A gramática que
não aprendemos
Redescobrindo os
fatos
PARTE 1
Já se contam quase
dez anos, desde que eu me diplomei em Letras; desde então, o curso de minha vida
acadêmica não cessou. Da graduação para o mestrado, deste para uma
especialização em Português como segunda língua para estrangeiros; e desta para
o doutorado cujo encerramento se aproxima, não houve intervalos. Ao longo desse
período, não só meu repertório de saberes teóricos se ampliou, mas também meu
olhar sobre a língua/linguagem tornou-se mais apurado. A paixão pelo estudo da
linguagem continua a mesma, exceto pelo fato de estar mais madura. Os
apaixonados são suscetíveis de se decepcionar. As salas de aula decepcionam,
muitas vezes. As frustrações põem-nos um freio aos nossos deslumbramentos
acadêmicos. Acho que acontece com quase todos que optam pela carreira
acadêmica: depois de anos de estudo, deixamos as salas de aula ansiosos por
aplicar nossos conhecimentos em outras salas de aula. Se não ocorrer que
apareça alguém que nos advirta, saberemos, por experiência própria, que nem
tudo que aprendemos na universidade é imediatamente aplicável na prática
pedagógica. Há coisas que pertencem apenas ao universo teórico ou ao universo
dos especialistas, não se prestando a uma pragmatização pedagógica. Mas não
nego que a sólida formação teórico-metodológica do professor é indispensável e
desejável para que seu trabalho em sala de aula seja tanto mais eficiente
quanto proveitoso para os estudantes.
Ao longo de toda a
minha formação acadêmica, uma questão persistente em minhas meditações sobre a
linguagem e com a qual me debato incessantemente é a que diz respeito ao modo
como ainda se ensina português em nossas escolas. Inquieta-me, especialmente, a
manifestação do preconceito linguístico, tão arraigado em nossa cultura, mas
largamente ignorado pela maioria esmagadora da população brasileira. Enfada-me
o dar-me conta da insistência com que as pessoas policiam o comportamento
linguístico umas das outras. Infelizmente, o senso comum de nossa sociedade
reduz o fenômeno linguístico a simples questões sobre o equivocadamente chamado uso correto da língua. Decerto, essa
tradição tem uma longuíssima história, da qual já me ocupei em um de meus
textos e que não retomarei aqui, porquanto o tema deste texto é outro. Antes de
atacá-lo diretamente, gostaria de dizer algumas palavras mais sobre a realidade do
ensino de língua materna. Cinjo-me a destacar aí o modo como nossos alunos vêem
a gramática. Não os culpo por isso; na verdade, se eles a veem desta forma, é
porque é assim que ela lhes é apresentada. Então, eles a veem como uma
disciplina que abriga lições sobre a estrutura e funcionamento da língua,
tomada em si e por si mesma (isto é, sem vincular-se a contextos reais de uso)
e lições sobre as regras do “bom uso da língua”. Há, pois, duas atitudes
básicas que norteiam o ensino da língua (que acaba reduzido, deve-se frisar, ao
ensino da gramática): uma
descritivo-formalista e outra normativo-prescritivista. Essas atitudes são,
evidentemente, assumidas pelo professor, quando trabalha a gramática com a
única preocupação de ensinar nomenclaturas, descrever a estruturação e
funcionamento interno das unidades linguísticas, em geral, apresentadas em
frases descontextualizadas e, ao mesmo tempo, quando se dedica a ensinar as
formas de uso de prestígio, por exemplo, a forma “correta” de fazer concordar o
verbo com seu sujeito (cf. nenhuma das pessoas foi encontrada), a
forma “correta” de ligar o verbo ao seu complemento (ir ao cinema, preferir alguma coisa a outra coisa...), etc.
