quinta-feira, 23 de junho de 2011

         

                               Reversos da alma


Ontem,  conversei com uma secretária kardecista. Bem humorada, ela me contava de amigas que diziam não querer voltar mais a este mundo material. Elas acreditam estar já cumprindo as provas que elas mesmas se impuseram. Como bem observou a moça, os espíritos mais adiantados escolhem as provas por que devem passar com vistas ao alcance de maior adiantamento. O objetivo último é a perfeição, ou seja, o alcance do estágio dos espíritos puros, aqueles que são totalmente desapegados da matéria.
Acordei hoje, e me apressei a procurar um trecho que confirmasse aquela crença, ou seja, a crença segundo a qual os espíritos mais evoluídos podem escolher suas provas. Peguei, então, o livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Trata-se de uma leitura do Evangelho de um ponto de vista espírita. No capítulo Bem-aventurados os aflitos, lê-se, à página 117:

“Não se deve crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo seja necessariamente indício de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas escolhidas pelo Espírito para concluir a sua depuração e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Contudo, provas e expiações são sempre sinais de relativa inferioridade, porque o que é perfeito não precisa ser provado. Um Espírito pode, pois, ter adquirido certo grau de elevação, mas, desejando adiantar-se mais, solicita uma missão, uma tarefa a executar, pela qual será tanto mais recompensado, se sair vitorioso, quanto mais penosa haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parecem nada haver trazido de mau das existências anteriores e que sofrem, com resignação cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus para suportá-las sem murmurar.
(...)
Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação, mas é lícito de que foi escolhida voluntariamente, e não imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso”.

Nunca escondi minha inclinação à doutrina espírita. Há apenas duas doutrinas metafísicas que me agradam: o espiritismo kardecista e o budismo. Ambas tentam explicar os dois extremos da existência: o nascimento e a morte. Ambas ensinam o dogma da reencarnação, que, para mim, é a expressão maior da Justiça do Cosmos. Ou do que prefiro chamar hoje de Mistério. Nesse sentido, aproximo-me do agnóstico.
É simples medir o proveito da crença na reencarnação. Basta tomar um exemplo comum de fatalidade na vida. Por exemplo, uma criança que nasce com alguma deficiência física ou mental. Aliás, a quantidade de crianças nascidas em tal condição é incalculável. Agora, tente explicar por que isso lhe aconteceu. Há, pelo menos, três respostas possíveis. Cientificamente, a causa de tal deficiência é genética. O nascimento é, assim, um acontecimento sujeito às vicissitudes da gestação. Há crianças que saem ilesas desse processo; outras não. Aqui repercute bem aquele verso de uma canção de Tim Maia: “na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri”. Outra resposta que se pode buscar é no padre ou pastor de sua Igreja. Provavelmente, ele lhe dirá: “é a vontade de Deus!”. E você sairá com aquela pergunta latejante: “por que haveria Deus de querer nosso sofrimento?” Mistério. Isso não satisfaz os espíritos mais filosóficos. A terceira fonte de explicação é a do espiritismo. Essa doutrina ensinará que o sofrimento tem uma causa em vidas passadas. Mas aqui também há um problema. Não se pode impingir uma pena a alguém que sequer sabe por que está sendo punido. Ensina a doutrina que Deus teria poupado o Espírito de se lembrar de suas faltas, para que, do contrário, não viesse a recuar diante das dificuldades. A lembrança poderia acarretar-lhe tormentos, aflições, sentimento de culpa. Nesse sentido, a lição, inspirada no cristianismo, é resignar-se em face do sofrimento. Psicologicamente, não vejo vantagem nisso. Todavia, há também que considerar a possibilidade de o Espírito escolher as dificuldades que terá de enfrentar. Nesse sentido, acho mais justo. A escolha depende da vontade de o Espírito alcançar maior adiantamento no plano espiritual, de sorte que possa encurtar seu caminho evolutivo até o estágio da perfeição.
Seja como for, na doutrina espírita, a (re)encarnação é uma necessidade e submeter-se a provações também. A Terra é lugar de expiação e de provas. A verdadeira vida é a espiritual. Este mundo material é apenas um simulacro. É inspirado nesse sistema de crenças que a minha declaração, anunciada amiúde, neste espaço, o sofrimento tece as malhas da existência, ganha um valor inquestionável.
O leitor poderá escolher dentre as alternativas de explicação, aqui apresentadas, ou poderá simplesmente desistir de buscar explicação. De qualquer modo, terá de aceitar o Mistério. Talvez, só desvelado depois da morte. Sucede que o Espiritismo, longe de dar conta de nossas dúvidas mais viscerais sobre a existência, é indiscutivelmente um sistema doutrinário mais comprometido com as vicissitudes da vida.
Se pararmos para meditar um pouco, antes de dormir, na significação da nossa vida, na vida de cada um de nós, seremos levados a crer que a morte não pode significar simplesmente a aniquilação de toda a dimensão de significação de nossa vida. Todavia, a possibilidade de haver uma existência extracorporal não deve ser razão para a desvalorização dessa vida corpóreo-orgânica.
Há um capítulo interessante no Livro dos Espíritos, que trata da afinidade entre os Espíritos. A crença mística e ingênua na alma gêmea é explicada e reinterpretada em termos espíritas. Os Espíritos ensinam haver relações simpáticas e antipáticas entre os Espíritos. Ensina-se que os Espíritos têm afinidade entre si e que o laço que os une é mais forte na ausência do corpo.
Todavia, falar em “metade eterna” é um erro, já que, segundo a doutrina, todo Espírito é completo. A individualidade do Espírito é preservada. A simpatia existe na medida em que um e outro Espírito se atraem por terem inclinações em comum. Se não há almas gêmeas, pode-se falar de almas afins.
As reflexões encaminhadas até aqui abrem caminhos para a consideração de um tema que me é caro: o dos relacionamentos afetivos. Lembro aqui um trecho do texto Crônica do Amor, de Arnaldo Jabor. Nele, o cronista fala daquilo que o amor tem de indefinível:

