Buscarei a concisão e me esforçarei por me fazer inteligível ao escrever
este texto; e mesmo receando não conseguir cumprir com o que enuncio aqui desde
logo, não posso deixar de considerar a importância do pensamento de Nietzsche
para a própria atividade de escrita deste texto. É com Nietzsche que começarei
a tratar do tema Noé: realidade ou mito?
Em tempo, vou justificar o tratamento que dispenso a este tema que, a
princípio, não o demandaria, já que não parece haver muita dúvida sobre o fato
de que Noé, a sua arca e o Dilúvio são elementos de uma história mítica da
Bíblia. No entanto, há quem pense justamente o contrário. Há quem acredite que
Noé existiu e que o relato do Dilúvio na Bíblia é um fato histórico. Sinto
decepcionar estas pessoas, que não são poucas - acredito eu. Mas voltemos a
Nietzsche.
Por que começar fazendo alusão ao pensamento de
Nietzsche num texto cujo tema é a crença na veracidade da história – de que
veremos se tratar mítica - do Dilúvio na Bíblia hebraica? Uma resposta possível
seria sugerir que Nietzsche engrossaria o coro de vozes que defendem a ideia de
que se trata, de fato, de um mito bíblico. No entanto, há, além disso, uma
razão mais geral para evocar aqui a figura de Nietzsche e essa razão diz
respeito ao fato de ele ter desenvolvido o que chamou de “filosofia do
martelo”, isto é, um modo de filosofar que consistia em destruir os ídolos
erigidos pelas gerações que o precederam e que sobreviviam em seu tempo.
Nietzsche se notabilizou, entre outras coisas, por declarar não só a morte de
Deus, mas a morte do sujeito (cuja concepção remonta ao racionalismo
cartesiano) e da objetividade. Ademais, coube a Nietzsche rejeitar qualquer
pretensão à verdade. É com o espírito nietzschiano, que fomentou uma critica
radical não só à filosofia de sua época, denunciada por ter-se afastado da
vida, por ter-se envolvido numa atmosfera de abstrações e deduções lógicas, mas
também às manifestações de vida e cultura da Grécia clássica, que remontam aos
trabalhos de Homero e, no século V a.C., a Sócrates, a quem se imputa o papel
de ter introduzido a racionalidade no pensamento grego, que me esforçarei por
mostrar como devemos ver as histórias bíblicas. Filósofo dos instintos contra a
soberania da razão, da qual somos herdeiros desde a modernidade (sec. XVII),
decisivamente influente no século das
Luzes (sec. XVIII), filósofo que conclamava seus leitores (os de sua época e os
posteriores) a educar-se contra o mundo, Nietzsche é um filósofo de peso, a
quem não podemos deixar de recorrer, quando se trata de denunciar as imposturas
da fé. Este foi Nietzsche, cuja contribuição para o trabalho crítico sobre toda
forma de ideologia e falsificação da consciência, evoco. Nietzsche atacou as
ilusões de seu tempo (que é o nosso tempo também), ilusões, não obstante, que
perduram. Nietzsche foi um grande filósofo, não há dúvida, um filósofo para
quem a essência da vida era a vontade de potência, conceito que, para ser bem compreendido,
deve ser tratado relativamente à oposição que estabeleceu entre forças ativas e
forças reativas. Não poderia, contudo, me ocupar dela aqui, sob pena de ir
muito longe e não cumprir com aquilo a que me propus inicialmente. Fiquemos,
contudo, com este Nietzsche para quem o mundo não é dotado de lógica em si;
para quem, aliás, a lógica do mundo está em nós; para quem o mundo é um caos.
Fiquemos com o Nietzsche para quem não há verdade, mas tão-só interpretações;
para quem a relação de causalidade é uma questão de hábito, uma “impressão do
espírito humano”. No prefácio de A Vontade de Potência (2011),
aprendemos, a esse respeito, que:
“A
relação causal, que para Descartes era uma das “verdades eternas” e que Leibniz
colocaria como “princípio, não necessitado de demonstração, da razão
suficiente”, simplesmente se baseia numa sucessão de fatos e implica, apenas,
uma convicção íntima, o que prova a convicção e não a “verdade”.”
(p.
51)
Nietzsche desenvolveu uma filosofia da
suspeita, que precedeu o aparecimento da psicanálise e que denunciou “as
elucubrações dessa ínfima parte de nós mesmos, que é o pensamento consciente”
(Ferry, 2010, p. 84).
