quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"E de repente este EU saltou-me da consciência" (BAR)


                 

                       Questionamentos viscerais
           

tempo aguardo que me irrompa da consciência uma avalanche de pensamentos portentosos. Quem me dera fosse surpreendido por uma enchente de ideias efusivas, que lançassem meu espírito às páginas de minhas inquietudes! Nada semelhante me acontece. Tão só a insistência em escrever segundo as flutuações da alma. Meu esforço é prender a atenção do leitor nestas linhas o tempo necessário para que ele se convença de que não deixará estas linhas aborrecido.
Darei um tom intimista a este texto e desatarei a escrever sobre minhas impressões, percepções, sensações... Começarei então... Eu sou atormentado por pensamentos, especialmente quando vou me deitar para dormir... por vezes, acordo de madrugada e eles não me deixam retornar aos braços de Morfeu...Eles me sobrevêm à alma com a força de uma enxurrada... e eu, por vezes, me afogo... E não são pensamentos banais, que nos lembram os afazeres do dia seguinte... são pensamentos transcendentes, destes que tocam na ferida da angústia, que lançam questões infindáveis sobre a existência... De repente, o assombro! Eu estava ali deitado, Eu mesmo, essa pessoa única (como o é cada um de nós) e o estar vivo inundando-me. Eu, que sou plena consciência de mim e do que me cerca. Um instante “em que a qualidade de sentir assoma como um lampejo, e é como se nossa consciência e o universo inteiro não fossem, naquele lapso de instante, senão uma pura qualidade do sentir” (O que é semiótica, p. 70). A Vida que excede nossa compressão, toda ela inundada em mim e minha consciência se encheu dela. Desculpe-me leitor porque não conseguirei dar à tinta a dimensão exata desse sentir. Só sei dizer que me assombrou a possibilidade de a morte não me permitir experimentar a vida novamente. Ao contrário do que advoga certa corrente de materialistas dogmáticos, não tenho certeza de que a morte é pura e simplesmente um retorno ao não-ser. Eu não posso ser tão categórico assim, a despeito de eu ser ateu. A diferença, nesse tocante, entre mim e um religioso é que eu me contento com o Mistério, não tenho necessidade de alimentar esperança e me apoiar na sedução da fantasia.
É verdade que, muitas vezes, a fantasia é preferível à realidade, desde que a fantasia seja recompensadora. Mas a fantasia nega a realidade; a realidade comanda; e a recompensa da fantasia, se houver, é intangível e enganosa..
Assisto à novela Amor eterno Amor e me agrado do amor transexistencial das personagens Rodrigo e Miriam, que noutra vida se chamavam Salvador e Alice. Pudera cada um de nós ter um amor predestinado! Que lindo, exclama o coração! O espiritismo (ou kardecismo, como ficou conhecido entre nós) ao menos tenta oferecer uma justificativa para o sofrimento que atinge as pessoas, muito embora sua teologia continue a ser calcada na teologia cristã. A mensagem do Cristo e a representação do Deus cristão permanecem a mesma, embora a identidade do Messias seja outra; na teologia espírita, Jesus era um médium.
O não-crer não me impede de me maravilhar com a imaginação que nos leva a desejar que, no final, tudo seja justificado e “todos os justos viverão felizes por toda a eternidade” (eventualmente, retornando para prestar algum serviço a Deus). Os espíritos mais evoluídos não precisarão retornar (pelo menos, não sem sua vontade). Afinal, tal como na teologia cristã, no Espiritismo, o mundo também é um lugar de sofrimento. Na doutrina espírita, o mundo é um lugar de expiação. Estamos aqui para expiar nossas faltas de existências anteriores. O sofrimento do inocente – da criança que acabara de nascer, imaculada – é justo, porque o espírito nela encarnado cometeu injustiças, crimes, faltas em outra existência, muito embora ela não tenha consciência disso, o que é uma dificuldade para a aceitação dessa doutrina. Condenar quem sequer tem consciência das razões por que está sendo punido? Como pode?
Tenho, contudo, de reconhecer entre os espíritas um avanço: eles não pretendem evangelizar ninguém. Não fazem proselitismo.
As pessoas, em geral, se esquivam de pensar sobre tudo isso, sobre o estar aí, no mundo. Tendem a negar a morte, mesmo que inconscientemente. Triste a condição humana: somos conscientes de nossa finitude e nada podemos fazer para evitá-la. Que alternativa nos resta senão aceitar a morte e desejar mais vida? Porque é disso que se trata: religiosos ou não, cristãos, mulçumanos, judeus ou ateus, nós desejamos, de algum modo, experimentar a vida sem fim. Que cada existência seja um ciclo é o que desejamos, eu e você! O espiritismo nos ensina que cada nova existência nos impõe o esquecimento. Devemos esquecer a existência anterior enquanto existimos novamente, mas restituímos a lembrança de nossas vidas passadas quando desencarnamos e retornamos ao mundo dos espíritos. Com que propósito precisamos submeter-nos a uma série de encarnações? Para nos aproximar de Deus. É claro, é preciso haver um sentido no ter de retornar à Terra várias vezes. E  o que acontecerá quando alcançarmos a condição de espíritos puros, libertos das paixões terrenas? Não sabemos, uma vida tal é inimaginável; não havendo temporalidade, que nos sobra de consciência? Que nos resta para fazer? Pelo menos, não ficaríamos entediados, porque não haveria o tempo. Uma vida sem temporalidade é impensável para nós. Tente imaginá-la! Não conseguirá; sem tempo, não há ação, consciência, desejo... não há vida.  Parece que retornamos ao absurdo. A existência é absurda, já dizia Sartre. Existir transcende-nos a consciência. Sou apenas um produto biológico, resultante da fusão de um espermatozóide com um óvulo determinado? Poderia Eu não ter existido? Por que você, que me lê, nasceu em tal meio familiar e não em outro? Por que você tem gozado de uma vida confortável junto de pessoas que o/a amam, enquanto outros não gozam de semelhante privilégio? Por que seu nascimento foi ileso enquanto outras milhares de crianças nasceram sofrendo? Penso nos bebês que nascem com alguma doença congênita... Penso nos que não sobreviveram a ela? A explicação espírita para o fato de um bebê ou uma criança morrer prematuramente é que cumpriram o pouco que lhes restava para cumprir. É como se ainda lhes faltasse uma pequena etapa de sua expiação. Então, o espírito nasce para logo morrer. Podemos supor que as consequências para os pais possam ser terríveis, dolorosas... Mas um espírita encontraria nesse caso um propósito benévolo, porque, afinal, tudo provém de Deus e a ele retorna... Mesmo o sofrimento mais atroz faz parte do plano misterioso de Deus (talvez os pais da criança ainda precisassem sofrer por suas próprias faltas, porque, segundo essa lógica, sofrer edifica, fortalece, melhora). Assim pensam os cristãos: é necessário sofrer para crescer na fé. Felizmente, o homo sapiens, por mais estúpido que seja, criou a ciência para amenizar o sofrimento, para lutar contra ele. A medicina é a expressão da luta dos seres humanos contra o sofrimento e a favor da vida. Felizmente, quando sentimos dor sabemos precisar de um médico e não de um padre ou pastor.
Enquanto escrevo, ouço uma vizinha evangélica que vive a berrar com suas filhas... o alvo do destempero da cristã é sua filha mais nova agora... Parece que a igreja não tem contribuído para torná-la uma pessoa mais serena e paciente, uma mãe disposta a educar sem precisar recorrer a extremismos vociferantes...
De um lado, o Mistério; de outro a crença em Deus e todas as implicações dificultosas que ela envolve. Quando alargamos nosso olhar, tomamos consciência de que o perigo ronda-nos sobre a cabeça (o espaço abriga corpos que podem dizimar nosso planeta). E mesmo aqui encontramos uma série de perigos à vida. Não preciso elencá-los... Definitivamente, a natureza não é perfeita, o mundo nem sempre é tão hospitaleiro. Sempre podemos imaginar um mundo melhor...
Há tempo me apercebi de que a fé pode nos cegar para o mundo, ou melhor, para a compreensão de como o mundo realmente é. Dou apenas um exemplo disso. Os que, por razões religiosas, condenam o homossexualismo, porque simplesmente se trata de um comportamento contrário à vontade de Deus (que determinou (?) que todos sejam heterossexuais), ignora o fato de que práticas homossexuais são muito comuns entre outras espécies de animais também. Um fato biológico, uma evidência incontestável. Ou aceitamos que a evolução tenha programado certos organismos para a experiência sexual entre membros do mesmo sexo, ou os crentes devem repensar o que julgam saber sobre Deus, porque, afinal, Deus criou o mundo, inclusive animais propensos à prática homossexual. Parece que Deus não se importa muito com isso!
Fico pensando também quão difícil é sustentar um propósito divino quando nos damos conta de que existiram pessoas como Adolf Hitler, Mussolini e Ozama Bin Laden. Esses homens perpetraram atrocidade, causaram sofrimento a milhares de seres humanos. E Deus sabia, desde o nascimento deles, que eles se comportariam dessa forma, porque, afinal, Deus é onisciente. O Holocausto levou à morte 6 milhões de judeus (e os judeus creem-se o povo eleito de Deus). Já ouço o eco dos defensores do livre-arbítrio... eles sempre julgam a questão de modo simplista e incontroversa... Vejamos, então, como seria um diálogo entre Deus e Hitler, depois de morto:

- O que você fez? Como pode cometer tanto mal?
- Ora, o senhor me deu a liberdade de escolher entre o bem e o mal... O senhor não deveria saber que rumo eu tomaria... ?
- Sim, eu sabia desde sempre...
- Então, por que não evitou que eu fizesse tanto mal?
- Porque eu não posso coagi-lo... Você é livre...
- Bem, as coisas não são bem assim... lá embaixo não há liberdade absoluta...
Mas, em todo caso, apesar de sua ignorância, por que o senhor não fez nada para me impedir? Só por que não pode me coagir... Se o senhor tem poder ilimitado e é infinitamente bom, ao ver que um espírito criado pelo senhor mesmo cometia maldades, por que não interveio, pondo um fim a sua vida? Devo lembrar que o senhor me criou? O pessoal lá deseja um mundo melhor, alguns até se esforçam para sustentar a paz por um longo período, ainda que a guerra tenha atravessado a História desde os primórdios da humanidade... O senhor não tem contribuído para a realização daquele desejo, enviando para lá embaixo homens como eu, tão inclinados às paixões egoístas, megalomaníacas e tirânicas... Deveria caprichar mais...
- Pois é... não sei onde tenho estado com a cabeça...
- Deveria ter feito melhor.... Olha, lá embaixo, há muitos espíritos maléficos...
- E há também os bons e caridosos...
- Ah! Sim... é verdade... é preciso manter o equilíbrio... o bem e o mal... o senhor os criou, né? Para que os homens pudessem exercer sua liberdade...
- Agora, você deve ir para o lugar onde passará toda a eternidade: o Inferno!
- Tudo bem. Só me responde uma coisa: por que o Senhor, que é infinitamente bom e poderoso, não matou logo o diabo? Diz aí... vocês têm um pacto, né? Nunca entendi essa afinidade...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

amores






Nossos amores

O tempo arrastou meus amores
para um fundo imperscrutável
Indiscerníveis entre tantas
as memórias que não somos
Assim devem ser os amores
Poeiras do tempo...

Amores descobrem amores
E o ciclo recomeça
O amor é nosso caminho
Apesar dos humores, dos dissabores
Apesar da vida que mata
Apesar do tempo impiedoso

Da velhice que degrada
Da morte a que estamos condenados
Dos homens e mulheres
Que outrora amaram
Itinerantes do amor eterno
Que sempre acaba

Afinal,
Como a vida.

(BAR)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Um poema de outrora








Enlace Onírico

Oh! Amo as manhãs álgidas e cinéreas
Quando deito em teus cabelos camélias
E libo em teu regaço a ambrosia,
Ah! Beijar-te a boca, nua, eu podia.

De noite, teus olhos de ouro contemplava,
Recôndito impávido de meu lasso,
Sob lençóis alvos, na alcova, eu te chamava
Fazias-me dormir com teu afago.

Tu te levantavas, Encarnada Candura!
Teu doce olor a face minha perfumava,
Ao arrebol emprestava íntima ternura.

Chamaste-me, a voz serena me despertava
Ouvindo-te, do ventre onírico emergia
Ó beijar-te a boca tua não mais podia!


(BAR)

domingo, 5 de agosto de 2012

"O objetivo de viver é viver" (Sponville)


                  

                                O paradoxo da felicidade

Ainda é viva em mim a lembrança das aulas em que eu pude estimular meus alunos ao debate sobre a leitura de textos. Nessas ocasiões, regozijava-me! De certo modo, reexperiencio essa grande satisfação, sempre que componho meus textos e os divulgo aqui neste espaço.
Meu intento – como de costume – é convidar o leitor que me acompanha a ler mais – e a ler o livro A Mais Bela História da Felicidade: a recuperação da existência humana diante da desordem do mundo (2010), que reúne André Comte-Sponville, filósofo, Jean Delumeau, especialista em história das mentalidades religiosas e Arlette Farge, historiadora especializada no século XVIII. O livro se estrutura em entrevistas feitas aos estudiosos. Eu vou-me ocupar com a exposição da terceira parte da entrevista a André Comte-Sponville, intitulada de O paradoxo dos filósofos. O tema de todas as entrevistas é a felicidade. Sponville irá considerá-la na história da filosofia, desde os gregos até os modernos. A terceira parte é dedicada à reflexão sobre como o homem comum pode ser feliz e sobre o papel que a filosofia desempenha na experiência de felicidade.
Já tive a oportunidade de escrever sobre a felicidade, ocasião em que sustentei a tese de que a felicidade não pode limitar-se ao acúmulo de riqueza, tampouco pode ser pensada sem que consideremos a satisfação de condições básicas de sobrevivência. Não me limitarei a apresentar os argumentos do autor; esforçar-me-ei por me posicionar em face de sua argumentação, o que implica nem sempre estar de acordo com ele. Urge, contudo, dialogar com o autor, entender a perspectiva com que ele trata do tema. Lembro que Sponville é ateu, de modo que, como veremos, falar em ‘sentido da vida’ só faz realmente sentido quando abandonamos a ideia de transcendência e nos situamos no âmbito da imanência. Para ele, o sentido da vida é viver a vida. Em tempo, teremos a oportunidade de compreender melhor sua posição, nesse tocante. Mas o leitor, se for cristão, poderá estar certo de que o autor não faz ataque à religião, apenas sua compreensão do sentido da vida é que diverge da compreensão religiosa. De resto, a mensagem de Sponville é a do amor – do amor à vida mesma, à verdade e ao saber.