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. 

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.



Noutro trecho, Jabor questiona sobre nosso insucesso amoroso, malgrado termos qualidades apreciáveis:

“É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?”


A despeito de as experiências amorosas ignorarem qualquer “equação matemática”, qualquer lógica de sentimentos e  de compatibilidade de inclinações, é fato que todos nós, homens e mulheres, buscamos, para efeito de relações afetivo-sexuais ou amorosas, certas qualidades que nos são atraentes. Uns valorizam mais a honestidade, a fidelidade, a cumplicidade, etc; outros buscam a afeição, a espiritualidade, o companheirismo, etc.; mas todos desejam uma só coisa: a reciprocidade de sentimentos. Ou seja, todos nós desejamos a reciprocidade do amor.
As comunidades do orkut, muito embora algumas delas nos pareçam desinteressantes, podem servir de um bom corpus a um pesquisador interessado em investigar o que homens e mulheres têm a dizer sobre suas experiências amorosas. Em outras palavras, eles fornecem testemunho do estado dos relacionamentos na modernidade líquida. Gostaria de referir alguns exemplos. Tomo, para efeito de ilustração, duas comunidades – a primeira denominada de Quero namorar, noivar e casar. No fórum, um rapaz afirma “quero namorada no RJ”. A única mulher que respondeu, escreve o seguinte:

“Bom......eu sou do RJ.....rsrsrs
Eu tbm quero um compromisso serio,porem quando a gente vai conhecendo vemos que ñ é nada daquilo que vcs falam.”

Aqui, a fica clara a desconfiança feminina em face do comportamento de certos homens. Insegurança e desconfiança, aliás, são sentimentos bastante recorrentes nos depoimentos femininos. Vejamos alguns mais. Em outro tópico, um rapaz pergunta Quem ta solteira ae?. Vejam-se as respostas de mulheres:

Eu to!!! Muito decepcionada com vcs homens tb!!! Vcs naum querem nada com nada!!

uhull solteira graças a deus!!!!!!

