domingo, 5 de dezembro de 2010

adolescência onírica

                                           
                                        
                                                 Adolescência onírica

Já não me satisfaço mais com migalhas. Não são mais eficazes as doses homeopáticas de amor e amizade. Esses sentimentos estão adoecidos.
A amizade floresce exuberante na adolescência. Nessa fase da vida, ter muitos amigos é indispensável para a formação da subjetividade e identidade do jovem. Se nela o amor é promíscuo, ingênuo e inconsequente, não é menos arrebatador e dolorosamente inspirador. É a época em que abundam as cartinhas de amor, se bem que, no meu caso, essas cartinhas desbordaram a adolescência e continuaram abundantes na fase adulta. Não sei dizer se os adolescentes “descolados” da geração do amor epidérmico ainda escrevem cartinhas de amor.
Um desamor, nessa fase, é, sem dúvida, uma dor funda e lancinante. É claro que ela é superada; mas, enquanto dura, nos corrói as entranhas da alma, nos arrasa como um terremoto. No entanto, os desamores, as desilusões são importantes para o nosso amadurecimento. Sofrer de amor, nessa fase tão repleta de dúvidas, é a única certeza que temos.
Cada fase da vida de um ser humano é decorrente da morte da fase anterior. Assim é que a adolescência se inicia pela morte da infância. O adolescente não gosta de ser chamado de criança; se dizemos de seu comportamento que é infantil, ele se irritará. A fase adulta se inicia com a morte da adolescência. Tomamos uma dose maior de responsabilidade. Sucede, contudo, que essa dose é ministrada com uma grande dose de isolamento; as amizades tendem a se liquidificar. Cada qual segue seu rumo. É bem verdade que muitos sequer superam a adolescência; permanecem adolescentes por um longo tempo na fase adulta. Vivem à superfície, na fragilidade de seus vínculos, pois amar é dor (assim pensam).
Algumas pessoas contentam-se com doses homeopáticas de amor e amizade; mas eu só tenho a oferecer doses abundantes e intensas. A aridez do deserto de suas almas não resiste à exuberância dos jardins de meu desejo. A adolescência permanece pulsante em meus sonhos, não no comportamento; mas, certamente, no santuário de minha alma, onde rezam minhas dores.
Ser menos virtual e experimentar a concretude da realidade com toda a sua textura e contornos áridos – eis o desafio desta minha adolescência onírica!

Um comentário:

  1. Bruno, ás vezes tenho saudades dos amores da adolescência, quando os meus problemas eram as provas de recuperação de matemática, poder ir ao baile. Os grandes problemas da adolescência...Mas a gente cresce e entende aquela música do Titãs que diz "não confio em ninguém com mais de 30, não confio em ninguém com 32 dentes" acho que por isso na adolescência tudo é intenso, transparente, quando a gente cresce e começa a ver que os problemas são outros, e nossos amigos da adolescencia também são outros, e os amores também não são mais tão intensos e fiéis como antes...

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