1. A ausência de infelicidade

A tese de Sponville é a seguinte: viver a vida na esperança de ser feliz é uma forma de ser infeliz. Segundo o autor, para encontrar a felicidade, não precisamos procurar por ela. A experiência de ser feliz não depende da satisfação de todos os nossos desejos, já que eles são “indefinidos, flutuantes e sempre renovados” (p. 56). A insaciabilidade do desejo impede-nos de alcançar a felicidade. Se entendemos, com Platão, que desejo é falta e que, portanto, desejamos aquilo que não temos, experienciaremos o vazio, a frustração. Nem todo desejo é falta, entretanto.

“(...) desejar aquele ou aquela que existe, que se entrega e com quem fazemos amor, é experimentar a presença, a força natural, a plenitude”.
(p. 66)

O que entende o autor por felicidade? Num primeiro momento, pensa a felicidade como ausência de infelicidade. Nós buscamos afastar a infelicidade. Freud nos ensinava que nós buscamos incessantemente o prazer e desejamos permanecer nele. No entanto, a própria cultura impede-nos que experienciemos esse estado por muito tempo. Mas não só ela: “nossas possibilidades de felicidade já são limitadas pela nossa constituição” (Freud – O mal-estar na cultura, p. 63). Consciente de que a definição de felicidade apresentada é ainda insuficiente para compreender essa experiência, o autor reconhece que ser feliz não implica a ausência de inquietudes, de preocupações. É possível experienciar uma felicidade ordinária, episódica, apesar da aridez da vida. Não convém, segundo o autor, querer entender a felicidade como uma alegria perene, porque a alegria é movimento, é flutuante.
Sabemos – e Sponville também o reconhece – que a felicidade não está sempre presente, mas ele acredita que a alegria é sempre possível. A felicidade está na realidade, em potência.

“Se a felicidade existe quando não se é infeliz, ela também existe, sobretudo, quando a alegria parece imediatamente possível, e a fortiori, real. A felicidade não está sempre presente, ela vai e vem, mas não existe nada insuperável que nos separe dela (...)”.

(p. 58)

A definição de felicidade proposta por Sponville é bastante modesta. O autor entende que, se pretendemos que todos os nossos desejos sejam plenamente satisfeitos, para sermos felizes, então nunca conseguiremos sê-lo. A felicidade não é algo absoluto – e estou de acordo. Para ele, trata-se de “uma modalidade da existência, com altos e baixos” (p. 59). Não ser infeliz já é razão para sermos mais ou menos felizes.

“Uma das coisas que a vida me ensinou, e que, apesar de tudo, me propiciou uma forma de sabedoria, foi o seguinte: ser quase feliz já é uma felicidade”.
(p. 59)
(grifo no original)

Retomemos Freud, em O mal-estar na cultura. Nesse trabalho, Freud defenderá que, ao invés de viabilizar a fruição do prazer – sempre perseguido pelos seres humanos – a cultura, por eles criada, tende sempre a frustrá-los, decepcioná-los, afastando-os de seu objetivo. Os obstáculos para a experiência da felicidade são, segundo o autor de O Mal-estar na cultura, maiores. Ser feliz, para Freud, é experienciar intensas sensações de prazer, experiência esta inatingível aos seres humanos, no atual estágio da cultura. Neste trecho, Freud indaga-se sobre qual seria o propósito da vida das pessoas, e ele não hesita em responder ser a felicidade. Sponville – me parece – não concordaria com Freud, se entendemos por propósito a ideia de ‘sentido da vida’:

“(...) o que os próprios seres humanos, através de seu comportamento, revelam ser a finalidade e o propósito de suas vidas? O que exigem da vida, o que nela querem alcançar? É difícil errar a resposta: eles aspiram à felicidade, querem se tornar felizes e assim permanecer. Essa aspiração tem dois lados, uma meta positiva e outra negativa: por um lado, a ausência de dor e desprazer; por outro, a vivência de sensações intensas de prazer. Em seu sentido literal mais estrito, “felicidade” refere-se apenas à segunda”.
(p. 62)

De fato, Sponville está de acordo com Freud, no tocante ao fato de os homens aspirarem à felicidade e de desejarem permanecer nessa condição por longo tempo. Ambos também concordam que tal caso não é possível, porque a felicidade plena é um ideal. Para o pai da psicanálise, a própria forma como a cultura se organiza – essencialmente repressora – impede a fruição permanente do prazer (felicidade). Também para Freud a impossibilidade de experienciar uma felicidade duradoura se deve ao modo como a psique humana se estrutura. Entanto, ao contrário de Freud, Sponville já considera o afastamento do desprazer uma forma de felicidade. A pessoa que não sofre, que não experimenta dor e infelicidade já deve considerar-se uma pessoa feliz. Lembro que a quase felicidade é já felicidade, para o filósofo francês.
Sponville também não parece estar de acordo com Freud ao supor que o propósito da vida humana seja a felicidade. Se entendermos por propósito da vida a ideia de ‘sentido da vida’, certamente, Sponville não comunga da perspectiva freudiana. Veremos, mais adiante, o porquê.  Claro está que, se tomarmos por objetivo da vida ser apenas felizes, se acreditarmos que, sem a felicidade, a vida não faz sentido, muito frustrante será viver, já que a felicidade não é perene e nosso desejo é caracterizado pela insaciabilidade (sempre renovado, dirá Sponville).
A concepção de felicidade de Sponville difere da concepção freudiana. Isso é bem claro. Para o primeiro, a felicidade é um estado de alegria sempre passível de ser experimentado nas circunstâncias comuns da vida; ela pode ser uma experiência débil, difusa. Para Freud, ao contrário felicidade é “vivência de sensações intensas de prazer”. Só há felicidade onde há intenso prazer. Só há felicidade onde há profunda sensação de bem-estar. Como a cultura nos impede de experienciar esse profundo bem-estar (a felicidade), só nos resta a sublimação, ou seja, recorrer a outras formas de experienciar algum grau de felicidade (como a alegria experimentada pelo artista em sua atividade). É que, para Freud, a intensidade do prazer se aufere na satisfação de nossos instintos mais grosseiros (p. 69).


2. O sentido da vida

Ao ser perguntado sobre o sentido da vida, Sponville é bastante claro: a questão do sentido da vida não se coloca no momento em que a felicidade está presente. De fato, não nos preocupamos com o sentido da existência quando estamos envolvidos em sensações de felicidade.

“(...) nossos momentos de felicidade intensa (em que a alegria não é apenas possível, mas real, deslumbrante, espantosa) são aqueles nos quais a questão do sentido da vida não se coloca. Por que teríamos descoberto ou alcançado esse sentido? Por motivo nenhum, simplesmente porque aqui e agora a vida é suficiente para nos completar”.