Permito-me uma
digressão. Recentemente, com a oficialização do Novo Acordo Ortográfico (na
verdade, nem tão novo assim), muito por força da mídia, ganhou força a crença
de que, com a unificação da ortografia, o português sofreria uma mudança. Clara
está a confusão comum de língua, que é uma realidade primordialmente oral, que
varia e muda, sem que, para tanto, seja necessária qualquer medida legislativa,
com ortografia. A língua não se presta à mudança por meio de leis, acordos ou
decretos. A variação e mudança são fenômenos inerentes a todas as línguas do
mundo. As línguas variam e mudam no tempo e no espaço, e isso acontece, em
última instância, porque são faladas por seres humanos em sociedades cujas
condições também variam e mudam. As línguas variam e mudam para atender às
diversas necessidades, igualmente mutáveis, dos seres humanos que as falam. Não
é necessário muito esforço ou instrumentalização teórica para que nos
apercebamos de que o português falado aqui no Brasil congrega usos bastante
variados. Não se fala do mesmo modo na cidade do Rio de Janeiro e no Ceará ou
no Rio Grande do Sul, por exemplo. Mesmo dentro de um mesmo território, a
língua varia entre as comunidades de fala. Que fique bem claro: o fato de, por
exemplo, deixarmos de grafar o trema não significa que houve uma mudança na
estrutura e funcionamento da língua portuguesa. Certamente, o português mudou e
prosseguirá com o seu destino irrefreável, que é a mudança incessante. Ele
varia e continuará variando, tendo em conta as formas como ele é usado. A
ortografia é um fato de escrita, resultante de uma convenção garantida por lei
e passível de ser modificada por decreto assinado pelo Presidente da República;
mas a língua, enquanto realidade comunicativa que se expressa, originalmente,
como fala, não pode ser alterada por meio de dispositivos legais de qualquer
tipo. Espero que eu tenha conseguido desfazer a confusão, que se acha na origem
daquela crença, entre a ortografia, que é um sistema artificial de regras para
grafar corretamente as palavras, e a língua, que é um sistema de comunicação,
produto da faculdade natural da linguagem, cujo domínio de realização é, por
excelência, a oralidade.
Voltando a considerar o ensino de gramática, quero, pois, reforçar a ideia de que as pessoas, em geral, concebem gramática como um conjunto de regras para o bem falar e escrever. É esse o sentido que se deduz de expressões como “cometer pecados contra a gramática”, “cometer erros gramaticais”, “desrespeitar a gramática”, etc. Sem ter consciência disso, o senso comum reproduz a concepção de gramática cujo desdobramento remonta ao trabalho dos gramáticos alexandrinos do século III a.C, qual seja, a de uma disciplina que fornece as normas que devem ser seguidas por todos os falantes que pretendam expressar-se numa variedade linguística socialmente prestigiada. Nesse sentido, o conceito de gramática se limita ao seu caráter normativo.
Não obstante, a
gramática é um componente da língua, ou melhor, é o próprio sistema de regras
da língua. Mas não das regras de uma das variedades da língua apenas, mas das
regras que governam a estruturação e o funcionamento das unidades linguísticas no
sistema como um todo. Embora, para usar uma língua, não seja bastante apenas o
conhecimento da gramática dessa língua, o seu uso o pressupõe. Assim, embora
não seja suficiente apenas o domínio da gramática do inglês para falar essa
língua, o seu uso pressupõe esse domínio. Para falar inglês, eu preciso dominar
o sistema de regras que me permite
construir enunciados em inglês.
A gramática,
portanto, é o sistema de regras e princípios
que governa a construção dos arranjos linguísticos. Ela é o
mecanismo organizacional da língua. Ela compreende os (sub)sistemas sintático,
morfológico e fonológico. A definição que propus exclui do domínio da gramática
a semântica e as unidades linguísticas (morfemas, palavras, orações, frases).
Trata-se de uma decisão que satisfaz propósitos situados e que não pretende
representar uma “verdade” aceita por todos os especialistas. Há quem inclua a
semântica no domínio da gramática, bem como as unidades linguísticas. Outros
excluem da gramática a fonologia, em virtude de restringirem aquela às unidades significativas,
que são abrigadas pelo domínio morfossintático. Na visão desses estudiosos, a
gramática se identifica com a morfossintaxe.
Deixando de lado
pormenores teóricos, importante é perceber que é a gramática que nos fornece as
instruções para produzir um enunciado como (1):
(1) Os brasileiros
falam português.
