sábado, 12 de março de 2011

O ideológico no cotidiano

                                                               O ideológico no cotidiano
Uma amostra analítica de práticas discursivas


Este texto oferece uma discussão sobre as representações de felicidade num discurso do cotidiano, com vistas a avaliar seu revestimento ideológico.
O evento discursivo, que se realizou na esfera da relação familiar, se erigiu sobre o tema felicidade, que, de imediato, foi associado à perspectiva da sociedade de consumo. Discriminamos os participantes da interação, mediante o emprego das notações E1, E2 (autor) E3 (e E5). Com vistas a preservar a identidade dos enunciadores, escusamos menção a aspectos das condições de produção do discurso, tais como  lugar social, imagens recíprocas, vínculos familiares, excetuando-se o grau de escolaridade, que referiremos no lugar oportuno. Basta notar, por ora, que o E1 fala da perspectiva da classe dominante; o enunciador E2, embora também enuncie a partir de uma perspectiva de classe, procura situar-se numa perspectiva não-ideológica, comportando-se como uma espécie de problematizador das posições ideológicas assumidas pelos outros enunciadores; o E3, parece aderir à perspectiva de E1, embora a relativize, aproximando-se, assim, da perspectiva do E2. Vale notar as tensões discursivas, que revelam, nos índices de valoração de que se impregnou historicamente a palavra felicidade, a luta de classes, o conflito resultante de interesses contraditórios. Fique claro que “felicidade” está sendo considerado num contexto sócio-histórico determinado, a saber, no contexto da sociedade capitalista contemporânea, caracterizada pelo neoliberalismo. Logo, claro é que os sentidos da palavra “felicidade” variam segundo o contexto sócio-histórico em que circula.
Reproduzimos a tese básica defendida por cada qual dos enunciadores:

Contexto: os enunciadores, ligados por vínculo familiar, em conversação circunstancial, se posicionam em face da relação entre felicidade e dinheiro.
Limitamo-nos a mencionar que o E1 detém grau de escolaridade superior; o E2 é pós-graduado; e o E3 é graduando.

E1 – O dinheiro traz felicidade. (tese)
E2 – A vida de um ser humano não pode limitar-se à acumulação de riquezas, à aquisição de dinheiro. A felicidade está intimamente ligada às condições sociais de existência de sujeitos sociais, organizados em classes.

E3 – o dinheiro traz felicidade, mas há pessoas ricas que podem ser infelizes, em face de uma doença incurável, por exemplo.

