouquecida...
A que indaga de Deus acerca das
qualidades que o tornam soberano
Onipresente, Onisciente e
Onipotente – tudo rima com ausente...
E a ausência de Deus é um pedaço de
mim que se esvai...
... Que se esvai nos abismos de
minha alma endoidecida...
Como disse o eminente filósofo
alemão, “Deus está morto”
E a morte de Deus é a morte da
eterna esperança humana:
A esperança de compreender e
recriar o Amor.
Se Deus está morto – ou sempre esteve
morto,
... Existem lembranças de mim
enterradas em corações
Que pulsam numa cova funda...
Existe de mim um pouco que se
dissipa em cada instante
E minha respiração denuncia minha
morte
E estar vivo é simplesmente
conseqüência do nascimento
E Deus, a existência, o infinito, o
sonho e o Amor...
São fantasmas que nos assombram
durante o sono da morte
Existe um eu de mim no outro de
cada um...
Mas em mim só existe o vácuo de um
cosmo imaginário...
E se lanço olhares sobre a bela
jovem que me oferta atenção,
São todos furtivos, retraídos,
silentes...
Porque existe de mim um pouco que é
indigno, que é sofrível
Existe em mim a morte e a vida, num
enlace anímico
E minha alma exala aromas
indecifráveis, incompreensíveis, imperceptíveis
... Aromas de um túmulo de vida
E no útero da morte jaz a visceral
razão para viver:
O Amor sempre esteve antes do
homem: é uma ausência que o preenche,
Existe de mim poeiras de uma
plenitude indizível do amor,
E este Amor nunca nascera, foi
abortado no ventre dos Céus;
E minha alma é um aborto de um Deus
que é morto.
De mim existem palavras
amordaçadas, vozes acuadas... sobreviventes
Da lança do destino...
Existe de mim um pouco que não me
suporta
Ou que me ama me agredindo...
E me quer vivo.
(BAR)
caraleo!
ResponderExcluiré até chato dizer o quanto me identifico com teus pensamentos, questionamentos...
mas, realmente, há um tanto de mim tb nesses versos!
lindos, Bruno! sentidos, doridos, angustiantes em cada palavra.
beijo