domingo, 10 de julho de 2011

"Toda esperança é vã numa vida destinada a ser finita" (BAR)

                    
                         

                                        Especulações dominicais
                                               Sobre morte e amor

Toda esperança é vã à vida destinada a ser finita. Não lembro onde li ser a esperança válida só para quem espera. Eu nada espero. A manhã deste domingo convidou-me a recolher-me junto aos livros. Apanhei cinco livros, que estavam na prateleira, se bem que só  li algumas páginas de quatro deles. Dentre eles, destaca-se o livro O amor em palavras: o discurso amoroso em questão (2011) presenteado a mim por uma aluna minha do curso de Letras, a quem muito agradeci o carinho. A autora do livro, Isabel Osório Tubino Do Coutto, veio entregar-me um exemplar e estampou-me na folha de rosto uma dedicatória. Senti-me honrado, evidentemente, e trocamos algumas poucas palavras sobre meu interesse em Análise do Discurso (já que a pesquisa de que o livro é um produto foi orientada nessa linha teórica).
Comecei a leitura hoje, por isso me custa fazer qualquer avaliação. É claro que o tema me é caro e que a proposta do trabalho afina-se com as teses já por mim propaladas em meus textos destinados à discussão sobre a experiência amorosa. O objetivo da autora é pensar o amor por meio da prática discursiva. O que disseram e o que dizem os homens sobre o amor historicamente? Quem é o sujeito que diz? A ênfase da análise recai, aliás, sobre o conceito de sujeito, tão caro ao analista do discurso.
Uma frase se destaca na Introdução. Escreve a autora:

“Falar de amor implica deixar a desejar, por mais que se diga, sempre vai ficar faltando alguma coisa”
(p. 22)

O sujeito escolhido pela autora é o adolescente. Assim, sua preocupação recaiu sobre a análise de redações de alunos do ensino fundamental de uma escola pública. Nestes trabalhos, os alunos foram solicitados a definir amor e paixão.
Conceitos como formação discursiva e formação ideológica são fundamentais numa análise que se oriente pelos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise do Discurso. Nesse sentido, citando um autor como Jurandir Freire Costa, em Sem Fraude nem favor, Coutto traz à cena as três formações ideológicas em que se situa o amor em nossa cultura:

“ é um sentimento universal e natural;
é um sentimento surdo à “voz da razão”;
é condição sine quan non da felicidade”.
(p. 19)

A ideia de que sem amor nada faz sentido é recorrente no discurso do adolescente, consoante nos dão testemunho as redações analisadas. O que é preciso saber é que esse sujeito que diz do amor está inscrito no processo sócio-histórico de produção de sentidos, mesmo que ele não tenha consciência disso. E ele não pode evitar essa ligação. Dizemos sempre de um dado lugar social e nosso dizer se insere num conjunto historicamente estabelecido de acontecimentos internos ou externos ao texto, ou seja, numa memória discursiva. Ademais, todo discurso instaura um interdiscurso (a presença de diferentes discursos no interior de um dado discurso). Na verdade, todo discurso está calcado em discursos anteriores, ao mesmo tempo, que instaura a possibilidade do aparecimento de outros discursos. Cada palavra enunciada mantém relação com o silêncio fundante. Cada vez que enunciamos ou produzimos um discurso “abrimos” espaço para o silenciamento, porque nenhum discurso diz tudo. A crença na possibilidade de se dizer tudo é efeito da ideologia. A ideologia representa a transparência do sentido e seu fechamento. Sucede, contudo, que os sentidos estão “abertos”. Eles tomam diferentes direções; e a linguagem é opaca, não transparente. Devemos sempre ter em conta que o sentido pode ser outro, que ele não está ali ‘boiando no texto’, mas é produzido sócio-historicamente. Por isso, em Análise do Discurso, fala-se em um processo sócio-histórico de produção de sentidos, de cujo curso o sujeito é instado a participar.
Como campo interdisciplinar, que congrega o materialismo histórico, a Lingüística e uma teoria do discurso, a Análise do Discurso pensa o discurso na sua relação com a História. Em outras palavras, o linguístico é indissociável do histórico. Assim, a produção de sentidos é conseqüência de processos históricos determináveis discursivamente.
A esta altura, talvez o leitor se pergunte o que tem a ver o início deste texto, em que considero a esperança com o seu desenvolvimento até aqui. Acredito que a coerência comece a se lhe afigurar doravante.
Meu cachorrinho está velhinho, magro, cego e surdo. Vive choroso e batendo com a cabeça nas coisas; às vezes, me deparo com ele parado diante da parede. Uma cena trágica de nossa condição de seres vivos, seres destinados ao envelhecimento, à enfermidade e à morte. O pouco tempo de vida que resta ao meu cachorrinho aviva-me a consciência da fragilidade da vida e faz-me, inevitavelmente, retornar ao que, para mim, é essencial: o amor.
O livro, aqui mencionado, lembra-nos a importância da experiência amorosa em nossas vidas; traz-nos à consciência o valor do amor como condição de felicidade. Muitos homens e mulheres acreditaram (e ainda acreditam) que o amor é condição para a felicidade; portanto, que esta só pode ser plenamente alcançada na experiência amorosa. Como bem observa a autora, o amor sempre foi considerado signo de felicidade. Ao contrário, segundo ela, acredita-se que quem não ama é infeliz (p. 16).
Este texto não resulta da intenção inicial que tomava forma em meu espírito. Inicialmente, pretendia escrever sobre o valor do conhecimento, da linguagem e sobre minha relação com esses dois valores. Nada muito diferente do que costumo tratar neste blog; no entanto, uma vez avivada a consciência de que a morte chega a todos nós, seres vivos, pressentida no sofrimento de meu cachorrinho, preciso declarar, enfaticamente, que O AMOR É O MAIOR VALOR DESTA VIDA.
Se, por um lado, é vã toda esperança; por outro lado, ainda desconfio de que minha felicidade amorosa está ligada a um ser que ainda não conheci. Talvez, alguém sensível e inteligente o bastante para apreender essa inquietante relação entre morte e amor, uma relação que nos constitui, enquanto seres destinados a morrer. A morte é um fantasma que dorme conosco todas as noites; o amor é uma forma de exorcizá-lo quando acordamos, ou uma força que nos encoraja a enfrentá-la.
O valor máximo do amor está na consciência aguçada da morte. Morte como fato inevitável; amor como possibilidade sempre e incansavelmente desejada.
Pobre do homem que no intercurso entre o nascimento e a morte não soube o que é amar e ser amado. Se, como se diz, a morte é que dá valor à vida; é só o amor que é capaz de sustentá-lo e justificá-lo. Um coração acumulado de amor é mais satisfeito e pode, assim, cumprir seu destino: a morte.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Não temos tempo a perder...

