sábado, 8 de novembro de 2014

Poemas - Os bastidores de uma prosa amorosa


                                                   

                                                                      


Desesperadamente


Amemos! Não sem cuidado
Pois o amor dentre as coisas débeis
É deveras a mais frágil

Amemos como as crianças
Sem saber por que ou para que
Amemos sem razão e com gratuidade
Amemos à proporção de nossa saudade
Daqueles que jamais tornaremos a ver

Amemos como se amanhã fôssemos morrer
Amemos como se morre todos os dias
Amemos porque uma vida sem amor
É coisa terrível de suportar
Amemos desesperadamente
O desejo de amar

(BAR)



               Os bastidores de uma prosa amorosa
                                

Deixa-me dizer-te uma coisa.  Não acredites em tudo que escrevo; tão-só afia-te no que não consigo escrever, no que permanece no silêncio que se ouve por detrás das minhas palavras, ou no interstício entre elas; pois somente assim compreenderás que sou desmesura quando amo e que, quando não amo, quase sempre, componho um canto suplicante de amor fremente. Se te esforçares por auscultar o logos do meu silêncio, saberás que sou amante das horas solitárias, das sutilezas, do inapreensível e que, sendo eu indizível que se diz insistentemente, costumo dar corpo a ilusões ordinárias.
Se pretendes aprender alguma coisa com minhas palavras, ou mesmo se esperas delas algum conforto ou alento, advirto-te de três coisas: que nada posso ensinar, que minhas palavras podem até desesperar, e que nada delas é possível esperar senão uma embriaguez de desalento.
Também é imprudente pretender contemplar nelas alguma beleza que não seja a que se deixa entrever, a que gosta de esconder-se. Se há uma beleza suscetível de ser contemplada, nunca estará ela a descoberto. Sugiro que a procures no lugar próprio do não-dito, ou nas regiões do inefável, ou ainda no domínio daquilo que, se dizendo, se põe ao abrigo do silêncio inquisidor.
Por fim, se esperas de mim um amor que te aguarda na ante-sala da prosa ou no anfiteatro dos versos, desiste, pois que o amor que te devoto é amor de bastidores, onde improvisamos nossa história de enlace, onde não ensaiamos nosso romance, que é cotidianamente reinventado. O amor que te consagro é um canto que se deixa sentir nos recônditos do silêncio das palavras que, a cada vez enunciadas, inaugura o espetáculo do indizível.
Assim, deve ser o amor nesse grande teatro que é a existência, onde o trágico e o cômico se harmonizam para compor uma sonata candente: é esta um desejo de silêncio amoroso imperturbável que dá corpo, gozo e fôlego ao indizível.




Canto de desmesura


Eu canto a desmesura e nela repouso
A minha voz que se veste do indizível
Meu canto é um canto lírico de desgosto
Por ver no amor a realização do impossível

Quando amo sou excesso num instante
Sou eu o indizível que se diz insistentemente
Quando não amo entoo um canto suplicante
Que se faz sentir de amor fremente

E saberás, quando ouvi-lo, que sou amante
Das horas solitárias, das noites tempestuosas
Que dou corpo aos acenos intangíveis

De uma alma desassossegada e desejante
Dos encontros de dor, das ternuras amorosas
Que se cantam em versos imperecíveis


(BAR)

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