Natal
Domingo. Na ara, baile de
Arcanjos
Cálice, pátena, imagens
sacras... (o padre)
A Deus, anfitrião, exultantes
cânticos
Que louvam o fruto sacro da
santa madre.
É Natal. Unidas as mãos, em
silêncio santo
Oram os justos. Rogam os
tementes
Entre todos, solitário, o poeta
chora tanto!
Chora pelos infiéis e pelos
ausentes
Sozinho... Reza pelos aflitos,
pelos ingratos
Reza pelos esquecidos e pelos
infamantes
Reza pelos altruístas e pelos
humilhados
Tomada a alma de infinita
piedade...
Reza pelas almas que padecem na
Eternidade
Reza por todos quantos neste
mundo são amantes.
(BAR)
Nossos destinos
Tão logo da madre brotaras –
Pequenina!
Aos braços de outro destino foste
levada
Pelo Vento! Em seu soprar, ó
embalada!
No teu berço de ouro, sob a Luz
Divina!
Teu destino – Um pai querido que
te nutre!
Meu destino – Padrasto amigo que
me pune!
Tu trazes em teus olhos de Deus a
morada
Eu sou como a figueira amaldiçoada!
Oh! Tu vives livre como as pombas
do Éden!
Eu, na gaiola de paixões que não
me esquecem
Tu és a Helena de Deus. Te inveja
Nêmesis!
Eu sou como Prometeu: Sou dor que
geme!
Oh! a que jardins, a que terras dás
lume?
A que almas inebrias com teu
perfume?
Oh! Teu destino suave brisa que
me roça a face!
Ó destino: um sopro frio de amor
que me arde!
(BAR)
Capital Amoroso
O Amor é um
negócio
Os amantes
negociantes
Genitálias
mercadorias
Nossas
noites um vende-compra
Vende-compra,
vende-compra
Vende-compra,
vende-compra...
Nossa cama
um armazém de finanças
Depósito das
jóias de minha virilidade
Hoje, a cama
um entreposto
Cobiça de
capitais estrangeiros
Política de
mercado livre!
O amor
inflacionado
Entre as
pernas, uma tabuleta:
Oferta e Procura
Genitálias
penhoradas
Dívida
Externa!
Outrora o
amor um ninho de –inhos...
Hoje, um
quinhão pra banqueiros, deputados...
Um filão de –ismos, negociatas de capitalismo!
O amor
administração alfandegária.
(BAR)
Descanso do espírito
Quando o pensamento dorme
As asas do sonho despertam
Uma estrela do Céu despe
As noites rubras, o véu celeste
Quando os olhos se rendem ao Reino
De Morfeu, abandonados a labirintos oníricos
E Nós, Meu Amor, somos como vinhos antigos
Vertidos dos lábios de matreiros Cupidos
És a Helena de coração alado
Cintilante, sobrevoando os átrios das virtudes
És Capitu, dissimulada de Machado
Ocultada pelas fúnebres sinfonias de alaúdes
Nos desvarios, nos delírios noturnos do seio
És o último Cisne dos crucificados
Que estão presos às amarguras do enleio
Dos sonhos fátuos e embalsamados.
(BAR)
Cobiça de Amor
Desfraldem-se velas de amores,
A caravela de sonhos e dores,
Navega por mares d’esperança
À vastidão do Oceano se lança
Ah! Ver em teus olhos o Apolo
Dos sonhos de juventude senil!
Ver-me repousado em teus olhos
O berço de visões mil!
Ah! Ver-me no espelho de tenras
emoções!
Donde o Céu anil se vê, como
nuvens bailarinas
Anjos que se beijam embalam
paixões!
Ah! Ver-me no teu olhar, mais
belo!
Despontar na imensidão de tuas
retinas
Eu! Tal qual os Bravos de
Homero!
(BAR)
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