                                                   




 Enquanto houver vida


Estas horas invernais
Em que o frio congela
Caem como fogos infernais
Na alma que não cessa

De desejar o AMOR
De que está grávido o sonho
Tenho medo de viver sozinho
Porque nasci sozinho
E morrerei sozinho

Nunca dantes estive tão em paz
Uma paz que me alegra
Que me entedia
Que me consola
Que me concilia comigo

Estou tão acostumado à tristeza
Que agora me afeiçoei à alegria
Tímida
Bem vestida
Comportada

A tristeza me apertava
Sufocava-me a alma
Prefiro vestir a alegria
Simples
Fugaz
Do momento

Quando não penso
Que tudo deve ter um fim
Mesmo a vida
Tão fugidia
E inexplicavelmente
Inquietante

Ah! A vida terá um fim
Mesmo que ignoremos
Mesmo que fiquemos
A planejar simplesmente
A esperar

Que aconteça
O sonho que deixamos de sonhar
o futuro a quem pertence?
Se nos resta o presente
Que respiramos
Enquanto há vida
E o desejo de amar

(BAR)


Quem acredita (nunca) alcança...





                  
  Mais é claro que o sol vai voltar amanhã


Nunca me calei a respeito de minha inclinação a acolher as reflexões ateístas; creio, todavia, que foram poucas as vezes em que eu declarei ter aprendido mais sobre a Bíblia, de cuja leitura, deveras, não me ocupo, lendo alguns autores ateístas ou agnósticos. Dentre eles, destaca-se, pela contribuição, Bart. D. Ehrman, autor de O problema com Deus. Ehrman é um dos maiores especialistas do mundo nos estudos do Novo Testamento e das origens do Cristianismo e, antes de tornar-se agnóstico, foi pastor numa igreja anglicana nos Estados Unidos. Certamente, não só uma autoridade nos estudos bíblicos, mas também alguém que exerceu a função de ministro ordenado pela igreja.
Este texto não se destina à reflexão das contribuições do pensamento ateísta. Não pretendo apresentar argumentos contrários à crença na existência de um ser Todo-poderoso e inteiramente comprometido com a existência humana. Quero discorrer sobre o ensinamento do livro Eclesiastes, um dos livros sapienciais das Escrituras hebraicas. O próprio autor, ao destinar uma seção para uma breve leitura desse livro, observa ser ele um dos seus livros preferidos da Bíblia. Como todos os livros estudados por Ehrman, o Eclesiastes não dá conta da pergunta: por que existe tanto sofrimento no mundo? Trata-se de uma questão insolúvel. Claro, se Deus existe e é infinitamente benevolente, por que tanto sofrimento no mundo?
Comecemos notando que o Eclesiastes se distingue dos demais livros, como o dos Provérbios, na medida em que a sabedoria apresentada naquele livro não resulta do acúmulo por gerações de sábios, mas