O enunciador 1 assume uma perspectiva afinada com a sociedade de consumo, que associa a felicidade ao consumo (desenfreado) de bens culturais, propiciado pela acumulação de dinheiro. O enunciador 2 propõe a problematização e aponta para o fato de que, na discussão sobre a relação entre “o ser feliz” e “o ter muito dinheiro”, não se pode esquecer os valores sociais implicados aí. O enunciador 2 procura alertar para o fato de que a felicidade depende de certas condições sociais de existência, mas não depende do acúmulo de riquezas. Deve-se admitir que a felicidade, segundo o enunciador 2, pode ser experimentada pelas pessoas, sempre que algumas condições sociais são satisfeitas, independentemente de elas serem ricas. O enunciador 3, embora acolha a perspectiva do enunciador 1, admite que a felicidade não se resolve no acúmulo de riquezas, lembrando que há pessoas que, mesmo tendo muito dinheiro, uma vez acometidas por uma doença incurável, não poderão restituir a plenitude da saúde, o que lhes acarretam infelicidade. Há aqui, implícita, a consciência da vulnerabilidade e finitude da existência humana. Trata-se de uma posição filosófica que sugere  a necessidade de levar em conta que o sentido da vida humana não pode limitar-se à aquisição de dinheiro e riqueza.
Antes de aprofundarmos nossa reflexão, gostaríamos de observar que estamos em face de, pelo menos, duas perspectivas em conflito: uma dominante, que associa felicidade a acumulo de capital; outra que entende ser possível experimentar a felicidade, sem que seja necessário o acúmulo de riqueza. A terceira perspectiva (E2) procura revelar os enredamentos ideológicos implicados na discussão, já que, em certa altura do discurso, o E1 parecia acreditar que a sua perspectiva era a única possível e que, supostamente, representava “a verdade”, “a posição inquestionável” (isso se notava na entoação, nos gestos fisionômicos do enunciador). Embora não tenha sido explicitada a posição autoritária, é possível sugerir que, ao parecer assumir sua perspectiva como incontestável, o E1 posiciona-se de modo autoritário, o que revela sua inclinação aos setores dominantes, marcados, essencialmente, pelo autoritarismo.
Quando avaliamos a perspectiva de E2 como não-ideológica, não estamos sugerindo que E2 não enuncie de uma perspectiva de classe, mas tão-só pretendemos alertar para o fato de que o discurso de E2 representa um espaço de resistência à perspectiva dominante. Sua perspectiva está mais próxima da realidade dos dominados, por isso não pode ser considerada ideológica. Ademais, a posição de E2 é orientada de modo a desvelar as implicações ideológicas envolvidas na discussão. Por exemplo, ao assumir que a felicidade só pode ser experimentada plenamente quando se detém muito dinheiro e quando se acumula muita riqueza, E1 ignora o fato de que a felicidade é um estado de alma humano, que se manifesta, em geral, no comportamento, e que está intimamente relacionado às condições sociais de existência dos homens, independentemente do acúmulo de bens culturais. As representações do que é ser feliz variam entre os grupos sociais. Dificilmente, para os membros das classes mais prestigiosas (ou melhor, para a sociedade de um modo geral), uma criança de rua possa ser feliz, o que mostra que o estado de felicidade é determinado pelas condições sociais de existência de um indivíduo. É claro que a felicidade de um indivíduo depende da satisfação de certas necessidades básicas. Quiçá, para a grande maioria das pessoas, seja inconcebível que a felicidade possa ser experimentada por um indivíduo a quem foram negadas as condições básicas de subsistência (alimentação, habitação e saúde). Logo, assumimos que, para que alguém possa experimentar felicidade, é necessário o preenchimento de certas condições sociais básicas. Contudo, isso só não basta para que os homens se sintam felizes. Não pretendemos aqui determinar as condições em que os homens podem ser felizes, já que acreditamos em que as formas de experimentar felicidade sejam demasiadamente variadas e, não raro, estejam associadas a tendências patológicas.
Ora, se, por um lado, não basta apenas que sejam preenchidas aquelas condições básicas de subsistência para que um ser humano se considere/ seja feliz (afinal, entre outras coisas, a fruição da felicidade está ligada a relações afetivas sólidas e autênticas, quer no âmbito familiar, quer em esferas públicas de relação social); por outro lado, a felicidade só parece tornar-se possível, quando da satisfação daquelas necessidades básicas. O fato de assumirmos que a felicidade depende da satisfação daquelas necessidades básicas não significa que denegamos o fato de que, sendo a felicidade um estado de espírito, ela esteja suscetível a oscilações, ou seja, os indivíduos podem até se considerarem felizes por determinadas razões, mas isso não quer dizer que se comportem como se experimentassem a felicidade em todo momento. Há momentos de efusão de felicidade; outros em que a felicidade está-nos adormecida na alma, circunstâncias em que o tédio, o marasmo do cotidiano nos inunda o espírito; outros ainda em que somos invadidos pela tristeza, pelo desânimo, a despeito dos sólidos laços familiares, da boa convivência social, etc.
Observamos, de passagem, que tanto a perspectiva do E2 quanto a do E3 encaminham o discurso no sentido da assunção de um princípio filosófico segundo o qual a existência humana é marcada pela finitude; em outras palavras, devemos reconhecer que os seres humanos são os únicos seres vivos que têm consciência da morte. Essa consciência repercutirá evidentemente de modo positivo ou negativo na vida das pessoas; desencadeará angústia em uns, ou aguçará a ansiedade vital de outros - ansiedade graças à qual nos lançamos a empresas árduas, iniciamos projetos, fazemos planos, damos prosseguimento a nossa marcha que se funda na necessidade elementar de evitar, ou melhor, retardar a morte. Se a existência é finita, então os seres humanos não deveriam, segundo as perspectivas de E2 e E3, limitar sua existência ao gozo da riqueza e  à conquista do status social dela decorrente.
O psicanalista Roberto Shinyasihiki, aqui considerado um E4, em entrevista concedida à revista Isto é, em dezenove de outubro de 2005, assim se expressou a respeito da proximidade da morte:

“Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis.”