Minha intenção era ocupar-me, nesta manhã, com
a crítica ao romantismo desenvolvida por Nietzsche; no entanto, cuidei mais
vantajoso adiar esse trabalho em proveito da exposição sobre por que não é
razoável acreditar que a história do Dilúvio, narrada no Antigo Testamento da
Bíblia cristã seja um fato histórico, ou seja, algo que realmente aconteceu.
Uma razão forte para isso é, certamente, a falta de evidências de tão grandioso
evento. Seria de esperar que ele deixasse marcas, registros geológicos, ou
algum vestígio arqueológico. Mas não há sequer sombra dele no planeta. Mas há
outras razões que precisam ser elucidadas e que, uma vez compreendidas, nos
ajudarão a evitar considerar como verdadeiras outras histórias bíblicas,
claramente lendárias ou míticas, como a de Jonas, que fora engolido por um
peixe e permaneceu vivo, por um tempo, na sua barriga. Que o espírito
nietzschiano inspire-nos na trajetória do esclarecimento que percorrerão estas
palavras, doravante.
Não foi surpresa ter lido sobre a crença de uma
pessoa, numa rede social de relacionamentos, em que Noé não era um personagem
mítico. E acredito que a credulidade tão manifesta se explique, pelo menos em
parte, nestas palavras tomadas a Freud, em O
Futuro de uma Ilusão (2001):
“(...)
as ideias religiosas são proposições, são enunciados acerca de fatos e
circunstâncias da realidade externa (ou interna) que comunicam algo que o
indivíduo não encontrou por conta própria, e que reivindicam que se creia
nelas. Visto que nos informam sobre aquilo que mais nos importa e mais nos
interessa na vida, elas gozam de alta consideração. Quem delas nada sabe é
deveras ignorante; quem as incorporou aos seus conhecimentos pode ser
considerado muito enriquecido.” (p. 73)
Vou-me deter um pouco neste trecho, a fim de
trazer à luz algumas inferências, que iluminarão as razões que parecem explicar
tão manifesto exemplo de credulidade. Se Freud estiver correto, as crenças
religiosas são tipos de proposições nas quais passamos a acreditar como
representativas de fatos, de realidades verdadeiras, por força de processos
educacionais marcados pela autoridade (seja por membros de nossa família, de
professores ou de nossa igreja). Para falar mais precisa e sucintamente, de
acordo com Freud, as crenças religiosas nos foram herdadas por força da
influência sobre nós de papéis autoritários representados por membros de nossa
cultura. Nós a recebemos sem qualquer preocupação em examiná-las criticamente.
Atribuímos a elas valor de verdade, sem fazer acordar em nós o espírito de
suspeita nietzschiano. Não nos preocupamos em questionar se há evidências que
as sustentem, se há boas razões para que a tratemos como crenças verdadeiras.
Elas apenas, segundo Freud, atribuiriam ao seu portador certo prestígio em sua
comunidade ou cultura. Ao contrário, quem delas nada sabe será tachado de
ignorante. E eu acrescentaria que quem a elas se opõem será considerado um
imoral, um herege ou um ímpio.
Com Freud, poderíamos dizer que, em nossa
cultura, quem possui crenças religiosas e as declara é proprietário de um
poderoso capital simbólico e, por isso mesmo, mobilizará a atenção, o apreço e
o prestígio dos demais proprietários ou simpatizantes. Os despossuídos, os não-proprietários, entre
os quais se incluem os agnósticos, os mais céticos (sem religião) e os ateus,
tenderão a ser depreciados, marginalizados e sua existência deplorada pelos que
se acreditam possuidores de um bem valioso: a “verdade revelada”.
É, então, compreensível que alguém acredite que
a narrativa do Dilúvio testemunhe um acontecimento histórico, se considerarmos
o fato de que sua crença lhe foi inculcada na cabeça por força de agentes doutrinários,
quer estejam oficialmente investidos desta função, quer não. Eu intento aqui
proporcionar a essa pessoa (ou a essas pessoas) o contato com a verdade sobre
essa história bíblica. Referirei o livro sobre o qual calcarei minhas
considerações, qual seja, Como ler a
Bíblia – História, profecia ou literatura (2007), de Steven L. McKenzie.
Espero, assim, possibilitar aos interessados tomar consciência da importância
desta obra para uma compreensão crítica da Bíblia e também despertar-lhes o
interesse pela sua leitura.