“é baseada nas observações de um homem enquanto pensa na vida em todos os seus aspectos e na certeza da morte”.
(p. 166)

Esse homem comum que transmite sua sabedoria, após refletir sobre as condições da existência no mundo, não está interessado em responder àquela questão anteriormente mencionada. O Eclesiastes ensinará que a vida frequentemente não faz sentido e que, ao cabo de tudo, todos nós, indiscriminadamente, morreremos. A morte é a única certeza que temos. Não sabemos se a vida tem algum sentido; mas sabemos certamente que um dia vamos morrer.
O autor nos esclarece, à página 168, que a palavra-chave para entender o Eclesiastes é vaidade. O ensinamento aí presente é bem simples: tudo é efêmero, fugaz e, portanto, é inútil se apegar aos prazeres terrenos. Vejamos o que se encontra no limiar daquela página:

“(...) Toda a vida é vaidade. Ela passa rapidamente e se acaba. A palavra hebraica é hevel, que também pode ser traduzida como “vazio”, “absurdo”, “inutilidade”. Hevel literalmente se refere a um vapor que se desfaz, assim a ideia básica é algo como “fugaz”, “efêmero”. A palavra aparece cerca de trinta vezes nesse livro relativamente curto. Para seu autor, tudo no mundo é efêmero e destinado a logo acabar – até mesmo nós. Dar valor e importância em demasia às coisas deste mundo é inútil, vão: todas as coisas são fugazes, efêmeras.”
(p. 168)

