segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sou filho do cansaço - Poema


                                               




O meu cansaço

Sou filho do cansaço
Sinto-me cansado de tudo e de todos
É assim mesmo indefinível
Este cansaço de tudo que não tem nome
De todos que não identifico

Meu cansaço é deste tempo (deste passatempo)
Desta hora, deste instante inapreensível
Meu cansaço flerta com este desencanto
Que sinto como canto retumbante no corpo
E traz à alma convulsões de notas fúnebres
E deste desencanto o cansaço não se discerne

Meu cansaço é cansaço do excesso
E das rasuras de uma geração epidérmica
Que não cessa de arranhar a superfície do verbo
E se contenta com palavrear o mais do mesmo

Meu cansaço é do palavrório
Da lava de mediocridade que grassa
E deserda os espíritos notáveis
De suas forças instintivas

Meu cansaço é um cansaço de poesia
Que se tematiza para virar pretexto
De uma expressão desencantada
Meu desencanto é um canto cansado
Inaudível, ininteligível, de morte

Sinto-me cansado de mim e de meu passado
Do que fui, do que sou, do que não serei
Cansado deste sol, deste céu, destas estrelas
Que costumo diariamente ignorar
Porque tenho de viver a arrastar
Esse cansaço até a hora derradeira
Em que de mim nem desencanto sobrará
Senão um testemunho grosseiro
De um cansaço ósseo
De uma ossada vencida pelo cansaço.
E só dele nada mais restará
Se em cinzas convertida
E ao vento lançada.

(BAR)


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