Considerado o
domínio fonológico, a gramática nos diz, entre outras coisas, que toda sílaba
em português é constituída de uma vogal. A gramática do português não permite
que haja sílabas destituídas de vogal. A vogal é o elemento central e básico da
sílaba. Sílabas há que se constituem apenas de uma vogal, como em “abade” (a-ba-de). A gramática também é
responsável por estabelecer padrões silábicos, de modo que uma estrutura como
“CVC” (consoante-vogal-consoante) é prevista pelo sistema da língua portuguesa,
como se observa em “car-ta”. Por
outro lado, a gramática do português não autoriza o uso inicial do /s/
desacompanhado de uma vogal. No inglês, temos “spring” (pulo), mas, em
português, temos “escada” (mas não “*scada”). Em “escada”, sabemos que “es”
forma uma sílaba, mas não “sc” ou “esca”.
Do ponto de vista
morfológico, marcamos o plural do substantivo e dos seus determinantes com “-s”
ou com uma das variantes “es”, “is” (cf.
mares, papéis). O verbo “falar”, na terceira pessoa do plural, nas
variedades de prestígio, recebem um “-m”. Do ponto de vista sintático, a
gramática da variedade de prestígio do português instrui-nos a concordar o
verbo em número e pessoa com o sujeito (cf. Eles falam). De modo mais geral, a
gramática determina princípios de estruturação que são mais rígidos, no sentido
de que não autorizam variação. Por exemplo, em (1), aceitamos a precedência do
artigo ao substantivo, donde a aceitabilidade de “os brasileiros”. Mas uma sequência
como “brasileiros os” não se verifica em nenhuma variedade da língua
portuguesa. A gramática faz restrições quanto às combinatórias possíveis no
interior do sintagma nominal. Assim, por exemplo, o artigo admite a combinação
com o numeral, que lhe vem posposto, como em “os três rapazes”, mas não “*três
os rapazes” (o asterisco indica agramaticalidade). O uso do artigo é
incompatível com o do pronome demonstrativo no sintagma. A seleção de um
implica a exclusão do outro. A gramática do português autoriza as construções
“os rapazes” ou “estes rapazes”, mas não nos permite produzir “*os estes
rapazes” ou “*estes os rapazes”. A impossibilidade da co-ocorrência do artigo
com o demonstrativo parece estar ligada à função semântico-pragmática dessas
formas. Mas eu não vou explorar essa questão aqui.
Preciso dizer que
o projeto deste texto era mais ambicioso do que o está sendo sua realização.
Antes de me por a escrevê-lo, detive-me a estudar para sistematizar uma série
de conhecimentos acerca do papel e importância da linguagem na própria
existência do homem como ser social. Meu intento era demonstrar como o estudo
da linguagem pode ser interessante e fascinante, certamente mais interessante
do que a forma como ele se desenvolve em nossas salas de aula. Como eu não
pretenda enfadar meu leitor, visto que, se eu cumprisse totalmente com o
projeto, a extensão desse texto ultrapassaria os limites da conveniência,
deixarei para tratar da questão sobre o papel que desempenha a linguagem na
existência do homem num outro texto. Por ora, limito-me a observar que a língua
ou linguagem (não faço distinção aqui) é muito mais do que um instrumento
de comunicação. É para rejeitar essa visão instrumentalista da linguagem que
planejei, inicialmente, escrever este texto. Mas adiarei a realização desse
intento, reservando, para tanto, outro texto. A esse outro texto, destinarei
questões atinentes à relação entre linguagem e cultura, entre linguagem e
realidade, entre linguagem e cognição. Nesse texto, também apresentarei, em
linhas gerais, os interesses e postulados da chamada Linguística Cognitiva.
