sexta-feira, 4 de outubro de 2019

"A ilusão é uma fé desmedida". (Balzac)


                                  Resultado de imagem para animal humano

                           POR UMA NATURALIZAÇÃO DO HOMEM

         A maneira como tenho procurado pensar apropriativamente o niilismo, reinscrevendo-o num campo de determinação semântica, à luz do qual ele vai-se descortinando como campo de expressões dinâmicas, de forças contestatórias, fenomenicamente multívocas, devenientes, plásticas, capazes de pôr-se a serviço da crítica e negação de toda interpretação/compreensão antropomórfica, antropocêntrica da vida tem como fito fazer notavelmente operante a Lucidez niilista, a qual, muito embora lastreada por uma negatividade radical, declara guerra a todas as ilusões antropomórficas em relação às quais a vida e a existência são avaliadas na tradição metafísica ocidental. Trazendo à luz o caráter ficcional das instituições humanas nas quais se organiza a realidade social, em cujo cerne está o mundo simbólico que dá sustentação à existência humana, o niilismo, tal como entendo, apura a percepção, refina o olhar, a fim de que se torne visível e reconhecível o mundo como uma pluralidade de ambientes cada qual se constituindo como uma unidade funcionalmente fechada, mas solidária, resultante de seleção prévia de uma série de elementos ou marcas, as quais, por seu turno, são objetiva e funcionalmente relacionados com os órgãos receptores dos animais não humanos, os quais percebem a marca e reagem a ela.

       O niilismo, realizando seu ataque às interpretações antropomórficas da vida, lança luzes sobre a existência de outros mundos, tempos e espaços em que se movimentam outros seres viventes. A abelha e a mosca que observamos voar em torno de nós não se movem no mesmo mundo em que vivemos. O que chamamos de 'mundo' é um complexo diverso e diferenciado de outros infinitos e até microscópicos mundos. A pluralidade dos mundos tem primazia sobre a unidade; o multi-verso, sobre o uni-verso; a diferença sobre a identidade. É preciso, assim, distinguir entre o espaço objetivo no qual vemos mover-se um vivente e o mundo ambiente constituído por uma série de 'portadores de significados', em relação aos quais se orientam os animais e os animais humanos. Também nós, animais humanos, nos movemos nesse mundo significativamente ordenado, e nosso mundo humano não tem qualquer privilégio sobre os demais mundos. Mesmo o mundo objetivo varia segundo o ponto de vista a partir do qual o consideramos. Existe, assim, uma floresta-para-o-guarda florestal, uma floresta para-o-lenhador, etc. Mesmo o caule de uma flor-do-campo, na qualidade de portador de significado, constitui a cada vez um elemento diverso, diferente em um ambiente diverso.
            


            

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