O especialista advoga que a felicidade pode ser experimentada nas circunstâncias imediatas e comuns do cotidiano, tais como nos passeios de um pai com o filho, no almoço em família, no beijo de um neto nos avós, etc. Mas, vale dizer, essa felicidade só é possível, se não forem negadas ao indivíduo as condições necessárias para experimentá-la.  Para um menino que vive num contexto familiar marcado pela agressividade e desafeto, certamente será difícil experimentar essa singela felicidade que parece jorrar da fonte do cotidiano. Estando os homens envolvidos pela cotidianidade e, sendo este nível – o cotidiano – o nível imediato das relações humanas, a felicidade do indivíduo está estreitamente relacionada às suas experiências cotidianas. Para o indivíduo, a felicidade não pode ser um projeto a ser alcançado, sempre distante de seu ser, relegado a espaços longínquos da imaginação, a universos escusos e inatingíveis de sua idealização; deve ser experienciada no dia-a-dia e reconhecida como fonte de força e vitalidade, gerada pelas relações com as pessoas queridas, com os amigos, com os colegas de trabalho (e também nas gratificações do trabalho). Deve, em suma, manifestar-se, ainda que em pequenas doses, no tempo fugaz do cotidiano.
O especialista também enuncia de uma perspectiva de classe, a saber, a das classes favorecidas. Ele ignora as reais condições de existência das classes sociais: indivíduos a quem faltam as condições necessárias ao seu bem-estar, dificilmente poderão experimentar a felicidade simples a que fez apelo. Lembremos que, a despeito de o trabalho, no sistema capitalista, ser, em geral, alienador, não se negue que ter emprego é sempre um motivo de felicidade para um indivíduo, ainda que ele receba um salário baixo, que não corresponde à quantidade real de seu tempo de trabalho – período em que aplicou sua força de trabalho (capacidade para trabalhar) para a produção seriada de mercadorias, por exemplo.
Nosso objetivo, fique claro, não é propor um modelo de felicidade, se assim fosse, assumiríamos uma posição ideológica. Na verdade, o que pretendemos é desmascarar o processo ideológico em que se fundamenta a perspectiva do E1, ao defendermos que o conceito de felicidade está intimamente ligado às reais condições de existência dos indivíduos, organizados em classes sociais. Não nos preocupamos em determinar o que é, afinal, ser feliz, que, de qualquer forma, seria um esforço inútil, mas patentear que a palavra felicidade ganhará significados, contornos ideológicos diferentes, conforme apareça numa ou noutra formação discursiva. A palavra felicidade acumula, historicamente, pontos de vistas sociais e, necessariamente, contraditórios, portanto, conflitantes.
Vamo-nos deter na herança ideológica da palavra felicidade, representada na perspectiva do E1. O enunciador 1 associa, ainda que inconscientemente (no sentido de que, sob o efeito ideológico, ele não se dá conta disso), felicidade a consumismo, a acúmulo de riqueza, à fruição de prazeres proporcionados pela obtenção de uma quantia alta de dinheiro. Essa perspectiva sobrepõe-se às demais perspectivas: é como se elas não pudessem ser enunciadas, como se só a perspectiva dominante valesse, representasse a “verdade” para todos os grupos sociais. Sabemos que a realidade não é bem assim. Não raro, ouvimos pessoas, que não dispondo de muitos recursos econômicos, se dizem felizes, quer porque tenham saúde, quer porque tenham uma família unida e afetuosa, quer porque tenham um teto sobre a cabeça, etc.
A perspectiva do E2 procura chamar a atenção para os valores sociais inscritos na palavra felicidade, de modo que se faça ver os modos como os homens experienciam a felicidade variam de acordo com as classes sociais a que pertencem e com as condições sociais de existência. Em suma, a concepção segundo a qual, para ser feliz, é preciso enriquecer corresponde apenas a uma perspectiva – a perspectiva da classe dominante.