Antes de levar a
cabo esta exposição, proponho que consideremos a seguinte questão, que não
parece encontrar oportunidade para ser explorada em nossas salas de aula. Por que formamos palavras? Sabemos que
o português dispõe de vários processos formação de palavras. Uma grande parte
da aquisição do vocabulário de uma língua depende da capacidade que temos de
por em prática os mecanismos que nos permitem derivar novas palavras a partir
de palavras previamente existentes no léxico da língua. Assim, com base na
palavra “real” formamos a “realizar”,
pelo acréscimo do sufixo “-izar”. Já “realizar” serve de base para a formação
de “realização”, pelo acréscimo de
“-ção”. Retomemos a pergunta: por que formamos palavras? As duas primeiras razões
podem ser formuladas da seguinte forma:
1. Formamos uma
palavra nova para poder aproveitar o significado de uma palavra já existente;
2. Formamos uma
nova palavra para a usarmos num ambiente sintático que exige uma classe
gramatical diferente.
Uma das razões por
que formamos uma nova palavra baseia-se no reconhecimento da função sintática a
que serve essa operação. Assim, temos “X realizou Y”, em que o verbo “realizar”
estabelece uma relação entre “X” e “Y”, na qual “X” é o agente e “Y” o
resultado ou objeto da ação de realizar. Sabemos que os verbos denotam ação,
processos, eventos ou estados e sabemos que eles são as formas,
particularmente, apropriadas para realizar a predicação. Na predicação, devemos
distinguir dois planos ou domínios: um sintático, o qual encerra a aplicação de
propriedades a termos (essa relação é estabelecida pelo verbo); outro
semântico, no qual se instaura um “estado-de-coisas”, que constitui uma
representação linguístico-cognitiva de uma ‘cena’ do mundo, no interior da qual os participantes desempenham determinados papéis semânticos. A predicação
realiza um estado-de-coisas. Por exemplo, o verbo “comprar” estabelece uma
estrutura relacional (predicação) que prevê dois elementos obrigatórios: X
(agente) e Y (objeto). Podemos formalizá-la como se segue: X comprar Y. Essa
estrutura assume uma representação ou atualiza um estado-de-coisas que pode ter
a forma de “Meu tio comprou um carro novo”. Essa frase descreve um “mundo” em
que uma entidade “meu tio” realiza um tipo de ação (comprar) que implica a
aquisição de um objeto (“um carro novo”). Estou simplificando a descrição.
Importa ver que o significado do verbo prevê uma estrutura de predicação, que
representa um “estado-de-coisas”.
Sucede que, nos
verbos, a denotação é indissociável da predicação. Assim, “comprar” tanto
denota um tipo de ação, como representa essa ação na forma de uma predicação,
de uma relação entre termos ou propriedades que está prevista na própria
significação desse verbo.
Vamos considerar
os casos abaixo:
(2) O furacão devastou
a cidade.
(3) A devastação
da cidade (pelo furacão) foi terrível.
Observamos que, em
(2), usamos o verbo “devastar”; e, em (3), a forma derivada “devastação”. Produzimos “devastação” em virtude das
exigências sintáticas que se depreende do uso dessa forma. Em outras palavras,
notamos que, em (2), a forma verbal prevê dois espaços que são preenchidos por
“o furacão” e “a cidade”: X devastou Y. Além dessa exigência, o verbo descreve
uma ação que se representa relativamente a dois participantes. Essa ação é
situada no tempo. Os dois participantes são “o furacão”, que é o
‘desencadeador’ da ação; e “a cidade”, que é o ‘objeto afetado’.
Cognitivamente, o verbo “devastar” descreve uma ação ou evento, situada no
tempo, na qual um participante modifica intensa e completamente a forma do
outro.
O verbo “devastar”
não admite a não-ocorrência de qualquer um dos elementos que o acompanham, como
se vê em:
(4) *Devastou a
cidade.
(5) *O furacão
devastou.
Para aproveitarmos
o significado de “devastar” num ambiente sintático como o de (6), necessário se
faz transformar essa forma verbal num substantivo correspondente:
(6) DET____ do
SN...
Leiamos: DET,
determinante, e SN, sintagma nominal.
(6) pode integrar
a estrutura complexa de (6a):
(6a) A devastação
da cidade (pelo furacão) foi terrível.
DET _____ deSN
Naquele ambiente
sintático, não caberia a forma verbal:
(6b) *O/A devastar
da cidade...