Desde já, deve-se rechaçar a ideia de que, em face de tal condição, o suicídio seja inevitável. Tampouco, tem a vida menos valor. Em sete momentos do livro, o autor do Eclesiastes recomenda aos leitores que devem “comer, beber e ser felizes”; ou seja, devem desfrutar a vida enquanto têm tempo. Assim, devemos estar certos de que a única coisa boa que temos é a vida mesma. Ela é o único valor.
Convém aqui dizer que o autor de Eclesiastes acredita não haver uma vida melhor após a morte e que recompensas e punições são distribuídas não segundo o mérito de cada um e que tal distribuição depende do acaso. Não há recompensas para os bons e os sábios, nem castigos para os injustos depois da morte. Para ele, vida é. A vida é tudo que existe. Nesse sentido, parece esboçar o pensamento existencialista desenvolvido por Sartre. Aqui, parece possível inferir o conceito de facticidade, ou seja, uma designação que recobre a ideia de que a existência pertence à ordem do fato e não é necessária, pois que não tem nenhuma razão que a fundamente. As coisas estão aí, simplesmente como são, sem necessidade nem possibilidade de ser de outra forma. Por isso, em Sartre, a existência é absurda. Não há uma razão suficiente que a justifique. As coisas estão aí e eu estou entre elas; isso é um fato. Nossa consciência, então, apreende a si mesma como um fato.
Segundo o ensinamento do Eclesiastes, é inútil acumular riqueza, pois que, se um dia iremos morrer, tudo que acumulamos será herdado pelas gerações seguintes. A riqueza é transitória.
Também uma enorme quantidade de prazer desejada é inútil, porque o corpo perece. Nós envelheceremos, adoeceremos, sentiremos dor, sofrimento e morreremos. Qual é, então, o sentido de desfrutar grande quantidade de prazer?
Quando jovens, nós não estamos, em geral, preocupados em pensar sobre as questões ventiladas pelo Eclesiastes. Quero dizer, não estamos preocupados com o que podemos fazer no tempo que temos de vida, estando sempre conscientes de que a vida nos pode ser tomada a qualquer momento por uma fatalidade. Quem poderá garantir que você, leitor, estará vivo daqui a um mês, ou um ano? Embora goze de boa saúde, quem lhe poderá garantir que a vida lhe será abreviada por um acidente?
Assistindo às reportagens sobre o velório do ex-presidente Itamar Franco, e vendo aquela gente em torno de seu caixão, pensei: será mesmo só isso a vida? A pessoa , o ser Itamar Franco expirou completamente? Tudo aquilo que experimentou, que o alegrou, que o emocionou; toda a sua significação humana terminou ali naquele caixão?
Cada um de nós é uma história subjetiva encarnada. Cada um de nós é um pequeno universo, extremamente complexo, de experiências, de desejos, emoções, sentimentos, significações. Todo esse complexo se extingue completamente com a morte? É só isso? E os que já nascem sofrendo? A morte é credor universal, recairá sobre todos; mas uns sofrem mais do que outros, embora todos sofram em alguma medida. Alguns sofrem desde que nascem, outros virão a sofrer mais tarde. A intensidade do sofrimento pode variar, mas a morte para todos virá.
Então, nos resta apenas a vida, cerceada no tempo. Segundo o IBGE, a expectativa de vida dos brasileiros é de pouco mais de 71 anos. No Japão, esse índice ultrapassa os 80. É claro que a diferença será determinada pelas condições socioeconômicas mais ou menos favoráveis.
Evidentemente, estar consciente da morte não significa saber quando vamos morrer. E acredito que a possibilidade de darmos valor à vida, ou de construir-lhe um sentido depende dessa incapacidade de prever o dia em que morreremos.
A existência do ser humano se desenvolve, então, entre dois extremos: o incognoscível que precede o nascimento (não sabemos donde viemos) e o incognoscível de que a morte está grávida (não sabemos se vamos para outro lugar, depois da morte).
Freud ensinava que o ser humano busca o prazer e, consequentemente, tenta evitar o desprazer. Aristóteles, a seu turno, preconizou a felicidade como o objetivo último da vida humana. Nesse sentido, ser feliz é um bem da alma, que se guia pela virtude. O homem feliz é um homem virtuoso, que não acumula inquietações. Felicidade é ausência de preocupações. A felicidade é resultado de uma atividade bem-sucedida. O homem é feliz quando desenvolve plenamente suas qualidades específicas: a linguagem, a racionalidade e a sociabilidade.
Decerto, grande parte de nossa felicidade depende do bom convívio com o outro. Ter boas relações sociais e afetivas é indispensável à nossa felicidade.
A despeito da brevidade da vida, desde que nascemos, somos projetados para o futuro. Nossos pais são os primeiros responsáveis por essa projeção. Eles esperam de nós, eles nos preparam para o futuro. No entanto, esse “futuro” é sempre escapável, inatingível, no sentido de que ele não é. O futuro é a negação do presente por um breve instante. O futuro, repito, é a não-consciência. O que há é apenas o presente, o presente em que estou aqui sentado em face deste computador escrevendo e você, leitor, do outro lado, em algum outro lugar, lendo. Há duas horas atrás, quando eu ainda não escrevia, só é passado, porque estou consciente do agora em que escrevo e lembro do momento em que ainda não escrevia. Daqui a três horas, quando baterem as seis horas da tarde, o que, agora é futuro, se realizará e, portanto, tornar-se-á presente. A minha consciência só é possível no presente. Tanto o passado quanto o futuro são a não-consciência. É claro que do passado podemos tomar consciência pelo conhecimento e pela lembrança. Mas o meu “eu” do passado só existe pela memória, só é avivado na lembrança.
É possível que, a esta altura, o leitor experimente um sentimento de angústia, mas deve ele contentar-se com o fato de que somos sempre livres para escolher. Nesse sentido, escolhemos quem somos e escolhemos o que fazer do que fizeram de nós. Podemos escolher simplesmente esperar. Conservar a esperança é também uma escolha. Podemos, contudo, escolher agir, segundo um propósito que nos pareça benéfico.
O que não podemos é viver com arrependimento. Creio em que nós devemos viver sem nunca nos arrepender. Talvez, esteja aqui um objetivo relevante para as nossas vidas: evitar o arrependimento.
Quando aceitei o fato de que quem eu sou é resultado das escolhas que fiz e que sempre poderei fazer escolhas segundo a minha vontade e que, portanto, minhas escolhas podem ser de outro modo, reconciliei-me com o mundo, com a vida neste mundo. Esperar demais é perigoso. Agir mais parece melhor. Viver a intensidade de um instante.
Numa vida à qual nos custa atribuir algum sentido, creio ser válido buscar o prazer no essencial: como no beijo apaixonado, no amor que cultivamos no coração e partilhamos, nos passeios noturnos com a pessoa amada, no sexo com amor, no cuidado com o corpo e com a alma, na alimentação, na saciedade.
Sei que pareço repetitivo, mas, depois de muito meditar, não encontro valor maior nesta vida senão no AMOR. O resto são negócios, aos quais não podemos escapar, mas que estão longe de satisfazer os nossos desejos mais íntimos, mais viscerais, mais urgentes que não cessam de reclamar prioridade e saciedade.
Ponho termo a este texto com uma frase escrita por uma moça distante que conheci no ciberespaço, há muito tempo: “na vida, não existe nada melhor que o amor, pode ter certeza”. Isso só já basta.

sábado, 2 de julho de 2011

sem demora


Sem demora

É já hora de ir
Tenho de me recompor
Olhar adiante um azul tímido
O céu nebuloso ou claro
Tenho de tomar a rua
O caminho a que sou obrigado
Tenho de ir
Embora eu queira ficar
Aqui
Sozinho
Com o meu coração
Ele me cansa
Ele me pesa
Ele não cessa
De tanto exigir
Tenho de ir
Sem demora
Sem hora
Mas quero ficar
Esperar
Que uma nota de alívio
Me caia da alma
Uma fagulha lírica
Um estilhaço de inspiração
Um pedaço de sentimento
De alegria
Um silêncio fugidio
Qualquer coisa
Que me faça compreender
Uma alma que só quer amar