Agora, devemos considerar que, na atividade discursiva referida, os enunciadores falavam também sobre o que fariam se acertassem na loteria. Sem pretender dar a saber pormenores nesse tocante, gostaríamos de apontar para a tendência entre o enunciador E1 e o enunciador E3 (bem como um enunciador 5, que participava do evento comunicativo, a essa altura) de acreditar (trata-se de uma crença implícita, não-anunciada) em que a felicidade plena e satisfatória só poderia ser alcançada quando do ganho de uma bolada em dinheiro. Vê-se logo que a felicidade, nos discursos de E1, E3 e E5, está vinculada ao enriquecimento, ao acúmulo de capital.
Nas conversações cotidianas, especialmente no âmbito familiar, em que se manifesta o senso-comum (a saber, as concepções parciais e superficiais da realidade), é comum que, dado o obscurecimento da realidade pela ideologia, de tal sorte que os indivíduos conservam certo grau de ignorância, estando impedidos de assomar a um estado de consciência crítica, manifestem posicionamentos autoritários, opiniões/ interpretações que dizem univocamente o real, que produzem autoritariamente um único sentido para os aspectos da realidade. Em suma, são comuns, nesse contexto marcado pelo senso-comum, atitudes que inibem a pluralidade de perspectivas, de interpretações e mesmo a possibilidade de que sejam revistas certas concepções, certas “visões de mundo”, tornando, assim, o equívoco, o “erro” quase um grave “pecado”. Ao contrário do que parece suceder em contextos caracterizados por debates intelectualizados, como nas conferências científicas, nas discussões em sala de aula, orientadas pelo professor, etc, nos contextos cotidianos de interação, não há lugar para reformulações de perspectivas, revisão de interpretações, pluralidade de pontos de vista; há, em geral, dependendo dos papéis sócio-comunicativos assumidos pelos interactantes e do grau de hierarquia existente entre eles, bem como das imagens que fazem de si e uns dos outros1, mas também do assunto, da situação de comunicação, etc., um sentimento de intolerância em relação à perspectiva do outro. Haverá, em geral, uma perspectiva dominante, que está associada a quem detém o poder (sócio-econômico, político, cultural e discursivo); e perspectivas que devem ser ofuscadas, combatidas e invalidadas – a dos dominados.
 Cabe enfatizar que nenhum dos enunciadores considerados, aqui, insere-se em estratos sociais dominantes, do que se conclui que a ideologia dominante, produzida pelas classes e instituições dominantes na sociedade, impõe-se a todas as camadas da sociedade, torna-se o modo como os membros das classes menos favorecidas, incluindo-se aqui a classe média, aliada das classes dominantes, pensarão e perceberão a realidade social.
Nas esferas sociais mais intelectualizadas, não existe uma só verdade, e as concepções são sempre passíveis de serem revisadas, podem ser superadas, substituídas por outras, reajustadas de algum modo. Claro é que, às vezes, se nota certa intolerância intelectual, nesses meios, mas, de um modo geral, os debates de orientação filosófico-científica (lingüística, psicologia, ciências naturais, sociologia, etc.) se estabelecem sobre o pressuposto de que as teorias (os pontos de vista), dependendo da metodologia adotada e dos pressupostos assumidos pelo teorista, construirão uma verdade. A verdade não se encontra em algum lugar na realidade empírica, mas resulta de uma construção teórica, qual seja, uma interpretação humana.
