Minhas prateleiras
Quando olho a imensa quantidade de livros que se empilham nas prateleiras de meu quarto, concluo que não terei tempo suficiente para ler todos. A vida é breve demais e a leitura demanda muito tempo e dedicação. Então, deveria eu parar de comprá-los; ignorar a diversidade de meus interesses intelectuais. Por vezes, me pergunto de que adianta ler tanto. Não pretendo eu auferir reconhecimento acadêmico nas várias áreas do saber que me interessam; não tenho tempo para me diplomar nelas. Talvez, nunca produza um livro. Se pudesse produzi-lo, denominá-lo-ia Miscelâneas Intelectuais.
O fato é que, não obstante esse reconhecimento, continuo comprando-os e lendo-os. Uma vida dedicada ao desenvolvimento intelectual exige certa reclusão. Eu convivo com a solidão intelectual e qual não é meu entusiasmo quando deparo com pessoas (poucas) que me falam da importância de ler e me contam sobre os livros que têm lido! E a conversa flui...
Minha socialização, fora do trabalho, fica restrita ao entretenimento. A companhia de pessoas, quando possível, é apenas para a distração. Eu converso mais com os escritores. Enquanto leio, por vezes, falo como se estivesse um interlocutor a dialogar comigo, ou, pelo menos, como se houvesse um interlocutor a ouvir-me. Na ausência de um interlocutor interessado, escrevo e, ao fazê-lo, construo em minha imaginação esse interlocutor. A relação entre quem escreve e quem lê é uma relação imagética, já que o autor constrói uma imagem de leitor e este constrói uma imagem do autor.
Uso a palavra autor ignorando suas implicações sócio-históricas. Sequer tenho uma obra. Entenda o leitor que autor aqui quer apenas dizer agente da escrita. É nesse sentido que sou o autor de meus textos. A autoria em blogs é tema de que se ocupou Dominique Maingueneau; trata-se de uma questão problemática.
Saber dói. Conhecer pode ser perigoso. Intelectualidade demais faz sofrer. O excesso de consciência do real pode acarretar-nos depressão, desgosto. Sei bem o que é isso! Os ignorantes são mais felizes. Possivelmente, os mais facilmente ludibriados, iludíveis, me parece. Entre eles, há os que ignoram, porque ainda não puderam conhecer, e os que ignoram, porque não desejam conhecer. A estes chamo de estúpidos. Destes se diferem os medíocres, que supõem saber demais e ignoram que pouco sabem. E julgam-se capazes de explicar cabalmente os fatos ou as ocorrências do real com os parcos conhecimentos que detêm.
Por vezes, eu me perco em meus pensamentos. Meu espírito fica atado a eles e eu me atordoo. O problema é que a aprendi com a leitura que a convivência com as dúvidas, que não cessam, é indispensável ao desenvolvimento intelectual. Os que se julgam cheios de certezas acabam por não se assombrar com as feições da realidade e ficam a patinar na superfície das questões mais urgentes e intrigantes.
Eu confesso que já pensei em deletar-me; o ambiente virtual me enfada. Os clichês de toda sorte abundam. Que poderia esperar? Esses meios não irão produzir pensadores, tampouco os reunirão. A mesmice é a regra; os lugares-comuns, a ordem de todos os dias. Então, deles participo para não viver completamente ilhado. Mas a solidão pode ser amiga, ensinou-me Rubem Alves.
Muitas vezes também me pergunto se haverá tempo suficiente para ler todos os livros que tenho...eh mais certo que não realmente, mas eh assim o meu mundo particular e não abro mão dele!
ResponderExcluirE vc, Bruno eh um autor que gosto muito de ler...seus escritos me fazem pensar, refletir, questionar...as certezas não existem mesmo...gosto muito de passar preciosos momentos aqui !! Obrigada!!:) Beijo carinhoso pra vc!
"Saber dói. Conhecer pode ser perigoso. Intelectualidade demais faz sofrer. O excesso de consciência do real pode acarretar-nos depressão, desgosto. Sei bem o que é isso! Os ignorantes são mais felizes. Possivelmente, os mais facilmente ludibriados, iludíveis, me parece. Entre eles, há os que ignoram, porque ainda não puderam conhecer, e os que ignoram, porque não desejam conhecer. A estes chamo de estúpidos. Destes se diferem os medíocres, que supõem saber demais e ignoram que pouco sabem. E julgam-se capazes de explicar cabalmente os fatos ou as ocorrências do real com os parcos conhecimentos que detêm". *BAR*
o trecho, que a Roseli destacou, eu tb destacaria. maravilhoso!
ResponderExcluirpensando... fez-me lembrar de Macabéa - protagonista d'A hora da estrela - que qse nada sabia, e sofria por tentar saber [e não ser compreendida].
esta, por sua vez, me lembrou Kaspar Hauser, que passou pelo mesmo: depois que se proveu de linguagem, foi de encontro às ideias sociais impostas e acabou morto [por outras tantas razões obscuras tb].
mas sempre bom refletir essa angústia. e não desista de comunicar isto que lhe insta a alma: suas palavras são um privilégio nosso!
beijão