Há também homens insatisfeitos, que se dizem frustrados, decepcionados e magoados em seus relacionamentos anteriores. A quantidade de pessoas solteiras à procura de reciprocidade amorosa é impressionante! O que me leva a defender que nossa época é a época de homens e mulheres afetivamente carentes. Parece haver uma demanda coletiva por maior profundidade emocional, afetiva, sexual. Em outras palavras, as pessoas desejam ser amadas, embora se demonstrem inseguras e insatisfeitas. A insatisfação é consequência das próprias condições sócio-culturais em que se dão as experiências amorosas, condições marcadas por fragilidade, liquidez de vínculos.
Em outra comunidade, intitulada de Eu quero namorar sério, uma mulher pergunta, em um tópico Vc quer mesmo um compromisso sério? Vamos às respostas:

“INFELIZMENTE HJ EM DIA É ASSIM MESMO: SEXO, CURTIÇÃO....E SÓ, É PELO MENOS O Q A MAIORIA PREFERE,POR ISSO ESTOU SÓ ATÉ AGORA...

JÁ PASSEI POR POUCAS E BOAS, MAS TUDO PASSA,E UM DIA IREI ENCONTRAR ALGUÉM ESPECIAL DE VERDADE, EU SEI DISSO!!!!!!!!
border=0 v:shapes="_x0000_i1025"> “

“Sim comigo já não é a primeira vez em que acontece isso, na verdade eu quero sim algo serio, vc vai em uma balada não encontra ninguem que queira algo serio, muito dificil quase todos só querem pegação, então já desisti de balada, vai em algo mais tranquilo mas ligth só encontra casais então não da, procurei em alguns lugares, estou procurando aqui mas parece que realmente aqui tbem só querem brincandeira.
Tem gente aqui na comu que diz que quer e tal, mas vc entra em contato chama para converssar e a pessoa nem responde, gente vamos parar com isso, se não quiser nada sai fora não faz quem queira perder o tempo precioso.”


A primeira resposta foi escrita por uma mulher; a segunda, por um homem. Ambos demonstram insatisfação com as experiências amorosas. Mas vale dizer que o rapaz está procurando um amor no lugar errado. Experiências amorosas dificilmente começam em “baladas”. O amor é uma graça e como toda graça acontece por uma conjugação de circunstâncias. Discorrerei sobre isso mais adiante.
Vejamos outros depoimentos:


"Seria mais facil, se o caráter viesse estampado na testa".

“Eu quero um namoro sério!!!Mais muitas garotas hoje não estão afim,bom,pelo menos as que eu queria ter um relacionamento.Mais o barato é loko,e eu não vou desistir!!!”

“É gente ...muito complicado...Eu mesma ja passei cada uma ki é de chorar...Hoje em dia vivo muito isolada do mundo, e nem amigos eu tenho mais...dai como não saio sozinha pq é chato, minha única oportunidade de encontrar uma pessoa legal é aki na net... Pq eu não kero farra, kero algo sério...amar alguém ki também keira viver isso...Mas estou na espera...Um dia eu chego lá... bjusss esorte a todosssss”

O primeiro e o último textos foram escritos por mulheres. O último texto revela um mal que nos atinge visceralmente: a solidão. Eu me identifico com esse testemunho. O segundo texto foi escrito por um rapaz, que também se demonstra insatisfeito com o comportamento de suas pretendentes.
Vejamos esta última postagem:

“realmente é dificil condeguir um bom relacionmento serio sei que muitos caras e mulheres tambem não querem nada com compromisso mas não são todos que pensam assim quero u namoro serio mas é dificil achar será que consigo aqui ?”


Quem escreve esse texto é um homem. Num outro tópico, pergunta-se: O romantismo está morto?. A pergunta é feita por um homem. Vejamos algumas respostas:

“naum esta as pessoas que nem sempre se lembram de quanto é bonito e gostoso ser romântico”
(homem)

“Alias, ser romantico hoje em dia é sinonimo de cafonisse.Vc abrir a porta de um carro pra mulher, mandar flores e etc é extremamente cafona segundo as mulheres q conheço e uma q namorei.
Mesmo assim, eu não consigo ser diferente, quero sempre tornar agradavel o momento e pelo menos na minha opinião, tratar uma mulher com carinho, com gentileza nunca é demais....mesmo algumas preferindo q a gente entre no restaurante, no cinema, coçando o saco e pedindo pra elas pagarem tudo...”
(homem)

“Nossa... E eu que pensei que não existissem mais homens românticos! rsrs  v:shapes="_x0000_i1026">
Acho que o romantismo não está totalmente morto, vcs são prova disso... Mas são poucos que realmente o valorizam, poucas pessoas realmente querem algo sério, sejam homens ou mulheres... Para a maioria, namoro é sinônimo de curtição, isso se não preferem o "ficar"... No próprio fórum da comunidade, tópicos como "vc namoraria a pessoa acima" ou "quem procura namorado(a) deixe seu msn aqui" são a maioria!
Mas como vcs, ainda há aqueles que têm saudades dos "tempos antigos"... Que acham lindo, e não "cafona", uma atitude de carinho, um presente inesperado, uma carícia sem segundas intenções, um "eu te amo" de verdade...
Então meninos, não percam a esperança... Garanto a vcs que, se ainda se encontram homens românticos, mulheres românticas também existem, um dia as encontrarão! 
v:shapes="_x0000_i1027">There is still hope..!”