(p.60)

O trecho em negrito é indispensável para a correta compreensão da posição do autor. Sponville, em nenhum momento, dissocia a felicidade da vida real; não a projeta para um além-morte, para outra vida. Mas, convém, por ora, nos deter no significado da palavra “sentido”. Para tanto, é necessário falar um pouco sobre semiologia. Sponville acredita que a palavra sentido encerra uma noção difícil, porque inclui tanto a ideia de “significado de uma frase” quanto a ideia de “direção ou propósito”. Nas duas acepções, segundo o autor, o sentido remete a alguma coisa que não ele mesmo. Isso fica claro quando pensamos na natureza de todo signo. O signo é signo de outra coisa, um signo está no lugar de outra coisa. Assim, ao nos depararmos com uma placa em que se avisa sobre um acidente a duzentos metros, essa sinal (signo) está “no lugar da coisa” (acidente) a que ele remete. Graças às palavras, que são signos lingüísticos, podemos falar de coisas que não estão presentes em nosso campo observacional. Não é necessário que haja diante de mim uma baleia para que eu fale dela. A palavra “baleia” evoca em minha mente a imagem desse animal (o seu significante). O sentido da palavra “baleia” não é a palavra “baleia”, mas a representação mental desse mamífero que vive no mar. O sentido é, pois, “outra coisa”. Falar em sentido é falar de algo que está fora de nós. Escreverá Sponville “o sentido encontra-se sempre fora e nós estamos sempre aqui” (p. 60). É interessante pensar no emprego do advérbio “aqui”, que é dêitico e que, portanto, em um de seus usos, refere-se ao “lugar onde se acha o falante”. É claro que a palavra “aqui”, nesse caso, não tem como escopo o lugar onde estava o autor. Ela se refere ao “estar no mundo”, à existência mesma. Por isso,  é forçoso concluir:

“O sentido da vida só pode ser uma outra vida (esse é o sentido que as religiões oferecem) ou uma vida diferente (a que se espera)”.
(p. 61)

Para o filósofo, a experiência de felicidade depende de que o objetivo de viver seja a própria vida, depende de que aceitemos a vida, com suas inconstâncias, com seus bons e maus momentos. Não seremos felizes, se nosso objetivo é outro que não a vida real. Citarei a seguir um trecho que torna a argumentação do autor um pouco confusa. Senão, vejamos:

“Os que são felizes não precisam procurar outra coisa além de sua própria vida tal como ela é, como ela passa, como se inventa e se transforma por si mesma a cada instante. Essa é a razão pela qual a experiência de felicidade não é uma experiência do sentido; ela é uma experiência do presente, da realidade, da verdade atualmente disponível”.

(p. 61)

Que fique bem claro. Para Sponville, o mais feliz dos homens é aquele que experiência a felicidade do momento. Projetar a felicidade para o futuro é também viver o vazio, a frustração, a falta, já que o futuro é o não-ser, não existe. Para o filósofo, “o objetivo de viver é viver”.
Certamente, se estamos felizes, estamos reconciliados com a vida e não precisamos nos apoiar na ilusão de serem felizes em outra vida. Para os que estão felizes, a vida é bastante. Todavia, sucede que, para Sponville, a felicidade depende de que estejamos conciliados com a própria vida, mesmo sabendo que ela está repleta também de dor e infelicidade. E o que dizer dos que não estão felizes? Como podem eles se satisfazer apenas com a vida? Como podem eles se regozijar dela?
Nem sempre a vida é suficiente, dirá o autor. Por isso, a necessidade da filosofia. Consoante o autor, há os que não precisam da filosofia, porque parecem possuir uma “sabedoria espontânea”. Tanto melhor, dirá. Mas há os que dela necessitam, porque “sem ela são incapazes de amar a vida tal como ela é”. A filosofia não é tão-só experiência de pensamento, mas também, mormente, experiência do bem viver. Ela nos ensina a viver mais e melhor. Ela nos ensina a enfrentar o sofrimento, porque é preciso aceitar a vida tal como ela é, mas também é preciso enfrentar as suas adversidades.
A função da filosofia é nos ensinar a viver, apesar do paradoxo diante do qual  a busca sempre urgente pela felicidade nos coloca:

“(...) somente aquele que deixou de buscar a felicidade pode ser feliz, somente aquele que ama a vida mais que a felicidade pode ser feliz”.
(p. 63)

No limiar do texto, disse que Sponville iria nos comunicar uma mensagem de amor. Ele a anuncia ao nos ensinar que devemos amar a vida mais do que a felicidade, e amá-la com seus reversos. A filosofia nos ensinará a regozijar-nos. O indivíduo que ama a felicidade não a alcançará, porque a vida se encarregará de evitar que ele a encontre. Assim, ensinará o filósofo:
“Trata-se de passar da esperança da felicidade ao amor pela vida, mesmo que nem sempre seja possível amá-la. E por que ela não seria amada? Não é o valor da vida que justifica o amor que lhe dedicamos; ao contrário, é o amor que lhe dedicamos que atribui valor à vida”.
(p. 63)

A lição de Spinoza é lembrada pelo filósofo: não é porque uma coisa é boa que a desejamos, é porque a desejamos que ela é boa. Logo, não devemos amar a vida por causa do seu valor, já que o valor advém do amor à vida. É porque a amamos que ela tem valor. O valor não está na vida em si, nem nas coisas. Quando o desejo se inclina a uma coisa, essa coisa passa a ter valor. O amor valoriza: “o amor não se submete ao valor do seu objeto: o amor é o criador do valor” (p. 63). Por isso, os valores que criamos depende da intensidade com que amamos. A verdade é um valor, porque a amamos; a honestidade é um valor, porque a amamos; a fidelidade é um valor, se a amamos. O amor é o fundador de todos os valores.
Mas volvemos à citação acima. Abandonar a esperança de felicidade, mas também a esperança como atitude diante da vida. É o que aprendi com Sponville. A esperança nos conforma na espera e nos imobiliza na experiência da ausência. Não se deve ter esperança de um dia ser feliz; é possível ser feliz no presente. Nisso estou de acordo com Sponville. Isso não significa que o presente sempre favorecerá a felicidade.

“Amar verdadeiramente a vida não é apenas amá-la apenas quando ela é feliz, mas amá-la em sua totalidade, seja ela constituída de felicidade ou infelicidade, de prazer, sofrimento, tristeza ou alegria”.
(p. 67)

O amor à vida é a força de que dispomos também para enfrentá-la. Só podemos enfrentar as adversidades da vida, se formos capazes de amá-la. O melancólico é aquele que perdeu a capacidade de amar – ou, ao menos, aquele cuja capacidade de amar se enfraqueceu. O suicida é aquele que perdeu o amor à vida.
Ao cabo da contribuição de Sponville, o autor concluirá – o que, para mim, sempre me pareceu bastante claro – que está no amor a maior fonte de felicidade.

“Como vimos, a alegria real ou possível é o verdadeiro conteúdo da felicidade. Isso quer dizer que não há felicidade a não ser no ato de amar. Trata-se, mais uma vez, de nossa experiência com todas as pessoas”.