O excerto que apresentarei, na íntegra, a
seguir, foi colhido desta obra, muito embora nos informe Mckenzie que se trate
de uma publicação universitária assaz conhecida nos EUA. Consoante escreve o
autor, “ela mostra como os estudiosos bíblicos têm sido forçados pelas novas
evidências a restringir ou revisar suas posições sobre a ideia de que a Bíblia
relata eventos históricos reais” (p. 31). A fim de que se compreenda o texto
que será citado, é preciso dizer que o título do capítulo é Não aconteceu exatamente assim –
historiografia bíblica. É ao título que o autor do trecho fará referência
quando emprega o pronome “disso”, que figura logo no início do texto e que
destaco em negrito, para que o leitor não o perca de vista:
“Você
não ficaria sabendo disso indo a uma
igreja ou a uma sinagoga, ou lendo os artigos de final de ano nas revistas
semanais, mas nos últimos ciquenta anos os estudiosos têm se debatido com a
questão da credibilidade do Velho Testamento como documento histórico. A grande
questão da arqueologia ocidental tem sido saber quantas narrativas bíblicas
passaram da categoria de fatos aceitos para o reino misterioso da fábula. A
primeira narrativa a seguir esse caminho foi a história da Criação do mundo no
Gênesis. Que tipo de evidência poderia ser encontrada para apoiá-la? Ademais, o
Dilúvio (e Noé) é um evento catastrófico que deveria ter deixado marcas
geológicas claras, mas não existe nenhuma. Abraão, Isaac e Jacó protagonizaram
histórias seculares 2000.a.C, mas não deixaram nenhuma evidência de sua
presença. Se elas foram figuras históricas, temos de aceitar as palavras dos
escribas bíblicos, que escreveram séculos após a morte dos patriarcas. A
história da conquista de Canaã pelos israelitas soando trombetas e tudo o mais,
tem dado lugar a outra versão, mais mundana, de infiltração pacífica e de
revolta social entre os camponeses. Não existia nenhuma cidade murada em Jericó
quando Josué supostamente a destruiu”.
(p.
31)
Convém, portanto, esclarecer o seguinte: a
visão tradicional segundo a qual a Bíblia relata o que realmente aconteceu no
passado está errada. Ela tem sido revisada, com base na ideia de que é preciso
compreender de modo adequado o gênero bíblico a Escrita da História. Segundo
Mackenzie,
“Um
claro entendimento do gênero da historiografia na antiga Israel pode ajudar a
resolver a tensão entre o respeito pela Bíblia e as investigações históricas
dos estudiosos bíblicos e dos arqueólogos, permitindo que a fé não seja forçada
a ser cega ou ignorando as análises eruditas modernas”.
(p.
32)
A concepção de História para os antigos
israelitas é muito diferente da nossa. Eles não estavam preocupados tanto com o
relato fidedigno de fatos quanto estavam em prestar contas com o passado.
Pode-se, segundo Mackenzie, baseando-se na proposta de um estudioso chamado Van
Seters, propor cinco critérios para definir e identificar a Escrita da História
na antiga Israel. São eles:
1º) A Escrita da História se tratava de uma
forma de tradição específica e não resultava de uma acumulação acidental de
materiais históricos;
2º) A Escrita da História, porque visava a “prestar
contas do passado”, buscava recordar o significado dos eventos passados, sem
qualquer preocupação em relatar com acuro o que de fato aconteceu;
3º) A Escrita da História tinha como
preocupação o exame das causas (basicamente morais) das condições do presente;
4º) A Escrita da História tinha caráter
nacional e coletivo;
5º) A Escrita da História era literária e
pertencia a uma parte importante da tradição coletiva.
Sem pretender a exaustão, Mackenzie nos ensina
que a Escrita da História é uma espécie de etiologia e nos esclarece a respeito
desse termo o seguinte:
“(...)
Uma etiologia é uma história que explica a causa
ou origem de um determinado fenômeno – uma peça cultural ou um costume social,
uma circunstância biológica, até mesmo uma formação geológica. Uma etiologia não é, em sua natureza, uma
explicação científica. Ela não é
histórica, no sentido moderno de um evento que realmente aconteceu no
passado. Ela é, preferencialmente, uma história que “presta contas”, oferecendo
alguma explicação das condições e circunstâncias presentes, baseada em causas
passadas. A antiga Escritura da
História, que tenta “prestar contas” do passado era, na verdade, etiologia.”