A palavra felicidade no discurso de E2 parece despir-se de sentido ideológico, já que o enunciador alerta para o fato de que, quer se abone a perspectiva utilitarista-consumista, quer se rejeite, acolhendo-se, assim, a perspectiva contrária, a saber, a que nega que o dinheiro traz felicidade, estar-se-á comprometendo-se ideologicamente por, pelo menos duas razões: em primeiro lugar, porque se oculta o fato de que há muitos modos de experimentar a felicidade que, embora dependentes da satisfação de necessidades básicas do homem (alimentação, saúde, moradia, afeto, etc.), não se limitam à mera aquisição de riqueza, ao acúmulo alienante de capital; em segundo lugar, porque se oculta o fato de que a riqueza, o acúmulo de capital, quando bem administrado, quando usufruído de modo que promova a imersão do indivíduo em práticas culturais cada vez mais diversificadas e marcadas pela intelectualidade, pelo cultivo do espírito reflexivo, práticas que lhe possibilitem novas formas de perceber e conhecer o real; enfim, que lhe proporcionem um “enriquecimento intelectual” (por exemplo, mediante viagens ao exterior, circunstância em que entrará em contato com uma outra realidade cultural e em que poderá ter acesso a uma outra história social, etc.), contribui para experenciar a felicidade. Melhor seria admitir que, independentemente do modo como o dinheiro será administrado, se o utilizarão para a compra de carros-zero e importados, ou para a compra de roupas de grife, ou ainda se o utilizarão para estroinices, é verdade que, para muitas pessoas, a felicidade plena reside no acúmulo de capital. No entanto, lembramos que a felicidade é um estado de alma tramado nas malhas finas da existência humana; é um sentimento instável, que pode insuflar a alma de uma pessoa, em circunstâncias corriqueiras, como no momento em que um casal experencia uma noite prazerosa de afeto e companheirismo, e diluir-se diante das exigências do superior no trabalho, da doença que acomete um ente querido, da incompreensão da esposa ou marido, em que pese ao fato de o indivíduo ter em sua conta bancária uma quantia exorbitante de dinheiro ou de possuir outras formas de capital, como apartamentos em bairros nobres na cidade, empresas, etc.
Nas práticas de leitura na escola e na universidade, o professor deve propiciar situações em que os alunos sejam estimulados a refletir sobre as representações ideológicas que atravessam todo discurso. O professor deve, junto aos alunos, discutir aspectos ideológicos, chamar-lhes a atenção para as lacunas, os silenciamentos, para os “não-ditos” que permeiam todo discurso. Durante a atividade de leitura, o professor deve desvelar aos alunos as posições ideológicas, que sustentam e reproduzem relações de dominação de um grupo social sobre outro. Como não seja nosso objetivo aqui construir um quadro metodológico para a prática escolar, cingimo-nos a essas considerações.
É na escola, espaço em que se refletem as contradições sociais, que a ideologia do cotidiano e a ideologia oficial devem ser problematizadas, devem ser postas em pauta. Conforme foi patenteado aqui, a prática pedagógica, que tome a atividade de leitura como uma ocasião essencial para levar os aprendizes à consciência do mascaramento do real produzido pela ideologia, no entanto, só poderá desenvolver-se satisfatoriamente se o professor tiver em conta que a escola é também uma instituição ideológica e, como tal, está longe de posicionar-se  de modo “neutro” em relação à realidade social; mas deve ser um espaço para o questionamento do status quo, para a problematização do instituído; afinal, consoante ensina Althusser (1983, apud. Konder, 2002:122), ao considerar a natureza sócio-histórica do sujeito:

“suas idéias são seus atos materiais inseridos em práticas materiais, reguladas por rituais materiais, eles mesmos definidos pelo aparelho ideológico material donde provêm as idéias do dito sujeito”

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1. Um enunciador pode atribuir ao parceiro de comunicação a imagem de uma pessoa intolerante, tacanha, em dadas condições, de sorte que encaminhará suas contribuições lingüísticas, por exemplo, de modo a atenuar tensões, evitando adotar certas perspectivas, ou adotar uma posição que exibe um grau maior de conhecimentos sobre o assunto do que possui o interlocutor, etc.

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