(p.68)

Convém nos acautelar ao concluir que Sponville não nos dá margem a objeções. Parece que o autor não considera algumas circunstâncias dolorosas da vida real, ao defender a necessidade de amar a vida como condição para usufruir um pouco de felicidade. Penso nas crianças em cujos lares elas não conhecem o amor dos seus. Penso naqueles que nasceram em condições socioeconômicas muito precárias. Penso na grande quantidade de sofrimento que atinge milhões de pessoas em todo o mundo. Penso ainda que, apesar disso, uma vez vivo (porque não escolhemos nascer), podemos escolher viver... E não posso esquecer a lição de Marcel Conche, em A análise do amor (1998), ao se referir à felicidade do sábio:

O homem feliz de uma felicidade filosófica é o “sábio” – tanto quanto possível. O sábio não tem problema pessoal ou, pelo menos, tem força para enfrentá-los. Com isso, é tanto mais sensível aos problemas alheios. Falei do “privilégio da insensibilidade” do homem comum. O sábio, ao contrário, é tanto mais sensível aos problemas dos outros quanto menos se absorve com os seus. (...) Sua felicidade é um fato. Mas a felicidade não impede que possamos sofrer, como tampouco o sofrimento impede que possamos ser felizes. (...) Felicidade porque não se tem medo nem desejo, porque se está em paz consigo mesmo, em regra com a consciência de seu destino (entendo que sempre temos vivido na inteligência de si e na fidelidade a si), mas também tristeza porque o mundo é triste e não há o que fazer a esse respeito. Felicidade da potência sobre si, tristeza da impotência sobre o mundo”.
(p. 67)

Também Sponville nos fala da potência de gozar a vida cada vez mais. Também estou de acordo com Sponville no tocante ao fato de a felicidade ser, afinal de contas, apenas uma ideia. Existindo a palavra, precisamos nos valer dela. O problema, me parece, é quando enchemos a palavra felicidade de desejo, é quando insuflamos seu significado a tal ponto que ele nos parece difuso, pesado, inapreensível.
O que é a felicidade senão uma emoção de alegria, de satisfação? E o que é uma emoção, senão um padrão de reação, que nos impulsiona à experiência com o significado? Toda emoção envolve sentimentos, mas deles se diferencia por manter uma relação implícita ou explícita com o mundo. A emoção nos move, nos afeta o comportamento, tanto nos faz agir quanto nos faz estancar.
Uma pessoa pode sentir-se feliz, ao obter um emprego, ao ser promovida no trabalho, ou ao alcançar o corpo desejado (muito embora, nesses casos, o padrão de beleza estabelecido socialmente e reforçado pela mídia torna essa realização sempre inatingível, porque o desejo nunca é satisfeito; e sabemos que é provocando a insaciabilidade do desejo que o mercado lucra). Não podemos escapar ao desejo. Não é possível não desejar, mas é possível não se render a todos os seus apelos. A insaciabilidade do desejo torna-nos infelizes.
Ser feliz ou estar feliz? A felicidade tem a ver com um modo de estar no mundo, com um modo de agir, apesar do mundo. Sabemos que fazer atividade física, praticar esportes ter e fazer amigos, etc. torna as pessoas felizes. A felicidade não é um estado de alma; ela envolve todo o corpo. Por isso tem a ver com endorfina, dopamina, serotonina, noradrenalina; por isso também comer (especialmente chocolate, açúcar e lacticíneos), se apaixonar e  fazer sexo nos causa felicidade.
 A questão da felicidade é interminável, como tudo em filosofia... cujas questões nunca se fecham... apenas a vida tem de findar... enquanto houver vida, há a filosofia e a possibilidade de pensar em como ser feliz...



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Não, português não é difícil!


                              

                              O mito e os equívocos
                      na compreensão comum da língua

Poder falar ou escrever sobre língua/ linguagem é um assunto que me agrada bastante.Mas não tratá-lo de modo trivial, ao sabor do senso comum que, em matéria de linguagem, espera ansiosamente pelas receitas que ensinem como se deve falar e escrever “corretamente” (uso aspas porque a noção de correção idiomática é problemática e dela já tive a oportunidade de tratar em outros textos). Quero aqui apontar as razões por que as pessoas, em geral, entre as quais estão aquelas altamente escolarizadas e letradas (jornalistas, escritores, profissionais da educação, filósofos, etc.), perpetuam a crença de que português é difícil. Particularmente, estou interessado em avaliar os equívocos subjacentes a um juízo que ouvi a uma adolescente há alguns dias, que tem mais ou menos a seguinte forma:

Português é muito difícil, porque tem muitas regras.

Note-se, desde já, que a garota justifica a dificuldade que encontra no estudo do português na escola (ela está cursando o último ano do ensino médio) com a declaração “tem muitas regras”. Vejamos separadamente os dois problemas aí, a saber, o ser o português uma língua difícil e o apresentar muitas regras.
Vou-me socorrer das lúcidas palavras de Marcos Bagno, em Preconceito linguístico, como é, como se faz (2004). No trecho abaixo, o linguista põe-nos o problema, apresentando-nos sua causa:

“Como nosso ensino da língua sempre se baseou na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil. Por isso achamos que “português é uma língua difícil”: porque temos de decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós. No dia em que o português se concentrar no uso real, vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil é bem provável que ninguém mais continue a repetir essa bobagem”.
(grifo no original)
(p. 35)

É fato já há muito reconhecido pelos especialistas que há uma grande distância entre os usos da língua que são ensinados na escola e os usos que realmente dela fazem os falantes nativos no dia-a-dia. O que explica, portanto, a reprodução da crença em que o português é uma língua difícil é a forma como essa língua tem sido estudada numa longa tradição de ensino. Afinal, como poderia ser difícil o domínio de uma língua para um falante nativo dessa língua, cuja aquisição se inicia muito cedo em sua vida, entre os três e quatro anos - falante que se serve dela com bastante naturalidade e eficiência nas inúmeras situações de interação em todos os momentos de sua vida? Como poderia ser difícil a sua própria língua materna, cujo sistema de regras (a gramática, falarei dela depois) ele internalizou em tão tenra idade? Qualquer falante nativo de português, independentemente do grau de escolaridade (mesmo um analfabeto) aceitará enunciados como (1) e (2) e rejeitará (3) e (4):
(1) O cachorro é de João
(2) Este brinquedo custa caro.

(3) * O cachorro está de João
(4) *Este o brinquedo custa caro.

(O * indica agramaticalidade)

Mesmo quase nunca consciente das regras subjacentes à construção de (1) e (2), qualquer falante nativo de português não tem dificuldade em considerar tais enunciados como bem-formados gramaticalmente. Ao contrário, não hesitariam em dizer que há algum problema nos enunciados (3) e (4). Para qualquer falante nativo, tais enunciados não são bem-formados, porque infringem alguma regra prevista pela gramática do português. Em (3), em enunciados em que figura uma estrutura do tipo ‘DE-possuidor’, usamos o verbo “ser” e não “estar” (cf. A pasta é do meu pai/ o livro é da minha professora/ o chinelo é do meu irmão). Estou simplificando, para os meus propósitos aqui, a descrição da regra. Já em (4), o português não admite o uso concomitante de artigo e pronome demonstrativo, ou seja, ou usamos o artigo, ou usamos o demonstrativo, mas nunca ambos. Evidentemente, o uso de uma ou outra unidade dependerá de fatores sociocognitivos (ou mais simplesmente contextuais). Para os mais familiarizados com os estudos gramaticais (digo “descritivos”), diremos que os pronomes demonstrativos podem ocupar a posição de pré-determinante (PreD) sempre que ocorra um numeral antes do substantivo núcleo, mas não podem ocupar essa posição caso ocorra artigo ou pronome indefinido. Senão, vejamos:

(5) Estes   quatro brinquedos custam caro.

