O prazer de ler Gramsci:
O LUGAR DOS PROFESSORES DE PORTUGUÊS
Numa
sociedade estratificada, como a nossa, a conquista do consentimento e da
hegemonia decorre de um trabalho discursivo cuidadosamente pensado e elaborado
por instituições que sustentam uma estrutura ideológica da sociedade. No
Brasil, constituem exemplos dessas instituições a imprensa, a Igreja e a
escola. É por meio do DISCURSO que se constrói o consentimento. Por isso, o
conceito de hegemonia, desenvolvido por Gramsci, é
especialmente importante para os analistas do discurso.
Pelo
discurso, muitas mulheres incorporam a ideologia patriarcal e sexista contrária
aos seus interesses, e muitos trabalhadores assumem a ideologia burguesa também
desfavorável às suas aspirações.
Naturalmente,
o consentimento tem de ser conquistado sem que pareça ser uma dominação: ele
precisa aparecer como algo espontâneo. Gramsci entendia que o consentimento e a
perpetuação da relação de dominação são conquistados por meio do discurso, o
qual se estrutura por dispositivos que recriam e põem em circulação
continuamente pressuposições ideológicas, que são tomadas como naturais e
pertencentes ao senso comum.
A
hegemonia - a saber, o poder de uma classe economicamente dominante sobre a
sociedade como um todo, nunca é estável. É por ser um fenômeno instável que ela
pode ser questionada e transformada. Sua instabilidade atrai o interesse dos
analistas do discurso, cujos trabalhos se produzem com vistas a contribuir para
a transformação das estruturas de poder.
Ler
Gramsci é aprender que o sistema educacional não deve apenas formar
trabalhadores em busca de emprego ou intelectuais pequeno-burgueses que sejam
subservientes à administração do Estado. Gramsci nos leva a pensar uma escola
que articule o ensino técnico-científico com o saber humanístico.
Que
nossos professores e estudantes se beneficiem de uma formação que ultrapasse a
formação técnica é o que devemos pretender. Os professores, uma vez
experimentados nos estudos do discurso, poderão e deverão dedicar-se a
desenvolver em seus alunos o senso crítico, e não mais limitar-se - como tem
sido hábito - a prepará-los para o vestibular ou para o ENEM. Gramsci advogava
que o ensino deve promover a superação do senso comum, que, para Dijk, é uma
forma de ideologia. Somente superando o senso comum, estarão eles prevenidos
contra a naturalização dos discursos. O senso crítico é indispensável para que
os indivíduos façam escolhas conscientes e, assim, possam adotar concepções de
mundo que não lhes sejam ideologicamente desfavoráveis.
(BAR)
Ótimo texto.
ResponderExcluirEstou lendo "O Livro da Sociologia" da coleção "As Grandes Ideias de Todos os Tempos", da Globo Livros, e o livro apresentou esse pensamento: "O desafio da modernidade é viver sem ilusões, sem se tornar desiludido.", de Gramsci, ai, pesquisando na internet, encontrei o seu blog.
Parabéns pelo texto.
Obrigado. :)
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