(BAR)

domingo, 26 de junho de 2011

"O amor se diz de muitos modos, mas só há uma forma de senti-lo" (BAR)




                                                                             


                                                                     
                                                                         Inveterado

Quero o amor de sempre
sonhado
Exagerado
Veemente

(BAR)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Quem alcançar o fundo de minha alma descobrirá que sou um homem incomum. Depois disso, só resta o meu mistério..."(BAR)

      


       Guardado em mim



Um dia, terei coragem e ousarei estampar em letras grandes os adjetivos hiperbólicos e doces de minha alma. Talvez, estampe a profundidade de meu espírito que tanto pesa nas páginas em que me derramo. Talvez, ponha a nu todas as horas, os dias, as semanas, os anos, a vastidão do tempo em que me dediquei ao meu aperfeiçoamento intelectual e cultural, para tornar-me também mais interessante, desejável, admirável e singular.
Talvez eu faça como fazem tantos outros que pedem um amor e que recorrem à rede virtual desejando tornar concretos laços virtuais. Talvez, me arrisque mais, ou não. Talvez, eu ignore tudo isso e rasgue os meus versos.
Ou talvez não. Talvez me ria da cegueira de tantos corações e me divirta com a ingenuidade de tantos que desejam o ou a salva-vidas de seus corações que vivem à deriva. Talvez, eu simplesmente paciente e me detenha num caminho qualquer...
Talvez, eu me refugie, ou talvez eu exale a delicadeza de minha espiritualidade e continue inquirindo o Absoluto sobre a extensão da injustiça. Talvez, eu apele aos astros, à conjugação dos signos, às cartas que mentem o destino. Talvez, eu levante as saias do futuro, e lhe arranque o pudor, a decência.
Ou talvez deixe a noite inundar-me a alma de alegria ao reconhecer-me em mim mesmo. Talvez, eu morra de paixão por mim. E me ame por toda a eternidade que se derrama em cada nova manhã.
Talvez, assim, ficarei satisfeito.
Certamente mais contente, morando em mim, onde não me perco.

"Que tudo que ofereço é meu calor, meu endereço..."



                                        
                                    
                                            Onde está o AMOR?

Procurado!
O AMOR
Onde está?
Está no silêncio de tua alma
Está no desejo de teu corpo
Está na tua lágrima que reténs
Que derramas por descuido
Está na tua carência, que sufocas


O AMOR está nos teus olhos
Que não vêem
Que se fecham
Quando deveriam se abrir
Está no teu coração
Que bate num vazio
E espera num porvir
Que não há
Porque tu estás inteira
no presente!
Ausente...

O AMOR
Este fugitivo
Tantos os carecidos
Para onde vai?
Para onde foi?
Longe do coração
Longe da poesia
Longe do infinito
Preso no efêmero

O AMOR
Este incansável transeunte
Por onde anda?
Pobre, maltrapilho...
Para onde vai?
Quem saberá
O seu destino?

E deslizando na superfície
Da pele,
Suores
Calores
Gemidos
Para onde vai, tão emagrecido
De sonhos
De versos
De belos singelos
Suspiros
Da alma

Para onde vai
Esse andarilho?

(BAR)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

         

                               Reversos da alma


Ontem,  conversei com uma secretária kardecista. Bem humorada, ela me contava de amigas que diziam não querer voltar mais a este mundo material. Elas acreditam estar já cumprindo as provas que elas mesmas se impuseram. Como bem observou a moça, os espíritos mais adiantados escolhem as provas por que devem passar com vistas ao alcance de maior adiantamento. O objetivo último é a perfeição, ou seja, o alcance do estágio dos espíritos puros, aqueles que são totalmente desapegados da matéria.
Acordei hoje, e me apressei a procurar um trecho que confirmasse aquela crença, ou seja, a crença segundo a qual os espíritos mais evoluídos podem escolher suas provas. Peguei, então, o livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Trata-se de uma leitura do Evangelho de um ponto de vista espírita. No capítulo Bem-aventurados os aflitos, lê-se, à página 117:

“Não se deve crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo seja necessariamente indício de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas escolhidas pelo Espírito para concluir a sua depuração e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Contudo, provas e expiações são sempre sinais de relativa inferioridade, porque o que é perfeito não precisa ser provado. Um Espírito pode, pois, ter adquirido certo grau de elevação, mas, desejando adiantar-se mais, solicita uma missão, uma tarefa a executar, pela qual será tanto mais recompensado, se sair vitorioso, quanto mais penosa haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parecem nada haver trazido de mau das existências anteriores e que sofrem, com resignação cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus para suportá-las sem murmurar.
(...)
Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação, mas é lícito de que foi escolhida voluntariamente, e não imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso”.