(mulher)

Em outras comunidades do mesmo gênero, há casos muito interessantes, alguns pela comicidade; outros pela carência que expressam. Um rapaz revela que, num site destinado a relacionamentos, em que a pessoa faz seu cadastro e  busca outras pessoas compatíveis, não conseguiu que o site encontrasse tais pessoas. Um outro deseja não passar o Dia dos Namorados sozinho.
Vale notar, de passagem, já que me referi a isso em outros textos, que a concepção de ser romântico, no segundo texto-exemplo, está muito ligada a modos de cortesia e de educação. Mas isso é um reducionismo do conceito “romântico”.
É interessante notar que “ser romântico” é uma qualidade desejada por muitas mulheres, no que diz respeito a relacionamentos com homens. Mas, dada a falta de referenciais, há pessoas que desejam relacionar-se na base de inclinações religiosas, como no caso de um rapaz que procura por mulheres protestantes. Também a religião influencia a escolha de parceiros, muito embora afinidade religiosa não seja garantia de felicidade num relacionamento.
O fato é que homens e mulheres da modernidade líquida parecem patinar com seus corações em terrenos movediços e escorregadios. Faltam a ambos segurança e confiança. A maioria manifesta não só muito desejo de ser felizes nos seus relacionamentos afetivos, mas também muita carência de profundidade nesses relacionamentos.
O que me parece certo é que o outro com quem nos relacionamos é produto do meio educacional em que foi criado. Dizem que, quando nos casamos, também casamos com a família de nosso cônjuge. Talvez, haja aqui um bom referencial para avaliar a probabilidade de um relacionamento amoroso ser venturoso: a origem sócio-educacional do(a) parceiro(a).
Acho que para amar devemos ter um modelo de amor em casa. Nós amadurecemos amorosamente à medida que nos relacionamos e nos machucamos, mas a pré-disposição ao amor é um comportamento que se inicia em casa. Filhos conseguirão amar na medida em que foram educados para experienciar o amor. Isso significa, entre outras coisas, não pretender poupá-los do sofrimento, das dores típicas legadas por uma experiência amorosa.
Não concordo com uma educação que silencia em face do modo como os jovens conduzem sua vida sexual-afetiva, ou seja, diante do fato de eles buscarem apenas relações efêmeras e descartáveis, por temerem o envolvimento, o compromisso. Educar para viver a profundidade das relações, para o autoconhecimento e o conhecimento recíproco; educar para viver a autenticidade, para valorizar a dimensão da pessoa que o outro representa; educar, em suma, para envolver-se de coração, sem se contentar apenas com a superfície epidérmica.
Sentimentos não são descartáveis.

Em reconstrução...


Coração interditado

Interditado meu coração
Estará por uns dias
Pra encurtar a avenida da ilusão
Demolir a ponte de sonhos
Abrir outras vias de dupla mão
Pra aumentar o fluxo da paixão

Vou refazer as estradas empoçadas
Pavimentar os caminhos dos desejos
Quem sabe construir um túnel
Que encurte a distância até o infinito

Só por uns dias
Estará fechado
Nele só trabalharão os operários
Do amor
Se quiser um dia voltar a visitá-lo
Deixe seu nome, por favor.