(p. 37,
grifo meu)
Uma compreensão adequada, portanto, do gênero
da historiografia bíblica implica, em parte entender o papel que desempenha a
personagem Noé, após o evento (mítico) do Dilúvio. Lamec, pai de “Noé”, assim o
chamou por acreditar que ele traria “o alívio” às pessoas, após o trabalho
penoso. Noé foi a primeira pessoa a plantar uma videira e a fazer vinho,
extraindo alívio do solo, consoante a previsão de seu pai. No entanto, Noé se
excedeu e se tornou também o primeiro bêbado nu, que adormeceu em uma tenda.
Seu filho Cam vê o pai naquele estado vergonhoso e conta a seus dois irmãos Sem
e Jafé. Quando Noé desperta e descobre o que havia acontecido, amaldiçoa com a
escravidão o filho de Cam, chamado Canaã. Segundo Mackenzie, a história
acarreta muitas dificuldades de interpretação. Mas o que parece certo é que seu
autor tinha a intenção de justificar a subjugação dos cananeus pelos
israelitas. E a intenção se expressa por meio do recurso a eponímia. A eponímia
é um recurso de linguagem pelo qual um nome de pessoa real ou imaginário passa
a aplicar-se a um grupo, tribo ou nação. Esclarece-nos Mackenzie, nesse
tocante, com as palavras seguintes:
“Um
eponímico ancestral faz mais que gerar o nome de um grupo de pessoas, na
verdade, ele o representa e o chega a encarná-lo. Canaã é a eponímia ancestral
dos cananeus, o indivíduo que supostamente emprestou seu nome. Como existem
vários grupos de cananeus, é improvável que eles tenham descendido de uma única
pessoa. Mas isso é irrelevante porque Canaã representa o povo cananeu e o
importante para a história é mostrar a conquista da terra de Canaã e justificar
a subjugação de sues habitantes através da maldição que Noé impôs sobre o filho
de Cam, Canaã”.
(p.
45)
Há muitos detalhes que não considerarei por razões
de tempo e espaço. Mas espero tenha ficado clara a ideia de que a figura de Noé
serviu ao autor da história do Dilúvio para explicar como o mundo foi repovoado
depois do Dilúvio. Claro que esse repovoamento se deveu à participação dos três
filhos de Noé, mas foi ele Noé quem inventa a própria Bíblia, entendida como um
compêndio de relatos que buscam prestar contas do passado.
Muitas narrativas mitológicas incluem uma
história de Dilúvio. Por exemplo, Na
Austrália, os aborígenes acreditam que a arca de Noé parou ao sul do rio
Fitzroy. Alguns mitos de dilúvio indígenas fundiram-se com o mito bíblico, de
modo a torná-los inseparáveis. Em um mito da Grécia Antiga, Zeus enviou um
dilúvio para punir a arrogância dos primeiros seres humanos. Os huichols, grupo
indígena do México central, narram um dilúvio ao qual apenas um homem e uma
cadela sobreviveram.
Em 1872, George Smith, que aprendera a ler a escrita cuneiforme e a quem coube organizar
tábuas antigas da antiga Mesopotâmia, fez uma descoberta surpreendente: encontrou um fragmento de uma
história do Dilúvio, semelhante à história do mesmo acontecimento na Bíblia.
Não há dúvida, hoje, de que a história do Dilúvio na Bíblia foi inspirada no
mito da Arca dos mesopotâmicos. Mackenzie é bastante claro, ao nos ensinar
sobre este fato:
“Restou
pouca dúvida aos historiadores [após a descoberta de Geoge Smith] de que a
história bíblica foi emprestada da civilização mesopotâmica. Elas são, na
verdade, a mesma história: um homem recebe um aviso divino sobre um dilúvio
iminente e também instruções precisas para construir um barco para salvar sua
família e preservar a variedade de espécies animais. Sete dias mais tarde vem o
Dilúvio, chove, e as águas inundam tudo. Toda a vida que não está a bordo do
barco morre. Quando as águas abaixam, o barco vai dar em uma montanha. Eles
enviam pássaros para saber se era seguro desembarcar. Os ocupantes do barco
saem e oferecem sacrifícios. Os deuses/divindades ficam satisfeitas e prometem
não destruir o mundo com outro dilúvio”.
(p.