Nunca escondi minha inclinação à doutrina espírita. Há apenas duas doutrinas metafísicas que me agradam: o espiritismo kardecista e o budismo. Ambas tentam explicar os dois extremos da existência: o nascimento e a morte. Ambas ensinam o dogma da reencarnação, que, para mim, é a expressão maior da Justiça do Cosmos. Ou do que prefiro chamar hoje de Mistério. Nesse sentido, aproximo-me do agnóstico.
É simples medir o proveito da crença na reencarnação. Basta tomar um exemplo comum de fatalidade na vida. Por exemplo, uma criança que nasce com alguma deficiência física ou mental. Aliás, a quantidade de crianças nascidas em tal condição é incalculável. Agora, tente explicar por que isso lhe aconteceu. Há, pelo menos, três respostas possíveis. Cientificamente, a causa de tal deficiência é genética. O nascimento é, assim, um acontecimento sujeito às vicissitudes da gestação. Há crianças que saem ilesas desse processo; outras não. Aqui repercute bem aquele verso de uma canção de Tim Maia: “na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri”. Outra resposta que se pode buscar é no padre ou pastor de sua Igreja. Provavelmente, ele lhe dirá: “é a vontade de Deus!”. E você sairá com aquela pergunta latejante: “por que haveria Deus de querer nosso sofrimento?” Mistério. Isso não satisfaz os espíritos mais filosóficos. A terceira fonte de explicação é a do espiritismo. Essa doutrina ensinará que o sofrimento tem uma causa em vidas passadas. Mas aqui também há um problema. Não se pode impingir uma pena a alguém que sequer sabe por que está sendo punido. Ensina a doutrina que Deus teria poupado o Espírito de se lembrar de suas faltas, para que, do contrário, não viesse a recuar diante das dificuldades. A lembrança poderia acarretar-lhe tormentos, aflições, sentimento de culpa. Nesse sentido, a lição, inspirada no cristianismo, é resignar-se em face do sofrimento. Psicologicamente, não vejo vantagem nisso. Todavia, há também que considerar a possibilidade de o Espírito escolher as dificuldades que terá de enfrentar. Nesse sentido, acho mais justo. A escolha depende da vontade de o Espírito alcançar maior adiantamento no plano espiritual, de sorte que possa encurtar seu caminho evolutivo até o estágio da perfeição.
Seja como for, na doutrina espírita, a (re)encarnação é uma necessidade e submeter-se a provações também. A Terra é lugar de expiação e de provas. A verdadeira vida é a espiritual. Este mundo material é apenas um simulacro. É inspirado nesse sistema de crenças que a minha declaração, anunciada amiúde, neste espaço, o sofrimento tece as malhas da existência, ganha um valor inquestionável.
O leitor poderá escolher dentre as alternativas de explicação, aqui apresentadas, ou poderá simplesmente desistir de buscar explicação. De qualquer modo, terá de aceitar o Mistério. Talvez, só desvelado depois da morte. Sucede que o Espiritismo, longe de dar conta de nossas dúvidas mais viscerais sobre a existência, é indiscutivelmente um sistema doutrinário mais comprometido com as vicissitudes da vida.
Se pararmos para meditar um pouco, antes de dormir, na significação da nossa vida, na vida de cada um de nós, seremos levados a crer que a morte não pode significar simplesmente a aniquilação de toda a dimensão de significação de nossa vida. Todavia, a possibilidade de haver uma existência extracorporal não deve ser razão para a desvalorização dessa vida corpóreo-orgânica.
Há um capítulo interessante no Livro dos Espíritos, que trata da afinidade entre os Espíritos. A crença mística e ingênua na alma gêmea é explicada e reinterpretada em termos espíritas. Os Espíritos ensinam haver relações simpáticas e antipáticas entre os Espíritos. Ensina-se que os Espíritos têm afinidade entre si e que o laço que os une é mais forte na ausência do corpo.
Todavia, falar em “metade eterna” é um erro, já que, segundo a doutrina, todo Espírito é completo. A individualidade do Espírito é preservada. A simpatia existe na medida em que um e outro Espírito se atraem por terem inclinações em comum. Se não há almas gêmeas, pode-se falar de almas afins.
As reflexões encaminhadas até aqui abrem caminhos para a consideração de um tema que me é caro: o dos relacionamentos afetivos. Lembro aqui um trecho do texto Crônica do Amor, de Arnaldo Jabor. Nele, o cronista fala daquilo que o amor tem de indefinível:

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. 

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.



Noutro trecho, Jabor questiona sobre nosso insucesso amoroso, malgrado termos qualidades apreciáveis:

“É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?”