(6) * Estes alguns brinquedos custam caro.

Fique claro que regra aqui está sendo usado no sentido de ‘princípio de instrução para a combinação de unidades linguísticas’. A regra, portanto, rege o uso adequado da língua, mas num sentido diferente do que normalmente a entendemos numa visão prescritivo-normativista de ensino de língua. Que fique claro: empreguei ‘regra’ no sentido de princípio de estruturação das unidades da língua. Sabe-se, por exemplo, que os sufixos “-ção” e “-mento”, que formam substantivos deverbais, são os mais produtivos. Assim, temos

(7) especificação, realização, formação, sufixação, dominação, significação, etc.
    envolvimento, entendimento, batimento, impedimento, estacionamento, etc.

No entanto, se a palavra terminar em “-izar”, a língua rejeita a anexação de ‘-mento’, admitindo apenas o uso de “-ção” (cf. atualização, mas não “atualizamento”). Trata-se aqui de uma restrição de ordem estrutural à aplicação da regra, que prevê a anexação de ‘-ção’ e ‘-mento’ para a formação de substantivos a partir de bases verbais. Para os demais casos citados, o que impede que tenhamos “formamento” ao lado de “formação” é simplesmente o fato de que, uma vez já disponível uma forma em “-ção’ na língua, não há necessidade de uma forma correspondente em ‘-mento’, a menos que a forma em “-mento” traga alguma especialização semântica. Veja-se o caso do par “nutrimento” e “nutrição”, que derivam do verbo “nutrir”. Como “nutrição” designa a ciência que estuda os alimentos, sentiu-se a necessidade de falar em “nutrimento” para se referir tão-somente ao alimento ou sustento, por exemplo, de atletas. Isso não significa que não usamos “nutrição” no sentido de ‘ato de nutrir’, como em “A nutrição dos atletas deve ser balanceada”. O dicionário Houassis registra as duas formas – nutrição e nutrimento – embora atribua à nutrição, além do significado de ‘ciência’, os de ‘alimento’ e ‘sustento’, reservando à palavra “nutrimento”  a noção de ‘ato ou efeito de nutrir’. As duas formas compartilham os significados “alimento” e “sustento”.
Devemos, contudo, não tomar os dicionários como manuais do saber inquestionável sobre a língua. Muitos usos não são registrados no dicionário e as interpretações dos usos podem ser equivocadas. Dizemos “A nutrição dos atletas é feita por um especialista”, querendo dizer que sua alimentação é orientada por um nutricionista; podemos dizer “O nutrimento dos meus filhos sou eu quem faz”, querendo dizer o sustento deles. Em suma, para evitar a associação que nutrição tem com um campo científico (“nutrição” designa um campo da ciência que estuda os alimentos), os falantes criaram a forma “nutrimento” que exclui de seu campo semântico a noção de “ciência”, compreendendo tão-só as noções de ‘ato de nutrir’ ou ‘sustento’.
Comparem-se, finalmente, as formas “descoberta” e “descobrimento”. Trata-se de duas formas resultantes da anexação de sufixos à base “descobrir”: “descob (ert) + a “ e “descobri + mento”. No entanto, os contextos de uso são diferentes e, portanto, as significações também o são Embora o mesmo dicionário registre “descoberta” como sinônimo de “descobrimento”, falamos em “descoberta científica” e não “descobrimento científico”. Por outro lado, falamos em “descobrimento do Brasil”. Com o uso de “descoberta”, nos referirmos a algo que veio à luz após investigação (algo que se revela depois de um longo trabalho investigativo). Além de associar-se a um evento grandioso, “descobrimento” pode também designar a exposição de algo que antes estava coberto (cf. o descobrimento do corpo/ da cabeça/ das mãos/ dos pés). Disso não se segue que não se possa usar “descobrimento” no sentido que lhe damos no domínio discursivo das ciências. Pelo menos, parece possível o uso de descobrimento tendo como complemento o ‘agente”.  Veja-se o exemplo abaixo:

(8) Antes disso, o reverendo Plot tinha encontrado um osso fêmur enorme em 1676 na Inglaterra. Acreditava-se que pertencia a um gigante. R. Brookes publicou um relatório sobre o descobrimento de Plot em 1763.

Não hesitaríamos em usar “descoberta” no lugar de descobrimento, para nos referir ao achado científico do reverendo Plot. Nos exemplos abaixo, colhidos do site www.linguateca.pt., vemos as formas “descobrimento” e “descoberta” para referir-se ao conhecimento de territórios:


(9) par=ext203641-clt-94b-1: Mostrando-nos, sobremaneira, o risco daqueles que, na vida e na obra, assumiram e ainda assumem a poesia como força de descobrimento íntimo e de elucidação moral .



(10) par=ext218063-clt-93a-3: No ano em que, na Exposição Universal de Sevilha, a diplomacia do comissário Emilio Cassinelo permitiu a síntese expositiva de aspectos polémicos da história de Espanha -- descobrimento da América, desterro dos judeus e expulsão dos árabes --, a sociedade civil manifesta sintomas de um novo mal: o racismo .



(11) par=ext224942-nd-93b-3: Deus convocou o Anjo Consolador e mandou-o conversar com Cristóvão Colombo, que estava em profunda depressão desde as comemorações dos 500 anos do descobrimento da América, no ano passado .



(12) par=ext235874-clt-94a-1: Já enumerámos a descoberta das ilhas atlânticas, simples consequência do descobrimento das costas de África .