59)
Ensina-nos Mackenzie ainda que, tal como sucede
com trechos da “história primitiva” relatada dos capítulos 1 ao 11 do Gênesis,
a história do Dilúvio surgiu da tentativa empreendida pelos escritores bíblicos
de relatar as origens do mundo e das civilizações. E acrescenta: “assim como
outras partes da história primitiva do Gênesis 1-11, como a história da Torre
de Babel, a história bíblica do Dilúvio foi influenciada pela tradição
mesopotâmia”. (p. 59)
Em várias oportunidades em que me ocupei com a
discussão de questões relativas à religião, à Bíblia e à fé, fiz apelo a que os
meus leitores buscassem nos livros esclarecimentos sobre as bases
histórico-ideológicas de suas crenças religiosas. Malgrado o fato de eu supor
se tratar de um apelo mudo, o faço por acreditar que a verdade vale mais do que
qualquer promessa de conforto emocional. Mesmo que, por fraqueza, a busca pela
verdade possa levar muitos ao desespero, ela sempre será profícua, na medida em
que é ela mesma que nos incita a viver com relativa segurança num mundo
absurdo. Estou ciente de que é possível que alguns leitores ignotos não se
agradem do que leram aqui, mas isso não me surpreenderia, e Mackenzie descreve
bem as dificuldades com que os estudiosos bíblicos precisam lidar:
”As
pessoas que ouvem essas discussões no campo de estudo da Bíblia apresentam,
tipicamente, uma de duas possíveis reações. A primeira pode ser caracterizada
como “fé cega”. Essa postura é ilustrada por uma conversa que tive há alguns
anos com um homem que estava realizando um trabalho em minha casa. Ele tinha
estudo, era proprietário de um negócio, era honesto e um bom trabalhador. Ele
também era um cristão devoto. Quando descobriu que eu ensinava sobre a Bíblia e
tinha visitado o Oriente Médio, começou a me perguntar sobre as evidências
arqueológicas de certos eventos narrados nela. Ele estava especialmente
interessado no Êxodo do Egito, com Moisés e na conquista de Canaã, com Josué.
Contei a ele que a ausência de evidências arqueológicas tinha levado muitos
estudiosos bíblicos a questionar se aqueles eventos tinham realmente ocorrido,
pelo menos da maneira descrita na Bíblia. Ele respondeu que para ele não
interessavam as evidências arqueológicas. “Não interessa o que encontrem,
sempre acreditarei que aconteceu exatamente do jeito que a Bíblia disse que
aconteceu”.
(pp.31-32)
É difícil não ficar tentado a ver nesse caso
tão emblemático da fé cega um traço de personalidade neurótica. Um dos
mecanismos utilizados por uma pessoa neurótica é o da negação, mediante o qual,
a despeito das evidências, ela se nega a aceitar a verdade de uma situação,
mantendo-se agarrada à crença contrária. Ela não consegue suportar a ideia de
que a realidade possa provar serem falsas suas crenças, especialmente as mais
arraigadas. O homem do exemplo referido por Mackenzie se nega a aceitar as
evidências contrárias à sua crença na veracidade dos relatos bíblicos e admite
permanecer fiel ao que a Bíblia diz ser verdadeiro. No fundo, o que explica
essa negação é o medo de encarar o absurdo da existência. Se a Bíblia, que
tradicionalmente é vista como um livro inspirado por Deus, portador da promessa
da vida eterna, apresenta inverdades, então, segundo a lógica desse cristão
devoto, a vida não faz sentido e o desespero é inevitável. A fé, estrangulando
a razão, abandona o indivíduo ao colo da dependência emocional que, embora se
revele, à luz da crítica racional, bastante frágil e insuficiente para o
usufruto de uma vida boa, precisa ser conservada para manter silenciado o medo
do absurdo. É melhor a mentira da fé do que o enfrentamento filosófico do
absurdo de nossa existência – pensando assim dorme o devoto seu sono cristão.
Caro Bruno, você precisa muiito de Jesus, que Deus te perdoe por ser ateu. O Amor de Jesus e ilógico, incondicional ... E a biblia e uma carta de amor Real e Histórica sim deixada pelo Criador do Universo. O seu dia de encontro com Deus chegara e conheceras a Verdade e a Verdade o libertara desse racionalismo exagerado que busca se explicar quando se há muitos milagres inexplicáveis, a sua vida e um milagre, se Deus nao for misericordioso contigo e só Ele te tirar o ar e quero ver qual o cientista, filosofo, historiador que ira te socorrer. Deus te abençoe e guarde.
ResponderExcluir"Carta de amor real"? A Bíblia é sexista, racista, homofóbica e compactua com a escravidão, colega anônimo. A estorinha de paz e amor lá é bem parcial, viu? vc deveria ler o livro que vc tanto ama para depois comentar.
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