(BAR)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Um dia, talvez, eu venha a desabitar-me, e então me reconhecerei" (BAR)







Mudança


Gosto da noite sem lua
Nebulosa e fria
Da noite invernal
Que me lança sobre a alma
Uma alegria fina,
Que me cai bem
Como uma veste branca de seda

Gosto da noite com sereno
Que embala e faz dormir
Um sono denso, inconsolável
Gosto da noite silenciosa
Fúnebre como um corvo
Gosto da noite desbotada
Com suas horas murchas

Gosto da noite vazia
Com seu espesso véu

[que se oculta

Com finas gotas de lágrimas
Caídas das pálpebras do céu
Gosto da noite que dorme tranquila
Enquanto sonho e me perco
[numa rua e caminho

Por uma estrada sombria
                         
                               (BAR)

Quem sou eu?
Uma lembrança
Que ainda não nasceu.
(BAR)

canal Viva da tv fechada está reprisando a novela Vamp, exibida pela Rede Globo, em 1991. Gosto de rever essa novela, porque, entre outras coisas, faz-me recordar-me de um tempo tão gostoso de minha infância. Lembro-me de que colecionei, junto de meus primos, o álbum de figurinhas com as personagens da trama. E posso hoje me divertir novamente com a atuação de Ney Latorraca no cômico papel do Conde Vladymir Polanski. A trilha sonora da novela também era ótima.
Lembro-me de que brincava com meus primos de vampiros. Colocávamos aqueles dentes de plástico, que comprávamos em lojas de artigos para festas. Em 1991, contava eu nove anos. E não posso evitar esse sentimento nostálgico.
A lembrança do passado infantil traz-me à consciência o homem que me tornei. Tenho procurado não me confrontar comigo mesmo. Esse confronto legou-me muitas páginas tristes durante anos. Percebo que meus poemas atuais não trazem presa às suas notas a melancolia. Eles têm mais leveza, inspiram ânimo; são mais sutis, delicados, ternos.
Outrora, meus versos serviam à expressão das cicatrizes de minha alma, que então estivera desgastada. Por mais belos que possam ser, eles hoje me cansam. Não consigo lê-los.
De fato, eu mudei; ligeiramente, mas mudei. Minha atitude diante da vida não é a mesma; o pessimismo que, dantes, caminhava pelas largas avenidas enevoadas de minha alma, sucumbiu ao meu brio.
No entanto, ainda acho que preciso mudar mais um pouco. Talvez, mude o coração de lugar. Faça alguma arrumação no seu interior. Talvez, faça ainda uma faxina na alma. Varra para fora alguns sentimentos despedaçados; e arraste algumas saudades pesadas, como quem arrasta móveis de um lugar para outro.
Começarei fazendo uma viagem, assim que puder. Chamarei um amigo para me fazer companhia, pois que a solidão ainda me assusta. Quero estar num lugar onde possa olhar o horizonte e deixar meus olhos perdidos; um lugar onde, à noite, possa sentir invadindo-me a alma toda a força da vida – aquela mesma força intensa, avassaladora, inebriante, vibrante que sentimos quando amamos.
Quero saborear o simples, o frágil, o delicado, o sereno da vida. Por alguns momentos, quero desafogar-me das incumbências, das obrigações, dos horários que martelam. Quero olhar o futuro e ignorá-lo. O futuro? É a não-consciência, eu não existo ainda. O meu “eu” de hoje ainda não foi apresentado ao meu “eu” do futuro. Que é o futuro senão o presente adiado?
Há tantas coisas que gostaria de fazer, de ter feito... E muitas coisas deixei de fazer, mas sempre consciente de que assim escolhi... Acho que há uma idade em que temos de fazer escolhas e uma idade em que podemos determinar nossas escolhas... Acho que cheguei a esta idade...
Então, decidi escolher-me. Decidi escolher o meu presente, um presente que me escapa a cada nova manhã. O tempo gosta de jogar dados, mas eu há muito abandonei o jogo. Eu sou o meu tempo. E sinto atravessar um tempo precioso: o do amadurecimento do coração.
Ainda farei aquela viagem, quem sabe para visitar amigos distantes. Quem sabe lá reencontro a criança que brincava feliz e que dorme em mim esquecida?

domingo, 19 de junho de 2011

"O amor se diz de muitos modos, mas só há uma forma de senti-lo" (BAR)

                                                  Releitura
Relacionamentos – Arnaldo Jabor

Decidi reler o texto Relacionamentos de Arnaldo Jabor, que figura aqui neste espaço, a fim de fazer uma leitura mais cuidadosa. 
O título do texto – Relacionamentos – já nos permite situá-lo num domínio semântico. Vamos ao dicionário. Na Enciclopédia e Dicionário Koogan Houaiss, encontramos, no verbete relacionamento, o seguinte:

“ato e efeito de relacionar/ amizade/ intimidade: travar relacionamento com alguém”

Como não nos satisfaça essa definição, vamos buscar o significado de seu derivante, relacionar. Destaco o que nos interessa:

“travar conhecimento com pessoas, fazer amizades/ manter relações”

É claro que as definições do dicionário pouco nos ajudaram a compreender o sentido de relacionamento no texto de Jabor e basta que comecemos a leitura para nos certificar de que relacionamento envolve relação afetivo-sexual entre um homem e uma mulher.
Já no limiar do texto, o autor rejeita a construção ideológica de amor do discurso romântico, já que, ao contrário do que veicula e prescreve essa formação discursiva, relacionamentos não duram para sempre. Os ideias de unidade, eternidade e sublimação atribuídos à experiência amorosa são desconstruídos, como se vê em:

“Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa.
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa quanto tempo?
- Cinco anos... Mas não deu certo... acabou
- É não deu...”

Note-se que se recupera aqui uma situação discursiva típica do cotidiano, em que os interlocutores compartilham uma representação da experiência amorosa. O fim do relacionamento é uma contrariedade em face das expectativas projetadas. É a realidade rejeitando nossos modelos ideológicos de felicidade.
O autor insistirá em que o parâmetro para avaliar a importância de um relacionamento não é a expectativa do ‘até que a morte nos separe’, mas quanto dele nos beneficiamos no tempo em que nos foi possível vivê-lo.
Se me permitem fazer uma observação que me parece pertinente, o autor instaura, em contraposição à visão romântica, uma visão que poderia chamar de realista. Essa visão realista admite a contingência, os versos e reversos e adversos da vida. Essa visão realista situa a experiência amorosa ou o relacionamento afetivo-sexual no domínio do real e não do imaginário, tipicamente romântico.
No entanto, convém notar que ele não deixa de aderir à visão predominante de nossa época: a do império do efêmero. Segundo ele, “o bom da vida, é que você pode ter vários amores”. Assim, os amores vão e vêm. E não nego a importância de experienciarmos muitos relacionamentos amorosos, já que disso depende nossa maturidade afetivo-emocional; mas discordo de que todas as experiências amorosas estão fadadas a ter um fim.
Outra forma de rejeitar o ideal romântico consiste em negar ao relacionamento a possibilidade de completude. O outro com que nos relacionamos não tem o papel de nos completar, porque ambos são inteiros, indivíduos que se bastam a si mesmos. Estou de acordo em parte. Um relacionamento deve enriquecer, e não preencher uma falta. Mas relacionamentos amorosos nos descentram; no amor, não há espaço para a centralidade do ego. Há, aqui, uma perspectiva influenciada pelo discurso da psicologia. Veja-se o que se segue:

“Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não lute, não ligue, não dê piti. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não”

O autor nos mostrará que relacionamentos não seguem os scripts de nosso coração. Há perdas e ganhos, isso é inevitável. É preciso aprender a lidar com isso e nossa felicidade, com ou sem a pessoa amada, depende de como lidamos com as nossas frustrações, com as expectativas não realizadas, com o que deixamos de viver juntos. De certo modo, ele nos chama a atenção para a restituição do ‘eu’ que acaba, não raro, por se dissolver no relacionamento com o ‘outro’. É quando, apaixonados, nos perdemos no outro. Convém, no entanto, não assumirmos comportamento individualista que nos impede de nos relacionar. Por isso, insiste o autor “a pior coisa é gente que tem medo de se envolver”. Temer o envolvimento jamais! Relacionar-se afetivamente depende de uma abertura anímica, de uma entrega.
Em síntese, o que aprendemos é que o amor adulto não se refugia no imaginário, mas se desnuda nas inconstâncias, flutuações e contingências da vida. O amor é o quanto nos doamos, desejamos e nos desapegamos e nos preparamos para seus novos vôos; é o quanto priorizamos, o quanto nos reconhecemos imperfeitos e irracionais. Não há regras, não há parâmetros. Há apenas a vida do amor, que pode ser mais ou menos breve, mais ou menos intensa, mais ou menos extasiante. Enfim, no amor maduro “não há garantias”.
Que não há garantias, está bem; mas creio em que o amor é uma temática que tem implicações existenciais muito sérias. Quero, antes de pôr termo a este texto, refletir um pouco sobre a seguinte passagem:

“Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Antes de me deter nessa passagem, vale dizer que amar é estar vulnerável. É não ter medo de envolver-se e de decepcionar-se. Há pessoas que preferem ficar à superfície, por medo de experimentarem dissabor, ilusão e decepção. Não ama quem tem medo de acumular algumas feridas na alma. A realidade do amor não compreende apenas campos floridos, para além destes haverá campos áridos e desérticos; não há só abundância, mas haverá escassez e períodos de seca.
É verdade que o nascimento e a morte são acontecimentos que experienciamos sozinhos. Mas usar isso como argumento para a necessidade do desapego é perigoso, porque não podemos nos esquecer de que existir é estar em relação com. Existir é movimento para o outro. Em outras palavras, nosso nascimento inaugurará uma série diversa de relacionamentos, que se iniciam em casa, com a nossa mãe e nosso pai. O ser humano é ser social, ser para a sociabilidade. E amor é relação. Mesmo quando amamos a nós mesmos, significa dizer que nos relacionamos com nós mesmos. E quantos de nós gostaríamos de morrer sozinhos?
Se, por um lado, nascemos “sozinhos”, não fomos preparados para viver sozinhos. A sociabilidade é algo inerente à nossa condição humana.
De uma perspectiva linguístico-discursiva, pensamentos são compartilhados, porque são formados nos discursos socializados. É claro que essa talvez não tenha sido a concepção do autor, pois que ele se refere a um pensamento auto-consciente, um pensamento subjetivo que se sabe de si mesmo. Sucede, contudo, que, ao nos relacionar, compartilhamos pensamentos, especialmente aqueles de que nos servimos para conduzir o relacionamento para um destino venturoso.
Acho que o amor, na fase adulta, nos põe diante do problema de manter a integridade do “eu”, sem centralizá-lo, sem conferir-lhe a primazia, ao mesmo tempo em que é preciso, descentralizá-lo, fazê-lo participante da vida do outro, sem privá-lo, sem cercear o domínio de sua atuação. Novamente, estamos diante do dilema: somos dois desejando um só. Não se conclua daí que somos “uno”, mas que o amor nos coloca num único sentido: o da reciprocidade.
Bem, o amor na fase adulta deixa de habitar nossos diários, para habitar a realidade mesma do cotidiano. O amor não é uma experiência conveniente nos momentos em que nos sentimos entediados, não é um passatempo, embora deva nos entreter; mas é uma experiência que deve constar da nossa agenda, que deve estar entre as experiências que escolhemos viver. Para uns, pode ser um momento, alguns dias, umas horas; para outros, pode ser um projeto, que é preciso iniciar e construir. Para uns, pode ser apenas um dos meios para se alcançar a felicidade; para outros, pode ser o fim último da felicidade, seu ápice.
Seja como for, na fase adulta, o que sabemos sobre o amor é que só aprendemos a amar amando. E isso não significa que nos tornaremos diplomados. Longe disso. O amor é uma singular experiência que a alma nunca alcança completamente e que o corpo deseja ardentemente, sem nunca conseguir abrangê-lo. O que sabemos talvez é que o amor exige a conjugação do corpo com a alma; exige, pois, a pessoa inteira (com seus desejos, sonhos, medos, raiva, frustrações...). Ele exige um retorno, uma doação de nós mesmos. Priorizá-lo ou não dependerá de nossa maturidade e do quanto já caminhamos na longa estrada que ele abre diante de nós.


sábado, 18 de junho de 2011

o nosso amor a gente inventa pra se distrair...







Criação

Ao amor
Bastam duas coisas:
Grandes doses de sensibilidade
Para viver
E uma embriaguez
De compreensão
Para não entender
Embebedada a razão
O resto
A gente inventa
Com o gênio do coração
Sem saber por quê

(BAR)

Poeminha noturno para nossos incansáveis corações...Para ler só à noite...