A despeito de as experiências amorosas ignorarem qualquer “equação matemática”, qualquer lógica de sentimentos e  de compatibilidade de inclinações, é fato que todos nós, homens e mulheres, buscamos, para efeito de relações afetivo-sexuais ou amorosas, certas qualidades que nos são atraentes. Uns valorizam mais a honestidade, a fidelidade, a cumplicidade, etc; outros buscam a afeição, a espiritualidade, o companheirismo, etc.; mas todos desejam uma só coisa: a reciprocidade de sentimentos. Ou seja, todos nós desejamos a reciprocidade do amor.
As comunidades do orkut, muito embora algumas delas nos pareçam desinteressantes, podem servir de um bom corpus a um pesquisador interessado em investigar o que homens e mulheres têm a dizer sobre suas experiências amorosas. Em outras palavras, eles fornecem testemunho do estado dos relacionamentos na modernidade líquida. Gostaria de referir alguns exemplos. Tomo, para efeito de ilustração, duas comunidades – a primeira denominada de Quero namorar, noivar e casar. No fórum, um rapaz afirma “quero namorada no RJ”. A única mulher que respondeu, escreve o seguinte:

“Bom......eu sou do RJ.....rsrsrs
Eu tbm quero um compromisso serio,porem quando a gente vai conhecendo vemos que ñ é nada daquilo que vcs falam.”

Aqui, a fica clara a desconfiança feminina em face do comportamento de certos homens. Insegurança e desconfiança, aliás, são sentimentos bastante recorrentes nos depoimentos femininos. Vejamos alguns mais. Em outro tópico, um rapaz pergunta Quem ta solteira ae?. Vejam-se as respostas de mulheres:

Eu to!!! Muito decepcionada com vcs homens tb!!! Vcs naum querem nada com nada!!

uhull solteira graças a deus!!!!!!

Há também homens insatisfeitos, que se dizem frustrados, decepcionados e magoados em seus relacionamentos anteriores. A quantidade de pessoas solteiras à procura de reciprocidade amorosa é impressionante! O que me leva a defender que nossa época é a época de homens e mulheres afetivamente carentes. Parece haver uma demanda coletiva por maior profundidade emocional, afetiva, sexual. Em outras palavras, as pessoas desejam ser amadas, embora se demonstrem inseguras e insatisfeitas. A insatisfação é consequência das próprias condições sócio-culturais em que se dão as experiências amorosas, condições marcadas por fragilidade, liquidez de vínculos.
Em outra comunidade, intitulada de Eu quero namorar sério, uma mulher pergunta, em um tópico Vc quer mesmo um compromisso sério? Vamos às respostas:

“INFELIZMENTE HJ EM DIA É ASSIM MESMO: SEXO, CURTIÇÃO....E SÓ, É PELO MENOS O Q A MAIORIA PREFERE,POR ISSO ESTOU SÓ ATÉ AGORA...

JÁ PASSEI POR POUCAS E BOAS, MAS TUDO PASSA,E UM DIA IREI ENCONTRAR ALGUÉM ESPECIAL DE VERDADE, EU SEI DISSO!!!!!!!!
border=0 v:shapes="_x0000_i1025"> “

“Sim comigo já não é a primeira vez em que acontece isso, na verdade eu quero sim algo serio, vc vai em uma balada não encontra ninguem que queira algo serio, muito dificil quase todos só querem pegação, então já desisti de balada, vai em algo mais tranquilo mas ligth só encontra casais então não da, procurei em alguns lugares, estou procurando aqui mas parece que realmente aqui tbem só querem brincandeira.
Tem gente aqui na comu que diz que quer e tal, mas vc entra em contato chama para converssar e a pessoa nem responde, gente vamos parar com isso, se não quiser nada sai fora não faz quem queira perder o tempo precioso.”


A primeira resposta foi escrita por uma mulher; a segunda, por um homem. Ambos demonstram insatisfação com as experiências amorosas. Mas vale dizer que o rapaz está procurando um amor no lugar errado. Experiências amorosas dificilmente começam em “baladas”. O amor é uma graça e como toda graça acontece por uma conjugação de circunstâncias. Discorrerei sobre isso mais adiante.
Vejamos outros depoimentos:


"Seria mais facil, se o caráter viesse estampado na testa".

“Eu quero um namoro sério!!!Mais muitas garotas hoje não estão afim,bom,pelo menos as que eu queria ter um relacionamento.Mais o barato é loko,e eu não vou desistir!!!”

“É gente ...muito complicado...Eu mesma ja passei cada uma ki é de chorar...Hoje em dia vivo muito isolada do mundo, e nem amigos eu tenho mais...dai como não saio sozinha pq é chato, minha única oportunidade de encontrar uma pessoa legal é aki na net... Pq eu não kero farra, kero algo sério...amar alguém ki também keira viver isso...Mas estou na espera...Um dia eu chego lá... bjusss esorte a todosssss”

O primeiro e o último textos foram escritos por mulheres. O último texto revela um mal que nos atinge visceralmente: a solidão. Eu me identifico com esse testemunho. O segundo texto foi escrito por um rapaz, que também se demonstra insatisfeito com o comportamento de suas pretendentes.
Vejamos esta última postagem:

“realmente é dificil condeguir um bom relacionmento serio sei que muitos caras e mulheres tambem não querem nada com compromisso mas não são todos que pensam assim quero u namoro serio mas é dificil achar será que consigo aqui ?”