Em (9), “descobrimento” significa ‘autoconhecimento’, ‘revelação de si à própria consciência’. Em (10) e (11), a mesma forma designa o evento de descobrir (achar, encontrar) uma nova terra. Em (12), “descoberta” também é empregado nesse mesmo sentido com que usamos, normalmente,“descobrimento”.
Os parcos dados sugerem que não tem havido um esforço entre os falantes nativos de manter uma distinção semântico-pragmática rigorosa no uso das formas “descobrimento” e “descoberta”, pelo menos quando o campos experienciais ativados são o da geografia e das ciências (descobrir novas terras, o descobrimento do cientista ajuda na compreensão...).
O que vim fazendo até aqui foi mostrar como se faz descrição linguística, ou seja, como, grosso modo, trabalha um linguista. Ele trabalha com dados empiricamente demonstráveis e com formulação de hipóteses sobre como a língua funciona.
Proponho que se faça a distinção entre regras descritivas e regras prescritivas. O primeiro conjunto de regras compreende aquelas estipuladas pelo linguista quando da observação e exame do uso da língua na base de textos reais representativos de um corpus. Esse conjunto de regras constitui a gramática internalizada que todo falante nativo tem inscrita em sua mente/cérebro. Trata-se de um componente de regras que ele aciona intuitivamente para construir enunciados em sua língua materna. Cabe ao linguista produzir gramáticas (modelos teóricos) que constituem uma hipótese de como esse componente de regras funciona. Descrever a estrutura e o funcionamento de uma dada língua significa explicitar e explicar seus sistemas de regras (fonológico, morfossintático, semântico e pragmático).
As regras prescritivas são as que regulamentam o uso da variedade de prestígio de uma língua e que devem ser seguidas por todo aquele que pretende ser bem avaliado socialmente. Assim cabe distinguir entre a regra que nos instrui a usar o artigo antes do substantivo e a regra que exige que usemos a forma “dele” como complemento do verbo “gostar”, ao invés da forma “lhe” (cf. Eu gosto dele/ Eu lhe gosto). Nesse último caso, a inserção de “lhe” não viola o funcionamento do sistema gramatical, diferentemente do que sucederia, se usássemos o artigo depois do substantivo (cf. *Menino o falou alto).
A prova de que os falantes nativos de português seguem regras de modo intuitivo são as ocorrências abaixo.

Se eu _________,        você ____________.

            Canto                            dança
            Cantar                          dança
            Cantar                          dançará (vai dançar)
            Cantava                       dançava
           Cantei                            dançou
           * cante

Mas
Caso eu cante, você dança.

Sabemos intuitivamente quais as correlações verbais são normais ou aceitáveis em português, quando do uso da conjunção condicional “se”. Apenas a forma do presente do subjuntivo “cante” é incompatível com o uso de “se”. No entanto, ela combina com “caso”. Isso se torna um problema para o aprendiz estrangeiro de português. A tarefa do linguista é observar o que as pessoas usam e descrever a regularidade do uso e os sentidos produzidos nas combinações em questão. Quando usamos o presente do indicativo na oração com “se” e na oração principal (a que segue, no caso), expressamos a ideia de ‘habitualidade’, ou seja, queremos dizer “toda vez que eu danço, você dança”.
Há regras semântico-discursivas operando nesses casos. Convém investigá-las e descrevê-las. Não me estenderei nesse terreno. Limito-me a dizer que tais regras não são de natureza prescritiva, no sentido de que elas tocam ao uso largamente aceito por todos os falantes nativos da língua. 
     Todos os usos linguísticos são sensíveis às situações de interação, por isso mesmo o uso da variedade de prestígio deve atender a expectativas contextuais. Usamos a variedade de prestígio quando há exigências ou expectativas, tacitamente estabelecidas em nossa cultura, para o uso dela, num dado contexto de interação. Devemos, portanto, entender que somos mais competentes comunicativamente quanto mais capazes somos de adequar os diferentes usos da língua às diversas situações sociocomunicativas. Isso significa que é tão inapropriado fazer uso da variedade coloquial, numa situação em que se espera o uso da variedade de prestígio, (numa entrevista de emprego, por exemplo) quanto inadequado é usar a variedade de prestígio, numa situação em que ela não é esperada ou exigida (na praia com os amigos, em casa com os familiares, etc.). 
           
      
Voltando, contudo, ao problema inicial, devemos considerar que o que se ensina nas aulas de português na escola é pura e simplesmente análise estrutural da língua. Põe-se a língua como entidade a ser dissecada em suas partes constituintes para posterior classificação. Nessa atividade, cobra-se o domínio das nomenclaturas, tais como “substantivo”, “adjetivo”, “sufixo”, “objeto direto”, “sujeito simples”, “oração subordinada substantiva objetiva direta”, etc. Na escola, a língua é estudada como um objeto desvinculado do uso, como uma realidade engessada, estática, como um ‘corpo’ cujas partes devem ser analisadas, sem que lhes reconheçam as funções comunicativas a que se prestam. Daí solicitar ao aluno que encontre os substantivos da frase “Nem todos os animais vertebrados são carnívoros”. Cobra-se ainda dele que indique o tempo em que o verbo “adorar” foi conjugado em “Se nós adorássemos andar a cavalo, nós teríamos pedido para cavalgar”. É também nesse modelo de ensino que o aluno é solicitado a classificar a palavra “que” nos seus diferentes empregos, como em:

(13) Eu disse que ele era meu professor.
(14) O que é isso?
(15) O relógio que você procurava está aqui.
(16) Que beleza!

Essa forma de ensinar pelo exercício de dissecamento-taxionomia da língua inclui também um formato prescritivista-normativista. Assim é que o aluno precisa saber usar o português de acordo com as regras que prescrevem a variedade de prestígio, isso justifica o ensino dos casos de concordância (verbal e nominal), bem como os de regência. Ensina-se, por exemplo,  o aluno a usar o verbo “assistir”, no sentido de “ver”, com a preposição “a”, muito embora o uso real da língua dispense essa preposição. O que lemos e ouvimos é “Pelé assistiu o jogo do Santos ontem na Vila Belmiro”. Como bem observa Bagno, o que se ensina não é o que realmente se usa. Estudos sociolingüísticos já vêm mostrando há tempo que a regência “assistir a” está cada vez mais em desuso, mesmo na língua escrita mais monitorada, mesmo entre os falantes considerados “cultos”. Os grandes jornais da imprensa escrita estão repletos de emprego do verbo “assistir” desacompanhado da preposição “a”. Sendo um verbo transitivo direto, ou seja, cujo complemento não é regido de preposição, “assistir” aceita normalmente a voz passiva (cf. O jogo do Santos na Vila Belmiro foi assistido por Pelé).
É também esse modelo de ensino que perpetua a rejeição a formas como “trago” e “chego”, quando figuram como verbos principais em locuções como em  “tinha trago a mochila” e “tinha chego às duas horas”. Todos os falantes mais escolarizados, ao ouvirem tais formas, costumam julgá-las “erradas”, “estranhas”, “de mau gosto”. Todos eles condenam as pessoas que as utilizam. Todos perguntam “não estão erradas?”. Uma explicação científica para a ocorrência dessas formas deve incluir as seguintes observações:

1ª observação: as formas “trago” e “chego” (fonologicamente semelhantes às formas de primeira pessoa do singular do verbos “trazer” e “chegar”, daí dizermos que são homófonas), se comportam estruturalmente como particípios do verbo “trazer” e “chegar”. Os particípios são as formas nominais do verbo que terminam, sistematicamente, em “-do” e vêm acompanhados dos auxiliares “ter” e “haver” (embora possamos ter particípios na função de adjetivos junto aos verbos “ser” e “estar”, nesse caso eles se flexionam em número e gênero).

(17) Eles têm cantado juntos todos os sábados.
(18) Elas estão encantadas com a sua presença.

2ª observação: os particípios, embora regularmente apresentem a terminação –do, podem apresentar as terminações “-a” ou “-o” (raramente, “-e”), passando a se chamar “particípios irregulares”. Há particípios que apresentam as duas terminações, como, por exemplo, “acendido” e “aceso”, “imprimido” e “impresso”, “elegido” e “eleito”, “pagado” e “pago”,  “pego” e “pegado”, “gastado” e “gasto”, “ganho” e “ganhado”.