O uso do
infinitivo poderia ocorrer desacompanhado do pré-determinante, caracterizando
uma situação intermediária:
(6c) Depredar o
patrimônio público é crime.
(cf. Vândalos
depredaram o patrimônio público)
No entanto, mesmo
com o infinitivo, o agente pode ser inferido. É notável o fato de que a forma
nominalizada (devastação) é destituída das exigências relacionais previstas
pelo verbo. Ou seja, enquanto o verbo requer a presença dois elementos X e Y, a
forma “devastação” não os exige, embora os admita. Senão, vejamos:
(7) A devastação
(da cidade) (pelo furacão) foi terrível.
A devastação foi terrível.
As duas razões por
que derivamos “devastação” de “devastar” foram aqui ilustradas. Por um lado,
sentimos a necessidade de aproveitar o significado do verbo “devastar” para
efeito de denotação (para denotar uma ação ou evento). Por outro lado,
verificamos que o ambiente sintático faz exigências quanto à forma da palavra
que deve preenchê-lo. Nesse caso, foi preciso adequar a forma verbal a um
ambiente sintático que exige um substantivo.
Uma terceira razão
por que formamos palavras se liga à necessidade de recuperarmos, por referência
anafórica, o significado de uma proposição anterior. Veja-se o exemplo abaixo:
(8) O governo resolveu
cortar os gastos com a saúde pública. A resolução desagradou
especialmente os que mais precisam dos hospitais públicos, ou seja, a maioria
da população brasileira.
A forma
“resolução”, formada pelo acréscimo de “-ção” ao verbo “resolver”, “encapsula”
toda a proposição precedente e sublinhada.
É preciso notar
que ilustramos as razões por que formamos novas palavras tomando como referência
o processo de formação de substantivos a partir de verbos. Nesse caso, há
derivação com mudança de classe gramatical.
É claro que também
formamos palavras para acrescentar à base um novo significado, caso em que não
se verifica mudança de classe gramatical. Por exemplo, podemos derivar
substantivos de substantivos, pelo acréscimo de “-inho” (livro/livrinho;
casa/casinha; caneta/ canetinha).
Todas as razões
apontadas aqui para formar novas palavras podem ser consideradas de segunda
ordem, se comparadas com a principal razão por que formamos palavras, qual
seja, evitar a sobrecarga da memória.
O mecanismo da língua sempre busca atingir o máximo de eficiência, o que
aumenta sua flexibilidade, seu dinamismo, com o mínimo de esforço. É essa
flexibilidade que nos disponibiliza um grande número de unidades básicas de
comunicação, sem que, para delas nos servir, precisemos sobrecarregar nossa
memória com esses elementos. Os processos de formação de palavras permite-nos
ampliar nosso repertório de recursos de expressão com base num material lexical
já disponível, pelo acréscimo de unidades que constituem um conjunto limitado,
sem que precisemos criar uma nova palavra a cada nova necessidade de
comunicação.
Finalmente,
acrescento que as formações em “-ção” são mais produtivas, seguidas das formas
em “-mento”. Isso se deve especialmente ao fato de esses sufixos serem
destituídos de especificação semântica, que acabaria por restringir as
possibilidades de combinação deles com diferentes bases. O sufixo “-ção” é muito
produtivo com formas terminadas em “-izar”. Dão testemunho dessa alta
produtividade as formas atuais “tucanização”, “mexicanização”, “favelização”,
“dolarização”. O sufixo “-mento” também é produtivo, especialmente se comparado
com a baixa produtividade do sufixo “-da”. As formações deverbais em “-da”
(saída, entrada, chegada, partida) são, via de regra, menos produtivas, em
virtude de resultarem de verbos de movimento. Essa especificação explica seu
baixo potencial produtivo.
No entanto,
formações em “-da” são largamente usadas nas variedades menos prestigiadas do
português, indicando, geralmente, atenuação da ação do verbo, caso em que “-da”
se usa com verbos-suporte, geralmente “dar”. Vejam-se os exemplos abaixo:
(9) dar uma saída/
dar uma passada/ dar uma lida/ dar uma estudada/ dar uma enxugada
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