Quem escreve esse texto é um homem. Num outro tópico, pergunta-se: O romantismo está morto?. A pergunta é feita por um homem. Vejamos algumas respostas:

“naum esta as pessoas que nem sempre se lembram de quanto é bonito e gostoso ser romântico”
(homem)

“Alias, ser romantico hoje em dia é sinonimo de cafonisse.Vc abrir a porta de um carro pra mulher, mandar flores e etc é extremamente cafona segundo as mulheres q conheço e uma q namorei.
Mesmo assim, eu não consigo ser diferente, quero sempre tornar agradavel o momento e pelo menos na minha opinião, tratar uma mulher com carinho, com gentileza nunca é demais....mesmo algumas preferindo q a gente entre no restaurante, no cinema, coçando o saco e pedindo pra elas pagarem tudo...”
(homem)

“Nossa... E eu que pensei que não existissem mais homens românticos! rsrs  v:shapes="_x0000_i1026">
Acho que o romantismo não está totalmente morto, vcs são prova disso... Mas são poucos que realmente o valorizam, poucas pessoas realmente querem algo sério, sejam homens ou mulheres... Para a maioria, namoro é sinônimo de curtição, isso se não preferem o "ficar"... No próprio fórum da comunidade, tópicos como "vc namoraria a pessoa acima" ou "quem procura namorado(a) deixe seu msn aqui" são a maioria!
Mas como vcs, ainda há aqueles que têm saudades dos "tempos antigos"... Que acham lindo, e não "cafona", uma atitude de carinho, um presente inesperado, uma carícia sem segundas intenções, um "eu te amo" de verdade...
Então meninos, não percam a esperança... Garanto a vcs que, se ainda se encontram homens românticos, mulheres românticas também existem, um dia as encontrarão! 
v:shapes="_x0000_i1027">There is still hope..!”

(mulher)

Em outras comunidades do mesmo gênero, há casos muito interessantes, alguns pela comicidade; outros pela carência que expressam. Um rapaz revela que, num site destinado a relacionamentos, em que a pessoa faz seu cadastro e  busca outras pessoas compatíveis, não conseguiu que o site encontrasse tais pessoas. Um outro deseja não passar o Dia dos Namorados sozinho.
Vale notar, de passagem, já que me referi a isso em outros textos, que a concepção de ser romântico, no segundo texto-exemplo, está muito ligada a modos de cortesia e de educação. Mas isso é um reducionismo do conceito “romântico”.
É interessante notar que “ser romântico” é uma qualidade desejada por muitas mulheres, no que diz respeito a relacionamentos com homens. Mas, dada a falta de referenciais, há pessoas que desejam relacionar-se na base de inclinações religiosas, como no caso de um rapaz que procura por mulheres protestantes. Também a religião influencia a escolha de parceiros, muito embora afinidade religiosa não seja garantia de felicidade num relacionamento.
O fato é que homens e mulheres da modernidade líquida parecem patinar com seus corações em terrenos movediços e escorregadios. Faltam a ambos segurança e confiança. A maioria manifesta não só muito desejo de ser felizes nos seus relacionamentos afetivos, mas também muita carência de profundidade nesses relacionamentos.
O que me parece certo é que o outro com quem nos relacionamos é produto do meio educacional em que foi criado. Dizem que, quando nos casamos, também casamos com a família de nosso cônjuge. Talvez, haja aqui um bom referencial para avaliar a probabilidade de um relacionamento amoroso ser venturoso: a origem sócio-educacional do(a) parceiro(a).
Acho que para amar devemos ter um modelo de amor em casa. Nós amadurecemos amorosamente à medida que nos relacionamos e nos machucamos, mas a pré-disposição ao amor é um comportamento que se inicia em casa. Filhos conseguirão amar na medida em que foram educados para experienciar o amor. Isso significa, entre outras coisas, não pretender poupá-los do sofrimento, das dores típicas legadas por uma experiência amorosa.
Não concordo com uma educação que silencia em face do modo como os jovens conduzem sua vida sexual-afetiva, ou seja, diante do fato de eles buscarem apenas relações efêmeras e descartáveis, por temerem o envolvimento, o compromisso. Educar para viver a profundidade das relações, para o autoconhecimento e o conhecimento recíproco; educar para viver a autenticidade, para valorizar a dimensão da pessoa que o outro representa; educar, em suma, para envolver-se de coração, sem se contentar apenas com a superfície epidérmica.
Sentimentos não são descartáveis.