Infância


Para viver a profundidade do amor
Convém retirar dele o peso da alma
Porque no amor
O que sobra é nossa infância
E sua inocência

Que sabemos dele?
Tanto quanto sabem as crianças
O suficiente para nos alegrar
Assim são as crianças
Elas se alegram
E não se preocupam
Em explicar

Quanto mais queremos entender o amor
Tanto menos tempo nos sobra
Para amar

O amor
Se vive
No que ele tem de inexplicável
A poesia do amor
É seu silêncio
Indizível
Contido inteiro num olhar
No cheiro que excita
No sabor que delicia
Na vontade incontida
de se entregar

(BAR)

Arnaldo Jabor - o gênio do cotidiano...

Relacionamentos

Arnaldo Jabor


Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:-

'Ah,terminei o namoro...'
- 'Nossa,quanto tempo?'
- 'Cinco anos...Mas não deu certo...acabou'
-É não deu...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam. Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro? E não temos esta coisa completa. Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama. Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel. Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador. Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga...se não bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta. Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não lute, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família? O legal é alguém que está com você por você. E vice versa. Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar,seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia? Gostar dói. Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo. E nem sempre as coisas saem como você quer...A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível. Na vida e no amor, não temos garantias. E nem todo sexo bom é para namorar. Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. Nem todo sexo bom é para descartar.Ou se apaixonar. Ou se culpar.Enfim...quem disse que ser adulto é fácil?

Um leitura de Jabor

    Relacionamentos
          Um sobrevôo do espírito

Estive na PUC para dar uma palestra esta semana. Participei de um congresso de PLE (Português língua estrangeira). Convinha aproveitar a oportunidade para não só divulgar o tema de minha tese de doutoramento, mas também enriquecer um pouco mais o currículo. Lá encontrei alguns colegas com os quais compartilhei bons momentos no curso de especialização e nas aulas presenciais do doutorado. Bons tempos! Aproveitei para comprar dois livros, com preços promocionais. Essa é outra vantagem de ir a congressos. Senti-me contente e minha alma imbuiu-se de um espírito acadêmico que me agrada, se bem que eu dispense a vaidade peculiar aos indivíduos desse meio.
Bem, mas não é à minha satisfação acadêmica que reservo estas palavras. Quero escrever sobre o texto de Arnaldo Jabor, intitulado de relacionamentos – texto a mim oferecido pela dileta amiga Cláudia, a quem agradeço. Não se trata de uma análise, mas apenas de uma ligeira reflexão. Nada densa. Será um sobrevôo tênue e superficial de meu espírito.
Há tanta verdade nas palavras dele, que me assusto. Digo, fico perplexo, emudecido. Confesso que me custa escrever este texto. Que tenho eu a acrescentar em face de “Não fique com alguém (...) por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós”?
Acho que a significação das crônicas de Jabor é o seu poder de dizer o essencial. Esse essencial é, muita vez, expresso na sua forma nua e crua, sem mais colorido, sem contornos românticos. O prova a passagem “Na vida e no amor, não temos garantias”.
Agrada-me também a passagem:
“Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele”.

E o que dizer desta outra?
“E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.”

Não a completude, pois que somos pessoas inteiras, mas sim o acréscimo. Um relacionamento amoroso, para mim, hoje, deve acrescentar, e não subtrair, tampouco completar; pois que solidão não é falta, nem ausência; é presença plena de si mesmo.
Outra mais:

“Existe gente que precisa da ausência para querer a presença”

O que nos ensina Jabor? Muita coisa, é claro. Que o amor é prática, é convívio, é carne, é desejo, que o amor não é uma aritmética e que, assim como a vida, é imprevisível. Que o amor deve ser vivido no tempo e não projetado para além do tempo, para um vazio de um tempo que ainda não somos. Que não se preenche a ausência de uma experiência amorosa com outra experiência amorosa imediata. O amor acontece, não se procura. Namoro é envolvimento. Amor é sexo e pouco importa a posição. Amor é reciprocidade de duas individualidades que se acrescentam e não se completam.
Amor não deve preencher um vazio, deve inundar nossa alma de graça.
Em suma, que o amor, na fase adulta, deixa as regiões imaginárias do espírito juvenil encantado e sonhador, para habitar o concreto da realidade com suas flutuações, intempestividades, inconstâncias e desacordos. Eis o amor maduro, aquele que não nos vem empacotado, embrulhado e pronto para caber na simetria de nosso coração. Na fase adulta, o amor é um projeto, cujo valor, para alguns de nós, se medirá pelo quanto nos permitimos nos envolver, a despeito de suas deformidades.