Deixando os casos do grupo “ppgg” (pagar, pegar, gastar, ganhar) de lado, por enquanto, para os demais casos a regra válida para a variedade de prestígio da língua prevê o uso das formas em “-do” junto aos auxiliares “ter” e “haver”. Assim, na variedade de prestígio, diremos “eu tenho imprimido muitas provas ultimamente”, “nós havíamos elegido esse prefeito em outra ocasião”. As formas terminadas em “a” e “o” são usadas junto aos verbos “ser” e “estar” (e “ficar”, “continuar”): “A luz está acesa”, “a luz ficou acesa”, “aqui as provas são impressas com rapidez”.
Os usos de “pagar”, “pegar”, “gastar” e “ganhar” têm dado testemunho da dinamicidade inerente a toda língua. Apesar dos esforços por fixar regras, o uso tende a flexibilizá-las. Assim é que se pode ouvir e ler tanto “Eu tinha pagado a conta” quanto “eu tinha pago a conta”, e o mesmo vale, analogamente, para os verbos “pegar”, “gastar” e “ganhar”. Ouve-se tanto “O Flamengo tinha ganho o jogo” ou “O Flamengo tinha ganhado o jogo”.
Pode-se agora entender o que sucede com os casos de “trago” e “chego”. Os falantes criaram a forma irregular do particípio dos verbos “trazer” e “chegar”. Tradicionalmente, tais verbos só exibiam a forma regular do particípio, a terminada em “-do” (trazido, chegado). Evidentemente, as formas irregulares ainda não são aceitais (olha o uso de “aceita”) pelos falantes mais escolarizados e por isso são muito estigmatizadas. E o são porque tais formas são comumente utilizadas por falantes com baixo nível de escolaridade e provindos de uma classe socioeconômica menos favorecida. O julgamento que se estabelece por meio dos rótulos “certo” e “errado” tem base essencialmente elitista. “Certo” e “errado” são resultado de valorações sociais baseadas numa ideologia forjada nas práticas de dominação de classes, segundo a qual a língua exibe em si formas e usos corretos e errados. No entanto, a desconstrução dessa ideologia consiste em fazer ver que a língua considerada “certa” é a língua das classes dirigentes, sendo considerados desvios ou erros os usos da língua feitos pelas classes populares. É preciso fazer entender aos não-especialistas que quem está no poder vai querer impor sua forma de falar a todo o resto da sociedade e vai considerar os modos de falar não recobertos pela norma estabelecida pelo poder como desvios ou erros. No final das contas, vale insistir, a problemática da noção de erro em matéria de linguagem se desloca do âmbito puramente linguístico para o domínio do social, lugar onde é forjada. Censurar um uso linguístico é censurar a própria pessoa ou comunidade que dele se serve. No Brasil, o baixo nível de escolaridade está diretamente correlacionado com o baixo nível socioeconômico de um indivíduo. Sendo privado de uma escolarização plena, não tem ele acesso à variedade linguística de prestígio e, portanto, a um instrumento de poder fundamental com que poderá lutar por maior justiça e igualdade social. Sem o domínio desse capital simbólico, está ele excluído, marginalizado social, cultural e politicamente. Essa exclusão é reforçada todas as vezes que seu modo de falar é censurado e discriminado.
Quando dizemos que toda língua se constitui de uma gramática, estamos querendo dizer que toda língua comporta um sistema de regras e unidades, por meio das quais estas podem ser combinadas em construções de extensão e nível variados. Assim, existe uma regra em português que prevê o uso do verbo na primeira pessoa do singular sempre que usamos na posição de sujeito o pronome “eu”. Todo falante nativo dirá ou escreverá “Eu amo, adoro, gosto, aceito, bebo, etc.”. Mas não dirá nunca “Eu ama, adora, gosta, aceitamos, etc.”. Trata-se de uma regra mais rígida, ou seja, que não admite escolhas. Há, contudo, regras mais flexíveis, tais como a que admite o uso ou não do artigo antes do pronome possessivo. Podemos dizer “O meu irmão” ou tão-somente “meu irmão”.
Vejamos como o componente de regras funciona no domínio da regência verbal a partir de alguns exemplos. De fato, não temos escolhas ao usar o verbo “gostar”. Temos de usá-lo com a preposição “de”, impreterivelmente. Dizemos “Eu gosto de chocolate” e não “Eu gosto chocolate” (embora a criança, nas fases iniciais de aquisição da linguagem, possa dizê-lo). Também não podemos usar outra preposição no lugar da preposição “de”: * Eu gosto a chocolate; *Eu gosto para chocolate. Em inglês, ao contrário, dispensa-se qualquer preposição quando o complemento de gostar (like) é um substantivo. Em inglês, dizemos “I like chocolate”.
O verbo “amar”, por seu turno, deve ser empregado sem qualquer preposição na relação com seu complemento. Dizemos “Eu amo você”, “Nós amamos nossos avós”. O uso da preposição “a” tem, tradicionalmente, valor estilístico. Mas é necessário dizer que tal uso não parece vigorar ordinariamente. Na fala cotidiana, não dizemos “amar a nossos pais”, mas “amar nossos pais”.
Sabemos também que verbos há que mudam de significado conforme mude a regência. É o caso de “confiar”. Regendo a preposição “em”, “confiar” tem sentido de ‘ter confiança’, ‘depositar esperança’, como em “Eu confio em você”. Mas, se usado com a preposição “a”, tem o sentido de “entregar aos cuidados de”, como em “Confio a você meus meninos”.
Uma regra bem flexível em português é a que prevê o apagamento do sujeito, quando empregado na primeira pessoa (do singular ou plural). Dizemos “Estamos aqui reunidos” ou “Nós estamos aqui reunidos”, ou ainda “ (Eu) Estou aqui reunido”.
Não posso mais, neste espaço, me demorar na discussão sobre como se comporta esse mecanismo de regras que chamamos de gramática. Gostaria de referir, antes de terminar, o trecho da professora Irandé Antunes, em Muito além da gramática – por um ensino de língua sem pedras no caminho (2007), que corrobora o princípio teoricamente incontestável segundo o qual todas as línguas do mundo se constituem de um sistema de regras:

Todos os usos da língua são submetidos à aplicação de regras. A própria natureza das línguas, que faz delas meios da inter-relação social, marcas da identidade cultural dos grupos, leva a esse cuidado, para que as línguas mantenham seu padrão e a cara que tem”.
(grifo no original)
(p. 72)

Uma última observação importante: as regras que apresentei aqui são as que seguem os usuários da língua de modo intuitivo e que são descritas e explicadas pelos linguistas. O papel do linguista é descrever e explicar os padrões de usos da lingua, é descrever e explicar seu modo de estruturação e funcionamento. O linguista NÃO DITA O QUE SE DEVE DIZER OU ESCREVER, ELE APENAS DESCREVE E EXPLICA O QUE E COMO SE DIZ. Para tanto, ele formula hipóteses e as testa na observação dos dados linguísticos, representados em um corpus.





quinta-feira, 2 de agosto de 2012




Filósofo

Estou embriagado de alma
Ébrio de espírito obreiro
De palavras que dançam
                                  [ociosas
A dança do saber
Ao som de filosófica sonata!

(BAR)