sexta-feira, 21 de maio de 2021

“(...) para que moral?, quando vida, natureza e história são “imorais”? Não há dúvida, o homem veraz, no ousado e derradeiro sentido que a fé na ciência pressupõe, afirma um outro mundo que não o da vida, da natureza e da história; e, na medida em que afirma esse “outro mundo” - não precisa então negar a sua contrapartida, este mundo, nosso mundo? ... " (Nietzsche)






 

A NOSSA RESISTÊNCIA

 por uma desmitificação niilizante do homem

 

No curso de minhas reflexões sobre o fenômeno multívoco, heterogêneo, polimórfico do niilismo, para a produção de minha segunda tese de doutorado, a questão da crença na linguagem, tal como abordada por Nietzsche no contexto de sua análise destrutiva da metafísica e da moral platônico-cristã, impõe-se a mim como uma tarefa pedagógica de uma vida inteira, pois que, enquanto professor e estudioso da linguagem, tenho de lidar com a insistência com que o macaco pelado, que é o homem, crê na relação especular entre a linguagem e o mundo, crê na correspondência entre as palavras e as coisas. É com base nessa crença que o animal humano criou o mundo simbólico - o mundo da cultura -, esse outro mundo entretecido pelos signos. A crença na linguagem é o fundamento da crença na verdade. É por manter uma relação metafísica com a linguagem que o animal humano cria, sem que o saiba, um mundo de ficções metafísicas a serviço da negação da vida (Deus, Ser, Identidade, Verdade, Razão). Ora, a própria ideia de Deus é produto da metafísica da linguagem. Como diz Nietzsche, em O Anticristo:

“Todo esse mundo de ficções tem a sua origem no ódio contra o natural - contra a realidade! - é a expressão de um profundo descontentamento com o real”.

Sim, de fato, o perigo não reside propriamente no caráter ficcional, na invenção, que Nietzsche, com razão, diz serem condições necessárias à sobrevivência desse animal fabulador que é o homem. Há ficções úteis à vida. O perigo repousa no fato de que as ficções criadas por ele são tomadas como critérios de verdade, de uma verdade que lhe dá supostamente acesso a um “mundo verdadeiro”. E essa crença no “mundo verdadeiro” fundamenta e orienta ainda hoje a existência do homem comum, que dorme e acorda nutrido pela crença de que goza de um privilégio ontológico relativamente a tudo mais que existe no Universo.... E nem mesmo o coronavírus conseguiu curar o animal humano de sua loucura.

O homo sapiens é homo demens!

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