quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Momento filosófico - A opacidade do significado

                                     


                               Filosofia e Linguagem
                                         Ponto de encontro


Silva (2011), em O Ato de ler – fundamentos psicológicos para uma nova Pedagogia da Leitura, sustenta que ler é compreender (em primeiro lugar, compreender o mundo), ou seja, a compreensão inclui a interpretação. Em outras palavras, para Silva, na compreensão, está implícita a interpretação. A interpretação é constitutiva da compreensão. A compreensão desvela o que estava oculto; a interpretação supõe a presença diante de nós de algo cuja natureza ou estrutura deve ser compreendida. Refiro as palavras oportunas de Silva sobre como devemos entender o significado:

“(...) aquilo que é compreendido não é o significado, tomado no seu sentido bem estrito (significado de livro, ou de qualquer outro objeto). Significado é aquilo que se mantém oculto e que se desvela apenas pela inteligibilidade. (...) o significado não está nas coisas e nos objetos, nem nas palavras e nas proposições, mas constitui uma possibilidade de desvelamento, de atribuição, que é característico do Ser-do-HomemO significado é a possibilidade que algo possui de tornar-se visível como algo que é.
(p. 34)


De um ponto de vista filosófico, o significado não é nem um ente do mundo, nem um atributo das coisas. As coisas - e o próprio mundo que as totaliza - não têm significado em si (certamente, nossas experiências se organizam numa estrutura dotada de significado, mas isso não é o mesmo que dizer que as coisas comportem significado em si mesmas). Por seu caráter oculto, o significado supõe um esforço de desvelamento. Por seu caráter não-objetivo, o significado é "possibilidade de desvelamento", por isso emerge de um espaço interacional, de um espaço em que o homem interage (por meio de sua cognição essencialmente corporificada e em conjunto com os outros) com o mundo. Esse espaço interacional, no qual a própria cognição é produto de nossas ações e capacidades sensório-motoras, é um espaço de possibilidades de significação. Daí não ser exagero dizer que o mundo é, para o homem - e apenas para ele - uma gigantesca teia de significação. Isso explica por que uma questão metafísica como "Qual é o sentido da existência?" dá margem a uma inesgotável, inquietante e calorosa discussão.

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