segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"O AMOR não cabe na palavra AMOR" (BAR)





                                                                       Meu AMOR

 O AMOR que minha alma hospeda
Intenso
Denso
Sagradamente voluptuoso
Guarda em si uma inquietante verdade
Que tu não podes pronunciar
Que te está velada
Porque não compreendes

Este AMOR que derramo sobre ti
Inebriante
Acarinha
[unidos
A alma
O corpo
Encerra a eternidade num instante
Verte de um vazio o desejo de imensidão

Este AMOR que sinto
Imenso
Nascido do ventre do exagero
Lírico
Tragicamente desmesurado
Compõe em palavras seu destino
Traz-me à alma cansaço verbal
Este AMOR que em ti é confundido
Em mim é tão lúcido
Sensato

Este AMOR que ouso dizer-te
Não compreende razões
Ignora os apelos do tempo
Vive a espera infinita
Por um instante único
De ser pleno
Distinto
Sublime

(BAR)
Pode parecer que basta a intenção para que uma enunciação seja justificada. Pode parecer que a intenção é suficiente para que um dado conjunto de palavras seja produzido. Textos são assim: formas verbais mediadoras de intenção; eles são produzidos segundo os objetivos de um enunciador. A escrita é também uma atividade social que exige uma intenção. Mas a escrita lírica parece exigir mais. Não basta a ela a intenção. A escrita lírica exige o intangível, o inapreensível, o inefável, o inexplicável. A escrita lírica não se compreende; sente-se. Basta a ela o sentimento. Mas não qualquer sentimento; basta a ela a densidade do sentir.
Quando a escrita lírica tematiza o AMOR, quando ela se ocupa do AMOR, ela abre um abismo entre o entendimento e o sentimento, e se concentra neste último domínio do ser. Creio que o AMOR nunca será plenamente verbalizado. O meu AMOR demanda uma enxurrada de palavras para animá-lo na alma. O meu AMOR é exageradamente verbalizável. Mas é no silêncio que ele beija o inefável. No silêncio, o meu AMOR se enlaça com o incompreensível. O silêncio de meu AMOR é um silêncio pleno de sentido, de um sentido que não tem de ser justificado, explicado, racionalizado. Basta-lhe a intensidade do silêncio.
O meu AMOR é inerentemente paradoxal: ao mesmo tempo que demanda palavras as dispensa; ao mesmo tempo que me torna a alma uma cachoeira de palavras, ao mesmo tempo precisa mantê-la desértica. Nesse deserto de palavras, o meu AMOR fecunda o silêncio. O silêncio, que é terno e quase sagrado (porque inviolável), torna meu AMOR incomparável, porque ao pronunciar-se no silêncio afugenta de si os ruídos que de nada servem senão para enxovalhá-lo. O meu AMOR está todo concentrado em meu olhar, mas, ainda assim, está inteiramente em minha voz, nas diversas manifestações de meu ser mesmo.
Acho que o AMOR é um querer que nos supera, que transcende, que não se contém, porque destinado a expandir-se, a dar de si. Acho que o AMOR está inextricavelmente destinado ao ininteligível, ao indizível, ao intangível, ao inapreensível, ao inominável. O inominável é plenitude de sentido para o AMOR. O incompreensível no AMOR é que ele faz todo sentido. É justamente porque o sentido está todo no AMOR que poetas e filósofos e os amantes comuns insistem em anunciá-lo.
O meu AMOR põe-me nu o Ser. Sua nudez se revela numa vestimenta de palavras. As palavras, ao vestirem-me o ser de líricas pétalas, de distintos apanágios, torna-me nua a alma. Somente a nudez da alma nos prepara para o AMOR. O AMOR exige-nos mais que a nudez dos corpos; ele necessita da nudez da alma; nela se inspira.
Só podemos dizer do AMOR se, por algum momento, nos defrontamos com o sentido de carência, com o sentido de vazio. Por isso, somente quando pudermos dizer EU PRECISO DE AMOR é que poderemos enunciá-lo com a densidade que requer a verdade. O AMOR é a única verdade para a qual há um consenso irrevocável; a única verdade cuja validação não requer raciocínios rigorosos, argumentações sólidas
O AMOR é uma experiência que interpela o sentido. Por isso, o AMOR tem de silenciar o mundo. O AMOR não se combina com ordem, com coerção, com demasiada disciplina; sua natureza subversiva lança por terra toda pretensão à repressão, fulcro da civilização. O espírito amoroso, ou melhor, o espírito inundado em AMOR é um espírito subversivo, porque sempre propenso a deflagrar liberdade onde há excesso de coerções. O AMOR liberta o Ser. Somente quando nos sentimos cheios da liberdade de Ser seremos capazes de partilhá-lo na medida de nossa alma. Mas não nos surpreendamos se o AMOR exceder as medidas, se o excesso torná-lo indizível. É que o AMOR é sentimento das Alturas. O AMOR é ventre do sublime. A experiência do sublime, que não pode ser verbalizada, inapreensível, por excelência, é a própria experiência do AMOR que torna-nos a alma uma vastidão silenciosa. O AMOR, quando comunicado, cala a alma. O AMOR silente é amor verbalmente reprimido, porém tão abundante, tão transbordante que tem de dispensar as pretensões das palavras. O AMOR é uma palavra que não cabe nas palavras, não cabe na linguagem, mas delas se serve sempre para ensinar-nos sobre sua relação com o sentido inefável, com o intangível impronunciável, com todo o sentido não verbalizável. 

3 comentários:

  1. amei o poema! e tudo! =)

    bem próximo ao que Clarice falava sobre o amor e tantos outros sentimentos... e tudo isto, q é tão impalpável e nos permeia o mais íntimo!
    talvez, por isso mesmo, indissociável e praticamente intransponível...

    beijão, dear!

    ResponderExcluir
  2. "O AMOR é uma palavra que não cabe nas palavras..."
    Adoro todo esse lirismo! Bjusss

    "O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo acha a razão de ser, já dividido.
    São dois em um: amor, sublime selo que à vida imprime cor, graça e sentido."
    Carlos Drummond de Andrade

    ResponderExcluir
  3. Bruno,

    Eu fiquei sem palavras...eu leio, releio e leio novamente... êxtase profundo...lindo demais

    L I N D O

    D E M A I S !!!

    lindo demais...beijo carinhoso! :)

    ResponderExcluir